A meta de produção de petróleo no Brasil é a grande dúvida do novo plano de negócios da Petrobras para o período de 2017 a 2021, na visão de analistas. Enquanto as projeções de redução de endividamento e venda de ativos foram consideradas factíveis pelo mercado, a manutenção de uma curva de produção estável, frente ao corte de 25% nos investimentos, provocou ceticismo.
Apesar da incógnita, o planejamento foi bem recebido pelo mercado. Os papéis ordinários da companhia subiram 1,07% e as ações preferenciais tiveram alta de 3,44%, determinando a alta de 0,67% do Ibovespa ontem.
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"O grande ponto de interrogação com relação ao plano é o quão arriscada é a nova meta de produção, à luz do menor investimento e das plataformas implantadas em novas áreas, como Búzios, onde a Petrobras pode não atingir os mesmos níveis de produtividade que obteve em Lula e Sapinhoá", escreveram os analistas do Credit Suisse, em relatório divulgado antes da teleconferência realizada pela companhia.
Em seu novo planejamento, a estatal projeta investimentos de US$ 74,1 bilhões para o quinquênio, ante estimativa de US$ 98,4 bilhões na última revisão do plano para 2015 a 2019, anunciada em janeiro. Os aportes em exploração e produção no período devem somar US$ 60,6 bilhões.
Já a produção em campos nacionais deve cair a 2,07 milhões de barris diários em 2017, ante 2,145 milhões de barris diários estimados em 2016, segundo a diretora de exploração e produção, Solange Guedes, como consequência do plano de desinvestimentos. Em 2018, a companhia espera quase uma estabilidade, com aceleração nos anos seguintes até chegar a marca de 2,77 milhões de barris diários em 2021.
"Até 2018, a companhia vai conseguir, o capex é plausível, a produção também. A empresa tem a lista de ativos das quais pretende se desfazer", avaliou Luana Siegfried, analista da Raymond James. O desafio maior é executar as metas até 2021.
"Os cálculos incluem o declínio anual de 9% na produção da Bacia de Campos. Para isso acontecer, o pré-sal teria que crescer 20% por ano a partir de 2017. A meta ainda é muito agressiva", disse Luana. A Raymond James esperava um corte da meta de produção para 2,3 milhões de bpd em 2020, refletindo os investimentos menores e o declínio natural dos campos do pré-sal.
Apesar de também expressar descrença com a meta de produção prevista, o BTG Pactual acredita que, com potenciais mudanças nas regras de conteúdo local e com a disposição da empresa de construir mais das suas unidades de exploração no exterior, as metas de produção e investimentos poderão ser cumpridas.
Ainda conforme o banco, o avanço do plano de desinvestimentos é positivo e os US$ 15 bilhões em vendas de ativos prometidos para 2016 devem ser alcançados com a combinação de Gaspetro, ativos no Chile e Argentina, unidades petroquímicas, Carcará, Nova Transportadora do Sudeste, Liquigás e Nova Transportadora do Nordeste.
No caso dos US$ 19,5 bilhões de desinvestimentos para 2017-2018, o BTG inclui a provável venda de ativos como a BR Distribuidora (aproximadamente US$ 3 bilhões), a fatia na Braskem (US$ 2,5 bilhões), usinas térmicas (US$ 4 bilhões) e campos de petróleo (US$ 1 bilhão).
Já o Credit Suisse criticou a falta de detalhes sobre como a estatal conseguirá atingir sua meta de desinvestimentos para 2017 e 2018, considerada "agressiva". "Esperamos que a empresa divulgue uma abordagem mais detalhada sobre a venda de ativos de projetos de refinaria e logística. Essa medida também exige uma política de preço mais transparente, mas esse ponto não foi discutido", afirmou o Credit.
A menção "tímida" em relação aos preços dos combustíveis, "sem nenhum sinal de qualquer metodologia de precificação, e indicação de paridade de preços", também foi criticada pelo Brasil Plural. Por outro lado, o banco viu como positiva a saída completa das áreas petroquímica, distribuição de GLP e fertilizantes.
Fonte: Valor