As cotações dos principais grãos negociados no mercado externo confirmaram as expectativas e fecharam julho em patamares inferiores aos de junho, pressionados pelo bom desenvolvimento das lavouras no Hemisfério Norte nesta safra 2014/15, cuja colheita começará a ganhar fôlego no fim de agosto.
Esse cenário tem se refletido nos quadros de oferta e demanda dos principais órgãos internacionais e tende a perdurar nos próximos meses. Ontem, o Conselho Internacional de Grãos (IGC), com sede em Londres, elevou suas projeções para as colheitas globais de milho, soja e trigo e confirmou a curva de aumento dos estoques dos dois primeiros.
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O IGC passou a calcular a produção mundial de milho em 2014/15 em 969 milhões de toneladas, a de soja em 304 milhões e a de trigo em 702 milhões. Os volumes de milho e trigo ainda são um pouco inferiores aos de 2013/14, quando os níveis foram recorde. Porém, em relação ao último relatório o IGC elevou suas estimativas para os estoques de soja e milho, e para o trigo houve apenas uma leve correção para baixo. Mas, no total, são quase 30 milhões de toneladas a mais que em 2013/14.
Esse horizonte tem tirado suporte dos preços desses grãos nos últimos meses e essa pressão tende a perdurar. Segundo cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega negociados na bolsa de Chicago, a soja recuou 15,1% em julho na comparação com junho, o milho caiu 13,17% e o trigo, 7,7%.
Essas quedas foram maximizadas por movimentos especulativos derivados dos fundamentos mais "baixistas". Relatório divulgado no dia 25 pela Comissão de Negociações de Futuros de Commodities (CFTC), revelou que, entre os grãos, o pessimismo é maior com a soja.
Segundo a CFTC, os gestores de recursos ("managed money") encerraram a semana de 22 de julho com posição líquida de venda de 18.543 contratos (entre futuros e opções) de soja em Chicago, mais que o triplo da semana anterior, quando a oleaginosa passou pela primeira vez no ano a registrar saldo vendido.
A redução da crença dos fundos na elevação da soja começou no início de março, quando a commodity detinha uma posição líquida de compra de mais de 200 mil contratos - pico das apostas altistas do ano, impulsionado pelos baixos estoques nos EUA e pela demanda global aquecida, liderada pela China.
Nos últimos meses, contudo, o clima favorável ao desenvolvimento das lavouras americanas plantadas na safra 2014/15 passou a pesar decisivamente sobre os preços, em um movimento semelhante ao observado no mercado de milho.
De acordo com os dados da CFTC, nesse contexto o saldo líquido de compra do cereal recuou 24,4% na semana até 22 de julho, para 70.408 contratos comprados em Chicago.
No caso do trigo, o avanço da colheita da safra de inverno nos EUA e no Leste Europeu também desanima os investidores, mesmo em meio às tensões entre Rússia e Ucrânia, dois importantes fornecedores mundiais. Segundo a CFTC, o saldo líquido de venda do trigo brando cresceu 17,25% na semana até 22 de julho, para 54.519 contratos. Já a posição líquida comprada do trigo duro caiu 1,55%, a 13.407 contratos.
Entre as principais "soft commodities" negociadas na bolsa de Nova York, o algodão foi o maior alvo dos fundos nos últimos dias. Os especuladores reduziram em 52,5% as apostas na alta da fibra na semana até o dia 22, para um saldo líquido de 3.618 contratos comprados.
Permeado pela perspectiva de elevação nos estoques globais da pluma e por preocupações em relação à demanda, o cenário levou os contratos de segunda posição de entrega do algodão a encerrar julho com valor médio 11,19% menor que o de junho em Nova York.
Outra forte queda nova-iorquina no mês passado (6,39%) foi a do suco de laranja, mais uma vez determinada pelo menor consumo no grande varejo dos EUA, de acordo com pesquisa da Nielsen. O recuo aconteceu apesar da tendência de redução da safra de laranja na Flórida e de queda dos estoques de suco brasileiro.
Também a cotação média dos futuros de segunda posição de entrega do café caiu em Nova York em julho. Segundo o Valor Data, a baixa em relação a junho foi marginal, de 0,06%. Ainda assim, foi o terceiro recuo mensal consecutivo. Mas, de acordo com a CFTC, os fundos especulativos ampliaram em 5,4% as apostas na alta da commodity na semana até 22 de julho, para um saldo líquido de 32.790 contratos comprados.
A expectativa de quebra de safra no Brasil, em função de adversidades climáticas, continua a oferecer alguma sustentação à commodity, ainda que bem menos que em março e em abril, auge dos reflexos adversos da seca no Centro-Sul do país.
A mesma estiagem continuou a sustentar os preços do açúcar em Nova York. Em média, a segunda posição fechou o mês com alta de 3,32% ante junho. Mas a posição líquida de compra do açúcar demerara em Nova York caiu na semana até o dia 22: 36,3%, 44.588 contratos.
No caso do cacau, finalmente, o aquecimento da demanda no Hemisfério Norte - que começa a se preparar para o aumento de consumo de chocolate no fim do ano - prevaleceu sobre o bom andamento das safras do oeste da África e a cotação média dos contratos de segunda posição de entrega fechou julho 0,78% acima de junho.
Fonte:Valor Econômico\Mariana Caetano, Fernanda Pressinott, Camila Souza Ramos e Fernando Lopes | De São Paulo