A economia da zona do euro deve ter recuperação modesta neste ano, mas a hesitante confiança de empresários e consumidores indica que não se deve esperar aceleração do crescimento nos próximos dois anos nos 19 países da união monetária, apontam analistas.
Para o Brasil, os indicadores são importantes. A União Europeia como um todo (28 países) é o destino de quase 20% das exportações brasileiras. No primeiro semestre, as exportações do Brasil para o mercado europeu declinaram 18,7% e suas importações procedentes dos países europeus caíram 18%.
Com a persistente fragilidade na Europa e a gradual desaceleração da economia brasileira, o comércio bilateral sofreu retração de US$ 10,7 bilhões entre 2011-14, passando de US$ 99,3 bilhões para US$ 88,6 bilhões no período. O Brasil, que chegou a ter superavit de US$ 6,7 bilhões em 2011, nos primeiros seis meses deste ano acumula déficit de US$ 2,3 bilhões.
A tumultuada crise da Grécia não descarrilhou a recuperação na união monetária europeia. Mas a queda em julho do Índice de Gerente de Compras (PMI) composto da zona do euro (índice antecedente da atividade), passando de 54.2 para 53.7, sugere expansão mais lenta no segundo semestre. O crescimento tem vindo de maior consumo. Mas analistas concordam que o efeito positivo da queda do preço do petróleo sobre o crescimento da renda real, assim como a desvalorização do euro, tendem a ter impacto menor na economia - a menos que continuem caindo.
Para o Banco Central Europeu, a recuperação está em linha com o esperado. O BCE nota que a capacidade excedente e o volume e condições de crédito melhoraram. Mas que a demanda interna, mesmo apoiada por juro extremamente baixo e custo menor do petróleo, continua limitada pela necessidade de vários setores continuarem seu desendividamento.
Além disso, apesar da atenuação na austeridade fiscal e de aumento de salários, como na Alemanha, o desemprego na zona do euro ainda é muito elevado, o que freia um consumo maior.
Jennifer McKewon, de Capital Economics, projeta crescimento da zona do euro não superior a 1% neste ano. Já analistas do Barclays, de Londres, apostam em taxa próxima de 1,4% neste ano, podendo se estabilizar nesse nível.
O Barclays diz que, se os dados de produção industrial na Alemanha decepcionam um pouco, de outro lado há melhoras na França, Itália e Espanha, especialmente no setor de serviços, levando a maior convergência no desempenho economico dos principais países.
A expectativa mais otimista de alguns analistas é de crescimento de 1,5% na Alemanha, algo em torno de 1% na França e de 0,8% na Itália. Para a Espanha, a projeção é de expansão econômica de 3,3%, ilustrando como as reformas estão dando resultados e como a competitividade melhorou.
Nos próximos meses haverá eleições em Portugal, Espanha e Irlanda, que passaram por dolorosos ajustes. Para Deutsche Bank, no médio prazo "a única arma efetiva contra os partidos populistas" será mesmo o crescimento.
No cenário atual, alguns analistas creem que o BCE continuará seu programa de compra bilionária de ativos, jogando mais liquidez na economia, que pode ir além do prazo de setembro de 2016.
Fonte: Valor Econômico/Assis Moreira | De Genebra
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