Pressionada pela crise sem precedente na demanda brasileira de aço, que se agravou ao longo deste ano, e por pesados prejuízos, até na linha do lucro bruto do balanço, a Usiminas anunciou ontem medidas para a empresa sobreviver nos próximos anos. A companhia decidiu fechar a unidade de Cubatão, antiga Cosipa, em São Paulo, o que vai exigir um corte de pessoal da ordem de 4 mil pessoas, entre funcionários próprios e indiretos, ligados a fornecedores.
Foi a decisão mais difícil tomada por Rômel de Souza, com 40 anos de carreira na Usiminas e presidente da siderúrgica há 13 meses. As medidas foram aprovadas por unanimidade pela diretoria executiva na quinta-feira e informadas no mesmo dia aos membros do conselho administrativo.
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Na usina paulista, que vai parar de fazer aço, de fato, a partir de janeiro - até lá os equipamentos serão gradualmente desligados -, vão ficar operando apenas as unidades de laminação de bobinas a quente e a frio. Outro laminador, de chapas grossas, já foi paralisado recentemente. "Começamos a tomar ações ainda no inicio do ano, reduzindo a produção ao limite mínimo dos equipamentos", disse Souza ao Valor. O encolhimento do mercado começou a ganhar força em julho de 2014.
Como a situação da demanda continuou se deteriorando, em maio a empresa tomou a decisão de paralisar dois altos-fornos a partir de junho - um em Cubatão e outro em Ipatinga (MG). Ao mesmo tempo, reduziu a jornada da força de trabalho das áreas administrativas de cinco para quatro dias. No terceiro trimestre, relatou o executivo, "vimos que o mercado local se agravou ainda mais e que a produção voltada para exportação tinha ganho apenas marginal". Quando tinha.
Ele justifica que os preços do produto ficaram deprimidos no mercado global com a competição feroz de aço chinês - anualizadas, ao ritmo do último mês, os embarques da China já chegam a 130 milhões de toneladas, disse. Além disso, mercados de vários países, como EUA e México, foram fechados com ações antidumping contra aço importado, inclusive material brasileiro.
O resultado disso está expresso no balanço divulgado ontem pela companhia: queda de 21% na produção de aço e 16% nas vendas. A deterioração foi tão forte que os números vieram negativos na linha de resultado bruto. A receita líquida caiu 16,6% no período, para R$ 2,42 bilhões, enquanto custos de vendas recuaram apenas 9%. O prejuízo bruto foi de R$ 109,7 milhões, ante lucro de R$ 124,9 milhões um ano atrás. Na mesma base de comparação, a última linha do balanço registrou perda de R$ 1,03 bilhão, frente ao ganho de só R$ 26 milhões um ano antes.
"O caminho que restou à diretoria foi ajustar o tamanho da Usiminas ao mercado de aço existente", afirmou Souza. A empresa informou que a desativação da chamada produção quente da usina paulista - que inclui altos fornos e aciaria - será temporária. O executivo explicou ao Valor que esse tempo poderá ser três a quatro anos. "Não se consegue ver qualquer sinal forte de reação do mercado nesse período".
Atualmente, Cubatão tem quase 5 mil funcionários próprios, de um total de 17 mil em todas as operações e negócios da empresa. Hoje, após conversar ontem à tarde com o pessoal da sede, em Belo Horizonte, Souza vai se reunir com os empregados da unidade paulista para explicar a decisão tomada pela siderúrgica.
Com a paralisação de Cubatão, a Usiminas passa a ser, em capacidade de aço bruto, pouco mais da metade do que pode fabricar. "Será uma Usiminas adequada ao mercado, mais forte e mais ágil e competitiva. Não adianta ser grande para um mercado pequeno", justifica o executivo mineiro.
No local, a empresa vai laminar aço apenas para atender mercados específicos. Os materiais mais nobres continuarão saindo de Ipatinga. No setor, há quem aposte que essas áreas, devido ao obsoletismo e custo alto, não serão nunca mais reativadas.
Em outra frente, o executivo e seus diretores terão de agir para debelar a elevada alavancagem financeira da empresa, cuja relação entre dívida líquida e Ebitda quase dobrou - passou de 3,8 para 6,8 vezes do segundo para o terceiro trimestre. As medidas mais urgentes são: negociação dos covenants (cláusulas de contratos de dívida) com os credores e refinanciamentos de vencimentos, com quatro a seis grandes bancos, nos próximos anos. Somente em 2016, a empresa tem pagamentos de R$ 1,7 bilhão.
Souza disse que a Usiminas está também reduzindo o capital de giro - do segundo para o terceiro trimestre foram R$ 300 milhões, para R$ 2,4 bilhões -, cortando o investimento (capex), de R$ 1 bilhão para R$ 750 milhões neste ano e para R$ 350 milhões em 2016, e baixando despesas administrativas, gerais e com terceiros, redução de jornada e layoffs. E que vai ainda buscar oportunidades de vender ativos e imóveis.
Há mais de um ano, a siderúrgica é refém de uma briga societária de seus acionistas controladores: Nippon Steel e Ternium - Techint.
Fonte:Valor Econômico/Por Ivo Ribeiro e Renato Rostás | De São Paulo