Uma aula dinâmica, com competição entre os alunos e reunindo vários conteúdos, para que os jovens vivenciem um pouco da prática do mercado de trabalho. Esse é o conceito de uma nova versão de uma plataforma eletrônica online utilizada pelos estudantes de cursos portuários da escola Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) Antonio Souza Noschese, em Santos, que vai ganhar uma atualização para o próximo semestre e ficar com cara de jogo.
Na primeira versão, os estudantes planejavam o carregamento de navios, levando em consideração o destino, o peso e o tipo de contêiner. Com as novas modificações, além de eles controlarem a rotina do planejamento, passam a ser avaliados pela própria plataforma. “Fica mais fácil para o aluno entender sua evolução, perceber os problemas. Já para o professor, torna-se uma avaliação menos subjetiva, pois usamos a pontuação que ele faz no jogo para atribuir uma nota ao desempenho”, explica a professora Samanta Roveri, especializada na área portuária.
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A gameficação (a utilização de técnicas de jogos) vem sendo cada vez mais utilizada como uma ferramenta educacional capaz de combater a falta de interesse e a dispersão dos alunos em sala de aula. “Nossa preocupação foi pelo fato de termos uma turma bem diversificada, mas mesmo aqueles que são da geração X (nascidas até meados dos anos 70, que acompanharam o surgimento dos computadores e celulares), gostaram da novidade”, afirma Samanta.
“Antes, a aula era toda no papel, era mais cansativa. Agora está mais interessante e chama a atenção de todos”, comenta o estudante Leonardo Nakai de França, um dos alunos que ajuda no processo de aperfeiçoamento do programa.
A motivação é tanta que os professores têm que lembrar os estudantes do término da aula. “Eles ficam tão empolgados que acabam ficando. Não vão embora”, diz o professor da área de Tecnologia da Informação (TI) Leo Billi, que ajudou a desenvolver o Senaiplan.
O entusiamo fez com se pensasse numa forma de os jovens continuarem estudando. E nos próximos dois meses, a plataforma deve começar a ser acessada pela internet. “Assim, eles podem continuar treinando em casa”, diz o professor.
Outra diferença do projeto é que os alunos têm a opção de competir entre si. “Caso eles queiram, podem escolher fazer parte de um ranking e tentar se superar e permanecer no topo”, explica a especialista na área portuária.
Premiação e versão 3.0
No ano passado, o Senaiplan foi selecionado entre os 328 trabalhos inscritos no Estado e ficou em primeiro lugar na categoria de tecnologias educacionais, na premiação <FI5>Inova Senai</FI>. “A gente sabia que o projeto era bom. Mas conquistar a medalha de ouro nos trouxe uma motivação a mais e passamos a acreditar que realmente estávamos no caminho certo”, conta Samanta.
Outra informação que o evento trouxe foi a descoberta de que o programa é inédito na área educacional. “Para participar, fizemos pesquisas para saber se existia algo semelhante e não encontramos nada assim, no mundo, voltado para o pedagógico”, orgulha-se Billi.
Depois da divulgação da premiação, o grupo do Senai foi convidado para falar de gameficação em um outro evento e passou a ser procurado por várias empresas de TI interessadas no assunto. Essa demanda fez com que o grupo começasse a pensar numa nova etapa para o programa.
“Vamos deixar a versão 2.0 rodando perfeitamente até o final deste ano e já estamos avaliando a possibilidade de desenvolver mecanismos para que as empresas portuárias possam utilizar o programa para fazer reciclagem, treinamento e até processo seletivo”, explica Samanta, que usa como exemplo a empresa francesa de cosméticos L'Oreal. “Lá, os candidatos a uma vaga vivenciam o dia a dia da empresa num ambiente virtual, onde se avalia o desempenho através do programa”.
A nova versão do Senaiplan já está inscrita na edição nacional do Inova Senai deste ano, que acontece em novembro, na categoria produto inovador. “A ideia, mais para frente, é comercializar licenças para que as empresas usem o programa por um período”,explica Samanta Roveri.
Premiação
O Senaiplan não foi o único projeto tecnológico premiado da unidade do Senai de Santos no Inova Senai, no ano passado. A mesa de simulação da logística portuária desenvolvida por alunos e professores ficou em segundo lugar na categoria educacional.
O projeto reproduz uma visão aérea do Porto de Santos numa planta baixa, com todos os terminais e operadores, além das informações operacionais. “Às vezes, o aluno chega aqui para fazer o curso e nem sabe o que é o Porto, como funciona cada um dos terminais”, conta a professora Samanta Roveri.
Em exercícios práticos, a mesa, chamada de Diorama, é utilizada junto com o Senaiplan e outros equipamentos da instituição, como uma réplica do pátio de contêineres da Brasil Terminal Portuário (BTP). Neste mundo virtual e de simuladores, os aprendizes da área portuária experimentam todas as rotinas de trabalho, que vão desde o planejamento de empilhar e embarcar contêineres a embarcá-los em aparelhos simuladores.
“Num último exercício que tivemos, toda a equipe estava envolvida. Cada grupo de alunos ficou responsável por uma área e eles tiveram que resolver tudo. Foi como se estivessem atuando dentro do Porto”, lembra a professora.
O estudante Leonardo de França diz que essa vivência é fundamental para quem quer atuar. “Nos exercícios, chegamos a executar algumas operações e vimos que tinham erros que tínhamos cometido na etapa inicial. No treino é possível voltar atrás, corrigir sem grandes prejuízos. E também aprendemos a lidar com momentos de crise”, analisa o jovem.
“Essa é uma oportunidade de que eles cheguem ao mercado de trabalho mais preparados, com uma experiência que é fundamental”, avalia o coordenador técnico da unidade do Senai, Daniel Divino Rodrigues da Silva. Ele acredita que as premiações recebidas pelos projetos podem fazer com que o trabalho realizado em Santos tenha destaque nacional. “Temos o maior porto da América Latina e o que desenvolvemos aqui em nossa área pedagógica pode ser aproveitado pelas empresas de todo o País”, finaliza.
Fonte: A Tribuna online/EGLE CISTERNA