O setor industrial virou o ano com percepção de recuperação da demanda e atividade mais forte, mas a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação deste mês, da Fundação Getulio Vargas (FGV), indica que essa reação ficou mais concentrada em janeiro, ao passo que fevereiro será um mês de resultados mais fracos, com possível queda da produção. A avaliação é de Aloisio Campelo, superintendente-adjunto de ciclos econômicos da FGV, para quem o cenário de retomada para o primeiro trimestre não foi anulado, mas houve uma "calibragem para baixo" nas projeções do empresariado.
Segundo Campelo, não é possível fazer uma leitura favorável dos dados de fevereiro, mês em que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) ficou praticamente estável em relação a janeiro, ao passar de 106,5 pontos para 106,6 pontos, mantendo-se acima da média histórica dos últimos cinco anos, de 104,7 pontos.
Apesar da relativa estabilidade no dado geral, o economista destacou que, no período, houve piora do otimismo em nove dos 14 gêneros pesquisados pela FGV, enquanto um não mostrou mudança e outros quatro tiveram alta. Este é o pior resultado em termos qualitativos desde agosto de 2011, quando apenas dois setores tiveram aumento de confiança em relação ao mês anterior. "Vai haver melhora no primeiro trimestre, mas o resultado de fevereiro já esfria um pouco o ritmo dessa recuperação", disse.
A manutenção do nível de confiança, ressaltou ele, foi sustentada por expectativas para um horizonte mais longo, que se mantiveram em terreno positivo, enquanto indicadores referentes ao momento presente pioraram. O Índice da Situação Atual (ISA) recuou 1% entre janeiro e fevereiro, para 105,7 pontos, ficando abaixo da média histórica dos últimos cinco anos, de 106,1 pontos. A contração foi puxada por avaliações mais desfavoráveis em relação ao nível de demanda, tanto externa como interna, indicador que caiu 2,6% na comparação mensal, para 103 pontos.
De acordo com Campelo, espera-se um comportamento mais homogêneo da produção entre os setores neste primeiro trimestre, já que os bens duráveis, que puxaram a retomada da indústria a partir de meados do segundo semestre com o impulso dos incentivos tributários, devem mostrar arrefecimento. "O ajuste acontece com uma certa convergência para uma situação de normalidade, mas que levou a uma queda no índice geral, apesar de quase 80% das empresas avaliarem a demanda como normal."
Com a perda de fôlego dos bens duráveis, o coordenador da FGV apontou que a recuperação da indústria ficará mais dependente do setor de bens capital, cuja produção ainda está comprometida por acúmulo de estoques. Segundo a sondagem, 20% dos fabricantes do segmento relataram possuir inventários excessivos em fevereiro.
Esse dado, na visão de Campelo, reforça a análise de que o crescimento da indústria não será tão consistente nos primeiros três meses do ano, apesar de a FGV manter o cenário de variação positiva da produção no período. "As expectativas do setor de bens de capital estão melhores, mas com esse resultado de fevereiro, há atenuação no ritmo de recuperação dos investimentos". Na passagem mensal, a confiança do ramo, que vinha em alta, recuou 0,8%.
Outro dado que corrobora a perda de ritmo da indústria em fevereiro, em sua opinião, é a queda de 0,3 ponto percentual do Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) do setor, que, ao ficar em 84,1% este mês, voltou ao mesmo patamar de janeiro. O recuo foi espalhado pelos cinco grandes categorias industriais pesquisadas.
O indicador de estoques, por sua vez, manteve-se ajustado em fevereiro, com alta de 0,1% frente a janeiro, para 101,2 pontos, dado que, na visão de Campelo, não é fator de contenção à produção.
Na contramão dos indicadores ligados ao curto prazo, o Índice de Expectativas (IE) manteve-se em alta e subiu 1,4% na passagem de janeiro para fevereiro, para 107,6 pontos, maior patamar desde maio de 2011. Segundo a FGV, 56,7% das empresas consultadas acreditam que a situação irá melhorar num horizonte de seis meses, enquanto apenas 4,8% preveem piora. Segundo Campelo, a percepção otimista é influenciada, em parte, pela base de comparação deprimida, que leva em conta o primeiro semestre de 2012, mas sustenta a previsão de recuperação da indústria no primeiro semestre.
Fonte: Valor Econômico/Arícia Martins | De São Paulo
PUBLICIDADE