A reedição de safra agrícola recorde é a principal aposta da indústria metalmecânica de Caxias do Sul para manter, em 2014, o processo de recuperação iniciado neste ano após as perdas expressivas registradas em 2012. Na avaliação de Getúlio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), é possível zerar eventuais perdas neste ano e projetar crescimento real de 5% a 6%. “A sinalização é positiva, pois várias empresas já estão com carteiras plenas até o final do primeiro semestre de 2014, o que influencia toda a cadeia de fornecedores. Apenas condições climáticas muito adversas que prejudiquem a safra podem mudar este cenário”, analisa.
Em 2013, a alta será de 12% sobre o ano anterior, com destaque para o incremento acima de 15% na área automotiva. Esse segmento foi prejudicado no último exercício pela introdução da motorização Euro-5 na linha de veículos comerciais, que inibiu especialmente as compras de caminhões. Já a atividade eletroeletrônica, fortemente prejudicada pelas importações de produtos asiáticos, encerrará o ano com redução de 10%.
Na avaliação do presidente do Simecs, o setor de veículos rebocados pesados, popularmente conhecidos como carretas, será o mais favorecido, juntamente com o de caminhões, pois também funcionam como silos ambulantes. Fonseca observa que, pela falta de silos estacionários no campo, os implementos acabam desempenhando função de estoque da produção. No segmento de ônibus, outra atividade de peso na economia de Caxias do Sul, as perspectivas são menos otimistas em função das indefinições em relação às políticas públicas de transporte coletivo urbano e rodoviário. “Esse mercado deve se sustentar principalmente por ação do governo federal em torno do programa Caminho da Escola, que está em fase final de ajustes para as compras do ano que vem”, acentua.
Mesmo estimando crescimento nos níveis produtivos, o presidente do Simecs alerta para a possibilidade de a atividade reduzir ainda mais os quadros funcionais. A medida tem o objetivo de trazer maior competitividade para os produtos, além de melhorar também as vendas externas, que em 2013 cairão em torno de 10%. Fonseca afirma que o setor fechará cerca de 2 mil vagas neste ano. Ele reconhece o eventual problema social, mas defende a medida como forma de as empresas se tornarem mais produtivas por meio de investimentos em automação. “É preciso fazer mais com menos. O custo unitário do trabalho é muito alto na cidade. A massa salarial cresce, e a produtividade diminui”, observa.
Porém, existem outros ingredientes que podem interferir no resultado final das empresas. Dentre eles, o peso dos insumos, em especial do aço, o mais representativo na formação dos custos. O Simecs, juntamente com outras entidades, quer a redução das alíquotas de importação do aço para fazer frente ao aumento dos preços praticados pelas siderúrgicas nacionais. “No meio do ano, o governo elevou as alíquotas para proteger as usinas brasileiras, na expectativa de que não elevariam os preços. Mas o reajuste veio, e em índices muito acima da inflação”, explica Fonseca. Para a virada do ano, já existem informações de altas de 20% a 25%.
Quanto à política pública de financiamento para as compras de equipamentos, Fonseca entende que as mudanças não deverão trazer prejuízos. O PSI/Finame, sistema que alavancou as vendas em 2013, terá juros de 6%, diante dos 3,5% atuais. A grande dúvida é quanto à disponibilidade de dinheiro. “Neste final de ano, o setor enfrenta o atraso na liberação dos recursos para efetivar a entrega dos produtos. Os pedidos estão feitos, os equipamentos prontos para a entrega, mas falta a garantia do recebimento do valor. É uma situação incômoda”, diz.
Efeitos em cadeia
A expectativa de manutenção dos preços das commodities agrícolas em patamares elevados, consequência da quebra da safra de grãos em alguns países produtores, como os Estados Unidos, e do incremento da demanda mundial por alimentos, deverá impulsionar as vendas internas de tratores em 10% no próximo ano. Esse segmento será, no entendimento de Hugo Zattera, diretor-presidente da Agrale, o grande impulsionador do mercado doméstico, com reflexos na área de caminhões e de implementos rodoviários. O objetivo da montadora é crescer nas mesmas bases dos volumes nacionais, porém, ações mais agressivas de vendas podem elevar a participação. Na área de veículos comerciais, Zattera aposta em alta não superior a 6%, bem como a indústria nacional de implementos rodoviários, que deverá fechar o ano com alta de 5%.
Norberto Fabris, diretor corporativo de implementos e veículos das Empresas Randon, reforça a importância da manutenção do crédito PSI/Finame em função de que 60% a 70% das vendas de veículos rebocados deste ano serão por essa modalidade. No segmento de veículos especiais fora de estrada, Fabris acredita que o governo não irá adquirir o mesmo volume de máquinas dos últimos anos. Como decorrência, vislumbra estabilidade no segmento leve e crescimento na área de mineração.
Produção de ônibus será menor
A falta de resposta efetiva dos governos às reivindicações populares do meio do ano criou quadro repleto de indefinições para o segmento do transporte coletivo urbano de passageiros. O mesmo se aplica ao transporte rodoviário, ainda no aguardo de definições sobre as licitações das linhas de longo curso. Em função disso é que José Antonio Fernandes Martins, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus, acredita que a produção de 2014 será semelhante à deste ano, em torno de 34 mil unidades.
A Marcopolo estabeleceu sua estratégia para o próximo ano projetando queda de 3,5% na produção. A expectativa é de produzir 20.850 unidades. No Brasil, a produção é estimada em 18 mil carrocerias, em queda de 5%.
O diretor-presidente da Agrale, Hugo Zattera, acredita que o grande problema no segmento de ônibus se concentra nos modelos para viagens de longo curso em função das indefinições na concessão das linhas rodoviárias.
Fonte:Jornal do Commercio (POA)/Roberto Hunoff
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