Nem os analistas mais pessimistas esperavam pelo resultado desastroso divulgado ontem pela Vale, um prejuízo de R$ 44 bilhões em 2015. O desempenho decorre de uma baixa contábil (redução no valor de ativos) que a mineradora foi obrigada a fazer em seu balanço. A empresa foi impactada fortemente pela queda nos preços do minério de ferro, níquel, cobre e carvão. E sofreu ainda o efeito cambial sobre sua dívida em dólares, por causa da desvalorização média de 47% do real no ano passado. O prejuízo, o maior já registrado no país, foi pior que o da Petrobras em 2014, de R$ 21,5 bilhões, quando a estatal foi obrigada a fazer uma baixa contábil de R$ 44 bilhões em razão do escândalo da Lava-Jato.
Diante do cenário adverso, a Vale admitiu pela primeira vez a venda de ativos prioritários para reduzir em US$ 10 bilhões sua dívida líquida, de US$ 25,2 bilhões. A lista inclui as cinco áreas essenciais da empresa: minério de ferro, níquel, cobre, carvão e fertilizantes. "Não temos nenhum apego a ativos de qualquer commodity e vamos avaliar todas as opções", afirmou o presidente da companhia, Murilo Ferreira. Até agora, a Vale vinha vendendo negócios não prioritários ou participações em projetos.
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A baixa contábil feita pela mineradora não inclui perdas decorrentes do desastre ambiental provocado pela Samarco, da qual a Vale é acionista com 50% do capital. Isso só será feito "quando os valores forem mais tangíveis", disse o diretor financeiro, Luciano Siani Pires.
Na bolsa, a ação preferencial da Vale encerrou o dia de ontem entre as maiores perdas, em queda de 5,23%. No ano, a ação acumula desvalorização de 20,49%.
A baixa contábil e o prejuízo aparecem também nos balanços das grandes mineradoras globais, concorrentes da Vale, embora em valores menores. As quatro grandes - BHP Billiton, Rio Tinto, Vale e Anglo American -, que faturaram em conjunto US$ 116 bilhões no ano passado, fizeram desvalorização de ativos de US$ 23,3 bilhões. A Vale foi responsável pela maior baixa, de US$ 8,9 bilhões. O maior prejuízo em dólares também foi da companhia brasileira: US$ 12,2 bilhões.
Fonte: Valor Econômico/Por Francisco Góes, Rafael Rosas, Alessandra Saraiva e Renato Rostás | Do Rio e de São Paulo