O tombo na indústria automotiva interrompeu a sequência de cinco altas mensais da produção industrial, que deve ter recuado com força no período, avaliam economistas. A lenta recuperação do setor manufatureiro, no entanto, não foi colocada em xeque por analistas, que veem a expectativa de desempenho negativo em agosto como reflexo de fatores pontuais.
Segundo a estimativa média de 25 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, a produção caiu 2,9% entre julho e agosto, feitos os ajustes sazonais, após alta de 0,1% no dado anterior. As projeções para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física, a ser divulgada hoje pelo IBGE, estão concentradas no campo negativo e vão de queda de 3,7% até aumento de 0,5%.
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Natalia Cotarelli, do banco ABC Brasil, afirma que a retração de 2,5% esperada para a atividade industrial em agosto não indica reversão da trajetória mais positiva, que está em processo de, ao menos, estabilização. "É uma queda pontual, não uma tendência", diz a economista, para quem o desempenho ruim do segmento automotivo foi determinante na queda.
Nos cálculos dessazonalizados pelo ABC com base em números da Anfavea (entidade que reúne as montadoras), a produção de automóveis teve retração na passagem mensal, de 13,4%. A atividade do setor, segundo Natalia, foi prejudicada pela paralisação de mais de um mês na unidade da Volkswagen em São Bernardo.
A maior fábrica da montadora no país teve problemas com fornecedores de peças, que suspenderam entregas. O desabastecimento, segundo a empresa, fez com que 100 mil veículos deixassem de ser produzidos. Os funcionários da unidade voltaram ao trabalho somente na segunda quinzena de setembro. Mesmo sem problemas temporários como este, o setor automotivo deve demorar mais para reagir, diz Natalia, o que pode provocar novos recuos na produção.
Para a equipe econômica do Santander, a contração de 3,3% projetada para a produção em agosto reforça o prognóstico de que o PIB industrial vai voltar ao terreno negativo no terceiro trimestre, após alta de 0,3% entre abril e junho. A retração no trimestre seguinte, diz relatório do banco, deve contribuir para outra redução do PIB total.
Por outro lado, o Santander afirma que o cenário de crescimento "consistente" da indústria mais à frente não foi alterado. Os economistas do banco citam vários fatores que embasam essa perspectiva - melhora "intensa" da confiança, fim do processo de ajuste de estoques, aumento das exportações e a expectativa de longo período de afrouxamento monetário.
"A economia deverá retomar o crescimento no último trimestre, especialmente devido ao cenário mais favorável para os investimentos, pelo lado da demanda, e para o setor industrial, do lado da oferta", preveem os analistas do banco.
Os economistas da Rosenberg Associados apontam que a queda prevista para a indústria em agosto, de 3,4%, deve fazer com que o setor devolva as altas registradas nos últimos cinco meses, voltando ao mínimo da série do período recente. Na visão da consultoria, o recuo do setor no mês - período em que as fábricas estão em preparação para o Natal - sinaliza que as expectativas de vendas em relação à data não são muito boas.
Fonte: Valor