A grande movimentação com ações da petroleira HRT esta semana, que elevou o preço do papel em 33% em quatro dias e confundiu parte do mercado, é a parte mais visível de um movimento de grandes investidores estrangeiros e nacionais que estão perdendo a paciência com a empresa. Eles querem mudar o conselho de administração e afastar Marcio Rocha Mello, fundador da petroleira, do cargo de presidente do conselho de administração, permitindo que ele ocupe apenas a presidência da HRT Participações em Petróleo (HRTP), que é a holding do grupo, que controla a HRT Óleo e Gás e a HRT África.
Segundo uma fonte a par do assunto, a movimentação dos últimos dias foi comandada pelo Discovery Capital Management, um fundo de hedge baseado nos Estados Unidos que administra um portfolio de US$ 7 bilhões. Ele está atuando junto com o Southeastern Asset Management, que administra US$ 32 bilhões em ativos e é hoje maior acionista individual da HRT, com 14,28% das ações segundo informe mais recente da companhia.
Comandado pelo investidor Mason Hawkins, o Southeastern vem tentando, com grande sucesso, mudar de passiva para ativa sua participação nas companhias das quais detém ações. Foi isso que aconteceu no ano passado na Chesapeake Energy Corp, a gigante de gás americana da qual o co-fundador Aubrey McClendon acabou afastado junto com metade da diretoria da empresa depois de uma série de apostas ousadas. Mais recentemente, tentou participar do fechamento do capital da fabricante de computadores Dell, da qual também mantém a maioria da ações em mãos privadas, sem sucesso dessa vez.
No Brasil, o objetivo é unir forças com outros investidores para aumentar a governança, controlar o caixa e rever o plano de negócios da HRT, que desde a abertura do capital, em outubro de 2010, acumula uma queda de 81,5% no preço das ações, já ajudada pela escalada desta semana. Desde o lançamento, a empresa já perdeu R$ 1,88 bilhão no valor de mercado e ainda não teve sucesso exploratório relevante. A HRT fechou 2012 com prejuízo de R$ 277,57 milhões e programa perfurar quatro poços no mar da Namíbia ao longo do ano, o que deve consumir parte dos R$ 1,051 bilhão que tinha em caixa no dia 31 de dezembro.
Mais movimentações devem acontecer nas próximas semanas, com a tentativa de atrair a adesão de mais acionistas até a Assembleia Geral Ordinária, marcada para o dia 29. Na semana passada, a HRT divulgou a proposta de nomeação dos novo conselho de administração, com onze membros, que já traz uma aparente redução no poder decisório de Mello. O geólogo americano John Anderson Willott, que trabalhou na ExxonMobil, é indicado como presidente do conselho no lugar do fundador da companhia, e Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, para o cargo de vice-presidência do conselho.
A avaliação do mercado ontem era de que os dois executivos são nomes indicados por acionistas externos. Não é bem assim. Ambos estão no conselho desde abril de 2011, e são vistos como muito ligados a Mello, não sendo os nomes prediletos dos acionistas que querem ter mais participação na gestão da companhia a partir de agora.
Além da falta de solução para a venda do gás que a companhia encontrou na bacia do Solimões, na Amazônia, um dos temas que não vem agradando aos acionistas é a proposta de pagar cerca de R$ 44,321 milhões de remuneração aos gestores (parte em ações e outra em dinheiro) em 2013. O valor é considerado "absurdamente alto" pela fonte ouvida pelo Valor, considerando os péssimos resultados alcançados até agora.
A proposta embute pagamento de remuneração fixa de R$ 8,250 milhões para a diretoria, o que corresponde a um salário mensal de R$ 137,5 mil para cada um.
Em 2012, os executivos da HRT já receberam R$ 31,112 milhões e em 2010 a remuneração total foi de R$ 10,93 milhões. Ao todo são cinco diretores, entre eles uma irmã de Marcio Mello, a administradora de empresas Maria Emília de Azevedo.
Ontem as ações da HRT dispararam 11%, tendo fechado o dia cotadas em R$ 4,44. Esse foi o terceiro pregão de alta do papel nesta semana. Na segunda-feira, as ações subiram 17,42%, seguida no dia seguinte por uma grande transferência direta de ações. Nos últimos quatro dias a HRT ON já subiu expressivos 33%, apresentando um volume de movimentação muito acima da média diária. (Colaborou Téo Takar, de São Paulo)
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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