O preço médio das exportações brasileiras alcançou, em setembro, um nível semelhante ao praticado antes da crise. O preço médio dos embarques totais ficou, em setembro, apenas 0,5% abaixo do praticado no mesmo mês de 2008. No mesmo mês do ano passado, a redução era de 19,1%, na comparação com setembro de 2008. Os básicos puxam a recuperação na cotação em dólar, com alta de 4,4%, na mesma base de comparação, mas os manufaturados também estão bem próximos do patamar pré-crise, com preços médios de exportação apenas 2,1% mais baixos. Em setembro de 2009, o preço médios dos manufaturados embarcados estava 9,8% abaixo do mesmo mês de 2008.
Os índices de preços de setembro não refletem uma alta isolada, eles são resultado de um movimento consolidado de alta dos últimos meses nos preços dos embarques. Os preços médios do total exportado pelo país no terceiro trimestre deste ano apresentam queda de 3,3% em relação ao mesmo período de 2008. No ano passado, a queda, no mesmo período, era de 20,7%. Na mesma comparação, o preço médio dos embarques de básicos estão 2,1% menores e os dos manufaturados, 2,9%. Em 2009, as reduções foram, respectivamente, de 27,6% e de 8,4%.
O melhor desempenho dos básicos mostra claramente que são as commodities agrícolas e metálicas que puxam esse movimento, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). "Embora ainda não tenha voltado ao patamar anterior ao da crise, a soja recuperou-se bastante em termos de preço", diz Castro. "Há uma explosão de preços em produtos como algodão, minério de ferro e trigo, por exemplo."
A alta das commodities leva também à recomposição de preços dos manufaturados, que sempre são vinculados direta ou indiretamente à evolução de preços de produtos básicos, diz o economista Júlio Callegari, do J.P. Morgan. Isso, explica, acontece tanto com produtos de menor valor agregado, como suco de laranja e açúcar refinado, por exemplo, quanto com manufaturados mais industrializados. Para Castro, além da ligação com os básicos, a reação do preço dos manufaturados também é resultado da tentativa dos exportadores de passar para o preço ao menos uma parte da perda com a a valorização do real frente ao dólar. "É também uma tentativa de compensar volumes menores de vendas ao exterior."
"As exportações de manufaturados estão relacionadas à lucratividade", concorda Callegari. Ele lembra que o mercado interno está fortemente aquecido e, com um câmbio desfavorável, as indústrias tendem a manter somente exportações que forneçam o mínimo de rentabilidade. O resultado natural disso, explica, é a redução de volume de exportação e a manutenção de embarques que estejam num patamar de preços mais elevados.
De julho a setembro deste ano, o volume das exportações totais do Brasil teve queda de 4,6% na comparação com o terceiro trimestre de 2008. Essa redução foi influenciada pela queda, no mesmo período, de 17,2% no quantum de manufaturados embarcados. A exportação dos básicos teve comportamento diverso, com elevação de 9,9% em termos de volume.
A alta dos preços médios das exportações propiciou uma melhora no índice de rentabilidade dos embarques. O índice teve queda de 1,4% em setembro na comparação com o mês anterior, em razão da valorização da taxa de câmbio e do aumento do índice de custo das exportações. Na comparação com o mês de setembro do ano passado, porém, há um ganho de 6,9%.
Callegari acredita que um dos efeitos mais importantes da recomposição de preços nas exportações é a elevação de termos de troca. "Com a recuperação dos preços das exportações, e uma contenção dos preços de importações, estamos com termos de troca em nível historicamente alto", diz o economista. "Isso significa um resultado comercialmente melhor, com mais renda líquida para o país como um todo."
Welber Barral, secretário de Comércio Exterior, acredita que a maior demanda por exportados no próximo ano deve ajudar a manter a recuperação nos preços dos embarques. Para ele, o crescimento médio de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países asiáticos deve garantir a demanda por commodities agrícolas e alimentos processados. Em relação aos manufaturados, diz, a expectativa é que o Brasil consiga manter as exportações para a América Latina. "Disso depende a manutenção da competitividade brasileira e a questão do câmbio."
O secretário acredita que as exportações de manufaturados também podem ser alavancadas pelo crescimento da Europa e dos Estados Unidos. "Mesmo que haja crescimento de 1,5% ou 2%, são mercados grandes e que fazem diferença para as exportações brasileiras", observa Barral.
Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, acredita que a tendência de alta de preços nas exportações brasileiras deve ser mantida até o fim de 2010, o que deve ajudar o Brasil na obtenção de superávit comercial melhor. Para ele, porém, o mesmo efeito não deverá repetir-se no ano que vem ou em 2012.
"Temos uma valorização de commodities de caráter puramente especulativo e não sabemos quanto tempo dura essa bolha", diz Silveira. Ele explica que a alta de preços das commodities acontece em função da grande aposta sobre esses produtos, como ativos financeiros que poderão ter valorização nos mercados futuros. "Há uma imensa liquidez no mercado e esses recursos estão sendo intensamente direcionados para as commodities."
Para Silveira, a alta das commodities tem sustentado a elevação de preços dos embarques brasileiros, mas em algum momento ela será interrompida. "Não sabemos nem como e nem quando, mas isso acontecerá e não há como analisar o impacto que isso poderá ter para o Brasil."Fonte: Valor Econômico
Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe | De São Paulo
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