Sem acesso a financiamento no mercado internacional, nos últimos tempos a Argentina apoiou-se no comércio exterior para acumular divisas. Mas essa fonte começa a se esgotar. O saldo positivo da balança comercial no primeiro semestre deste ano - US$ 3,6 bilhões - é 28,5% menor do que o do mesmo período do ano passado e praticamente a metade do superávit registrado nos seis primeiros meses de 2012.
O governo deu grande destaque quando anunciou o resultado de junho, quando o superávit de US$ 1,379 bilhão representou um crescimento de 13% em relação ao mesmo mês do ano passado. Evitou, entretanto, falar sobre a queda nas exportações e das importações, que recuaram 3% e 6%, respectivamente. Isso fez com que o intercâmbio comercial da argentino com o mundo encolhesse 4%.
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Os dados do semestre mostram uma queda de 10% no total obtido com vendas externas (US$ 36,7 bilhões). Ao mesmo tempo, o valor gasto com a compra de produtos estrangeiros, encolheu 8%, para um total de US$ 26,7 bilhões.
Esse quadro mostra os efeitos de uma política que acabou por travar o comércio exterior. No lado das exportações, o governo impõe um rígido controle à saída de grãos, uma das principais fontes de divisas do país. Ao mesmo tempo, a indústria perdeu competitividade em razão da pressão dos custos. Para piorar, a balança foi afetada também pela retração da demanda no Brasil.
"As exportações cedem a cada ano, afetadas pelo aumento de custos, atraso nas devoluções de impostos e a defasagem cambial", destaca Maurício Claveri, coordenador da área de comércio exterior da consultoria Abeceb. A situação tende a piorar em 2015, segundo os analistas, em razão da queda nos preços da soja.
No lado das importações, o governo mantém rigor nas restrições. Isso, dizem os dirigentes das empresas, acaba por prejudicar as exportações, já que o setor industrial ainda é altamente dependente de insumos comprados no exterior para a produção.
Diante do atual quadro recessivo, a tendência é o ritmo das importações diminuir ainda mais. A retração na demanda levou a indústria automobilística, uma das maiores importadoras de componentes, a reduzir a produção de veículos à metade dos volumes do ano passado. Sem a perspectiva de investimentos no curto prazo, diminui também a demanda por bens de capital.
Além da conjuntura recessiva no próprio país, pesa também a queda de demanda no país vizinho. Segundo cálculos da Abeceb a partir de informações obtidas no Brasil, o volume de comércio entre os dois países caiu 21,2% nos primeiros sete meses do ano.
Muitos analistas que recorrem a dados oficiais brasileiros para comparações sobre o comércio exterior notam muitas diferenças. "Olhamos linha por linha, por setores, e quase sempre nos deparamos com resultados mais negativos do que os dados oficiais da Argentina", afirma o economista Eduardo Yeyati, que dirige a consultoria Elypsis. As diferenças com os números obtidos no Brasil são as mais significativas. Somente no primeiro trimestre, a Elypsis encontrou uma diferença de quase US$ 800 milhões nos números relativos às exportações da Argentina para o Brasil.
Fonte:Valor Econômico\Marli Olmos | De Brasília