O Paraguai caminha para colher no próximo ano uma safra de soja de 9 milhões de toneladas, o que deve confirmar o país como o palco de uma das maiores expansões proporcionais de produção da oleaginosa no mundo, o que já o coloca como o quarto exportador mundial. O crescimento da produtividade, que atingiu este ano 2.917 quilos por hectare, apenas 100 quilos a menos que o Brasil, é a principal alavanca.
A safra passada (2010/11) já foi a maior da história. A colheita alcançou 7,4 milhões de toneladas, mais que o dobro do volume colhido em 2000 (3,5 milhões de toneladas). "A perspectiva de crescimento para a próxima safra [2011/12] é de 20%, já que a área semeada deve atingir 3 mil hectares", comentou o produtor rural Luis Cubillas, assessor técnico da associação paraguaia de produtores (Capeco). Do total da safra passada, 5,5 milhões de toneladas foram exportadas, ante as 2,1 milhões que saíram do Paraguai em 2006. A expansão não tem relação com a demanda chinesa. O país não exporta para a China e 54% de suas vendas têm a União Europeia como destino.
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Com a alta das cotações do produto, o impacto na economia local desta explosão da soja foi direto, com grande influência sobre o crescimento do PIB paraguaio no ano passado, que foi de 15,3% - o maior da América Latina. A vitalidade do mercado é tão grande que fez com que os agricultores do país até se beneficiassem de medidas restritivas às exportações paraguaias tomadas nos últimos anos pela Argentina e pelo Brasil.
A decisão argentina de proibir que a indústria esmagadora importasse soja paraguaia para moer no país, em 2009, fez com que a indústria de óleos ampliasse suas bases no Paraguai. " A capacidade de esmagamento hoje é de 6,5 mil toneladas diárias. Dentro de dois anos, esse número vai para 14,5 mil toneladas", afirmou o diretor da associação da indústria de óleos vegetais do Paraguai (Cappro), Eduardo Tessari, que também é o diretor comercial da Louis Dreyfus no país.
É a Louis Dreyfus que está fazendo um dos dois maiores investimentos no segmento no Paraguai, com a montagem de uma nova unidade com capacidade de esmagamento de 4 mil toneladas diárias. Atualmente, a empresa esmaga 530 toneladas. Com a nova fábrica, que consumirá aproximadamente US$ 150 milhões em sua implantação, a múlti de origem francesa será a maior esmagadora no Paraguai. Sem presença no país até este ano, a ADM também está montando uma unidade para moer 3,3 mil toneladas. Tessari calcula o investimento total da indústria esmagadora no Paraguai em cerca de US$ 400 milhões.
Já o Brasil fez com que o Paraguai desenvolvesse um modal alternativo para o escoamento da safra, desde que o então governador paranaense, hoje senador Roberto Requião (PMDB), passou a impedir o embarque de soja transgênica pelo porto de Paranaguá, em 2004. O escoamento da safra paraguaia por terra em um primeiro momento desceu a quase zero e o país resgatou a estrutura da hidrovia Paraná-Paraguai. Usa atualmente 27 portos fluviais, sendo 16 no rio Paraná e onze no Paraguai. Hoje, 80% do escoamento se faz pelo rio. Cerca de 1 milhão de toneladas serão escoadas este ano pelo porto paranaense.
Mas a "explosão" da soja no Paraguai tende a ter fôlego curto. "Ainda restam de 500 mil a 1 milhão de terras agricultáveis para incorporar e os problemas com movimentos sociais são crescentes", comentou Tessari, que prevê um incremento de apenas 2% na produção a partir de 2012. "Com muito otimismo, pode se pensar em uma produção de 14 milhões de toneladas em 2020, mas a expansão esbarra na resistência violenta de grupos organizados", afirmou ao Valor o transportador paraguaio Pablo Ferres.
Fonte:Valor Econômico/Por Cesar Felício | De Rosario (Argentina)
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