O Instituto Aço Brasil (IABr), entidade que representa a indústria siderúrgica nacional, revisou para baixo estimativas até então positivas sobre vendas e produção do setor neste ano, traçou um cenário de ociosidade acima da média nas usinas produtoras de aço e projetou um ambiente de dificuldades até, pelo menos, o primeiro semestre de 2015.
A associação trabalha agora com a tendência de queda de 2,5% na produção de aço bruto em 2014, após o desempenho do setor ficar aquém das expectativas nos sete primeiros meses do ano. Há maior otimismo com as exportações, cuja expectativa de crescimento passou de 2,3% para 3,9%, em virtude da recente reativação de um alto-forno da ArcelorMittal no Espírito Santo para fornecimento a mercados no exterior.
PUBLICIDADE
Mas o consumo de produtos siderúrgicos por brasileiros, nos cálculos da associação, deve ficar 4,1% abaixo de 2013, o que significa um volume estimado em 25,3 milhões de toneladas. Desse total, as siderúrgicas brasileiras esperam vender 21,7 milhões de toneladas, 4,9% a menos do que em 2013.
Até ontem, o IABr tinha expectativas positivas tanto para a produção como para o consumo de aço no Brasil. As estimativas anteriores apontavam para alta de 5,2% no volume produzido e avanço de 3% na demanda doméstica. Com isso, as usinas previam fechar 2014 com crescimento de 4,1% nas vendas internas.
A realidade, porém, foi de resultados bem inferiores ao que se esperava. Entre janeiro e julho, a produção de aço bruto cedeu quase 1%, na esteira de uma queda de 3,1% do consumo doméstico e de 1,6% nas exportações.
O desempenho negativo é atribuído à menor atividade industrial, sobretudo nos três setores que consomem mais de 80% das vendas de aço: construção civil, montadoras de veículos e fabricantes de bens de capital. Levantamento do IABr mostra que a ociosidade nas usinas siderúrgicas já passa de 31% neste ano, no nível mais crítico desde a crise financeira internacional de 2008.
"Nesse momento, todo mundo adota a mesma receita, que é reduzir custos, diminuir estoques e só produzir o que vende", disse, ontem, Benjamin Baptista, presidente do conselho diretor do IABr, em entrevista coletiva a jornalistas.
O executivo prevê uma reação da atividade industrial em relação ao pífio resultado dos últimos dois meses, quando a Copa do Mundo afetou a produção em diversos setores. "Não acho que teremos cenário pior do que junho e julho", disse Baptista.
Essa retomada, contudo, será insuficiente para reverter a retração da indústria siderúrgica em 2014. Além disso, Baptista avalia que 2015, principalmente no primeiro semestre, será "um ano complicado para qualquer governo" porque a economia estará sob maior pressão de reajustes - por enquanto represados - nos preços de energia, combustível e transporte público. "Teremos pressão inflacionária e o governo terá que reagir com seus instrumentos", afirmou o executivo.
Por outro lado, o dirigente disse ver uma tendência de desvalorização do real que deve ajudar a conter o avanço dos produtos siderúrgicos importados. Em volume, as importações de aço crescem quase 16% neste ano.
Pressionado por jornalistas a falar sobre o tema, o executivo, que também é presidente da ArcelorMittal no país, disse não ver motivos para mudanças no preço do aço nesse momento.
Fonte: Valor Econômico\Eduardo Laguna | De São Paulo