Um novo ato de insensatez começa a surgir no Rio de Janeiro. A região, que sofreu enorme esvaziamento econômico com a transferência da capital para Brasília, será fatalmente atingida se essa campanha triunfar. É a de se lamentar que navios fiquem no mar, em frente às praias da Zona Sul. Há alguns meses, o colunista Ancelmo Góes já antecipava o – falso – “perigo” de se ver navios em meio à paisagem e, no último dia 1º, reportagem de O Globo, de Ana Cláudia Costa, deu espaço a que moradores e líderes ditos ecologistas que se mostraram preocupados com a feiúra da paisagem. Quanto a poluição, os belos transatlânticos, por todos festejados, também são movidos a óleo combustível.
Trata-se de atitude insana, pois um país só pode prover boa situação social se por tiver atividade econômica que lhe dê amparo. Os governantes do Paraguai e da Nicarágua não querem mal a seu povo, mas apenas não têm, como suíços e noruegueses, condições de criar gerar riqueza que leve a um estado de bem-estar social. A Noruega, inclusive, só ampliou sua riqueza graças ao poluente petróleo.
PUBLICIDADE
O Rio não dispõe de agricultura; seu comércio e indústria são bem mais fracos do que o vizinho São Paulo. Nas últimas décadas, centenas de bancos e indústrias migraram do Rio para São Paulo, em virtude da fraqueza do cenário fluminense. A capital fluminense é recordista em favelas, retrato do empobrecimento fluminense, em grande parte gerado por escassez de empregos dignos. O setor financeiro não gera empregos, pois pesquisa do grupo inglês Z/Yen mostra que o Rio era o 31º maior centro financeiro em 2013 e, este ano, despencou para o 45º lugar.
Mais recentemente, a descoberta de petróleo deu novo alento ao Rio, permitindo reativação da construção naval, fortalecimento de indústrias químicas – o complexo de Itaboraí, mesmo reduzido, será um pólo de riqueza – e o porto do Rio, que andou com teias de aranha, ressurge, junto com o porto de Itaguaí. Nesse momento, em que o Rio mais precisa de investimentos e emprego, surge uma campanha contra a “feiúra” dos navios. É um absurdo que precisa ser cortado pela raiz.
Fontes da Diretoria de Portos e Costas da Marinha consideram a alegada aversão a navios como simples falta de informação. Técnicos do setor comentam que parte da grandeza de São Paulo se deve a Santos, porto tão importante que atrai cargas do Centro-Oeste e até do Sul e do Nordeste. Os números do porto do Rio não se comparam aos de Santos e, mesmo assim, o porto carioca não só gera milhares de empregos como é contribui com bilhões para a receita do estado e da cidade. Minas – que não tem porto – quando exporta carros Fiat, gera serviços no Rio; quando Minas importa qualquer produto, deixa parte do ICMS nos cofres fluminenses. É riqueza, trazida pelos navios que estão no mar, em frente às praias.
Nos Estados Unidos, o petróleo do Alasca gera dólares e, agora, o país está cheio de crateras: é o gás de xisto, que permitirá que eles se tornem exportadores de energia. Todos os países buscam progredir, mas o Rio estaria condenado a ser tão somente centro de turismo?
No caso recente, houve um agravante, pois, para realizar uma regata, as autoridades foram obrigadas a limitar o acesso de navios ao porto. Mas, com ou sem regata, não se pode permitir que inocentes úteis queiram afastar do Rio as riquezas trazidas pela navegação. Nos Estados Unidos, o portos lutam por cargas de forma incessante, não raro, oferecendo subsídios a quem trocar Miami por Jacksonville. Na Europa, a França acaba de reclamar que Alemanha e Holanda estão dando estímulos por baixo do pano para atrair cargas para seus portos. Só o Rio de Janeiro não quer cargas – e impostos no seu cofre – para que a paisagem fique intocada? A verdade é que a maior poluição é a pobreza e uma região sem empregos estará condenada ao fracasso. Com desemprego, haverá mais gente vendo paisagem intocada no Leblon e Ipanema.
Fonte:Monitor Mercantil\Sergio Barreto Motta