O anúncio do corte de 20% da previsão de investimentos da Petrobras para o biênio 2015-2016 pegou de surpresa os principais líderes da cadeia de fornecedores da estatal, que se reuniram ontem para apresentar propostas para uma política setorial de petróleo e gás no país. Apesar de evitarem o assunto, os representantes de associações do setor reconheceram que a redução dos investimentos afetará ainda mais a indústria petrolífera brasileira.
"Temos no Brasil um cliente dominante. E a situação se tornou um pouco mais crítica com o hiato que tivemos de cinco anos sem rodadas [de licitações de blocos exploratórios]. Hoje, dependemos significativamente de investimentos feitos praticamente por um único cliente. Toda e qualquer variação ou redução no plano de investimentos desse cliente afeta a indústria sobremaneira", afirmou o diretor-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro), Paulo Cesar Martins.
O executivo explicou que o setor ainda não tem informações sobre o detalhamento do corte de US$ 11 bilhões nos investimentos previstos pela Petrobras em 2015 e 2016. "Só soubemos do montante. Não sabemos ainda o detalhamento desse corte, quais projetos vão atrasar ou serem jogados para a frente".
"O corte não foi explicitado. Só foi [divulgado] o montante", disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira. Para ele, a redução dos investimentos não deverá afetar a produção de petróleo da companhia, que precisa garantir receita para tocar os investimentos e reduzir o nível de endividamento.
Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), Jorge Camargo, a Petrobras está fazendo o que deve ser feito para ajustar as finanças. "Não analisamos as empresas associadas [do IBP], mas estamos acompanhando. Temos certeza que eles [Petrobras] estão fazendo o que deve ser feito para ajustar suas finanças, para retomar o crescimento. Todas as empresas têm altos e baixos", afirmou ele.
Segundo Camargo, a indústria brasileira tem condições de atender até 10% dos investimentos globais em exploração e produção de petróleo e gás natural, da ordem de US$ 700 bilhões anuais, caso haja uma política voltada ao desenvolvimento do setor de óleo e gás no Brasil.
"Temos uma previsão para o ano que vem de investimentos em exploração e produção no Brasil em torno de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões. Isso é muito pouco em relação ao potencial do Brasil. O mundo todo vai investir US$ 700 bilhões. O Brasil tem facilmente condições de capturar 7%, 8%, 10% desses investimentos globais, portanto duplicar, triplicar os investimentos em exploração e produção, consequentemente com implicações para [geração de] empregos, para crescimento [econômico] e para arrecadação [de impostos]".
Lançada um dia após o anúncio do corte nos investimentos da Petrobras e na véspera da 13ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a "Agenda Mínima para o Setor Petróleo Brasileiro" é composta por sete principais tópicos, sendo a maioria pleitos antigos do setor, amparados agora por outros segmentos industriais brasileiros. O objetivo é aumentar o volume de investimentos no setor, responsável por 12% do PIB Brasileiro.
Entre os principais itens propostos estão a realização de leilões periódicos de áreas exploratórias, a simplificação do licenciamento ambiental e o aperfeiçoamento nos requisitos de conteúdo nacional. O documento defende ainda o fim do papel do operador único na exploração e produção no pré-sal, sob o modelo de partilha, tema em discussão no Congresso Nacional.
Lançado por 23 entidades de todos os elos da cadeia industrial brasileira, lideradas pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), o documento será entregue pessoalmente por representantes das associações e federações industriais ao ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, na próxima semana.
Fonte: Valor Econômico/Por Rodrigo Polito | Do Rio
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