As vendas de soja do Brasil registraram ritmo forte esta semana, com a China, principal compradora da oleaginosa brasileira, aproveitando uma taxa de câmbio favorável e os fretes marítimos em queda, o que reduz custos, segundo agentes do mercado.
Os negócios têm avançado no Brasil, o maior exportador global de soja, apesar de o ritmo de colheita estar levemente abaixo do registrado nos últimos anos, conforme dados de alguns analistas.
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"No geral, teve um pouco de atraso de colheita, muita chuva, mas as vendas estão em ritmo forte este ano. Saiu de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas esta semana", comentou o presidente da negociante de grãos AgriBrasil, Frederico Humberg, sobre os novos negócios efetivados pelo país com a China no período.
Outros agentes do mercado também registraram negócios fortes com soja brasileira esta semana. Em nota na quinta-feira, a consultoria T&F Agroeconômica afirmou que as compras da China totalizaram mais dez carregamentos em três dias na semana.
Segundo Humberg, da AgriBrasil, as preocupações com o impacto econômico do coronavírus reduziram fortemente o valor do frete marítimo, favorecendo compras de chineses.
"Com frete mais barato, melhorou bastante para o comprador chinês", acrescentou.
O índice de frete do Báltico , uma referência global, tem acumulado perdas semanais seguidas, sendo negociado nos menores níveis desde 2016.
No que diz respeito à demanda por soja brasileira pela China, o advento do novo coronavírus não causou impacto, segundo agentes consultados, diferentemente do que foi visto em outros mercados, como o de petróleo.
Além disso, um dólar mais forte frente ao real favorece importadores de soja, impulsionando a demanda do grão brasileiro. Nesta sexta-feira, a moeda norte-americana foi negociada a mais de 4,30 reais, batendo mais um recorde histórico.
O executivo da AgriBrasil disse ainda que, à medida que a colheita ganha força, o país vai ficar ainda mais competitivo frente os Estados Unidos, o que tende a impulsionar as exportações.
"Os Estados Unidos estão 15 centavos (de dólar por bushel) mais caros que o Brasil (considerando custo e frete), e cada vez mais vão ficando mais caros, e o Brasil mais dentro da colheita...", comentou sobre o principal concorrente do país no mercado do grão, que está em entressafra.
Já a colheita de soja do Brasil da safra 2019/20 atingiu até esta sexta-feira 15,7% da área total do país, ante 27,3% registrados no mesmo período de 2019, em meio a chuvas que dificultaram os trabalhos nos campos, avaliou nesta sexta-feira a consultoria Arc Mercosul, que apontou também que a diferença é pequena em relação à média histórica para o período (16,2%).
Paralelamente, a consultoria Safras & Mercado elevou nesta sexta-feira sua previsão de colheita de soja para um recorde de 124,55 milhões de toneladas, citando tempo favorável no Centro-Oeste brasileiro.
Programação forte
A programação de navios para embarcar soja nos portos brasileiros está forte, com a agência marítima Cargonave apontando pouco mais de 8 milhões de toneladas neste mês, versus 7 milhões de toneladas na fotografia do agendamentos de embarques no mesmo período do ano passado, quando o Brasil encerrou fevereiro com exportações efetivas de pouco mais de 5 milhões de toneladas.
O professor da Esalq/USP e analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Lucílio Alves, comentou que nem tudo que está no chamado "lineup" é embarcado no mesmo mês. Ele citou ainda que chuvas recentes podem ter favorecido o acúmulo de embarcações esperadas para fevereiro.
Disse ainda que, se a colheita estivesse adiantada, como no ano passado, as vendas das exportações poderiam estar ainda mais fortes.
"Se tivesse volume, o produtor e a própria trading iria embarcar e negociar mais, considerando o câmbio atual."
Daniely Santos, da Céleres, comentou que o câmbio em alta mais uma vez está ajudando os agricultores brasileiros, minimizando a fraqueza na bolsa de Chicago, que sofre com incertezas relacionadas ao acordo comercial entre China e EUA.
Fonte: G1