Com dívidas de cerca de R$ 700 milhões por conta de contratos interrompidos com fornecedores, a Enseada Indústria Naval (EIN) passou a ser procurada pelos cobradores, na Bahia, desde a semana passada quando a Petrobras sinalizou a retomada da construção dos navios-sonda no país, por meio da Sete Brasil, principal cliente da empresa. A expectativa da reativação do projeto do estaleiro no município de Maragojipe provocou também um movimento de trabalhadores, bem como investidores locais interessados em também reativar negócios gerados em função do empreendimento.
A informação foi confirmada pela própria assessoria de comunicação da empresa. A Enseada esclarece, entretanto que, embora o entrave para o andamento dos projetos tenha sido gerado justamente pela falta de repasses da Sete Brasil, a sinalização pelo governo de que a subsidiária da Petrobras deva firmar um acordo nos próximos dias para a retomada dos projetos de contratação das sondas de perfuração para a camada do pré-sal, não representa a reativação imediata do estaleiro baiano.
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"Primeiro, porque o que se fala é que haverá uma redução no números de navios-sonda a serem contratados pela Sete Brasil neste novo momento, e isto exige toda uma reestruturação das empresas envolvidas e, consequentemente, dos contratos", explica Marcelo Gentil, gerente de comunicação externa da Enseada.
A empresa espera que, além de firmar o novo contrato com Petrobras, a Sete Brasil pague as dívidas com o estaleiro baiano, que já havia construído 65% da sonda Ondina e 25% da sonda Pituba, tendo a receber R$ 1,2 bilhão do contrato original. A questão ainda aguarda uma solução, diante da previsão de redução de 29 para 19 no número de sondas de perfuração contratadas em todo o Brasil, em relação ao projeto inicial, sendo que, no caso da Enseada, o número de navios encomendados cairia de seis quatro.
Esforço
O presidente da empresa, Fernando Barbosa, reconhece, entretanto, a importância do novo contrato entre a Petrobras e a Sete Brasil, bem como "o esforço do governo" para incentiva a indústria naval. "É preciso que nosso cliente garanta, com senso de urgência, as encomendas que sustentam o primeiro ciclo industrial do estaleiro", diz.
Segundo a empresa, depois do contrato firmado com a Petrobras, ainda serão necessárias mais quatro etapas: a primeira delas, a assinatura de um novo contrato entre o estaleiro baiano e o cliente. Este pode ser a própria Sete Brasil ou investidores japoneses, dentro da alternativa proposta de quatro das 19 sondas serem encomendadas diretamente por um consórcio liderado pela japonesa Kawasaki que, por sua vez, também faz parte da composição societária na Enseada.
O outro passo seria o pagamento pela Sete Brasil das dívidas com o estaleiro, ainda relativas ao contrato originalmente firmado. Já para concluir as obras físicas do empreendimento, seria preciso, segundo a Enseada, que Caixa e Banco do Brasil liberassem R$ 600 milhões previstos pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM). Como o prazo previsto para a liberação dos recursos do fundo venceu em junho, a Enseada ainda precisaria, antes, formalizar um novo pedido de financiamento, alegando que só utilizou R$ 1 bilhão, dos R$ 1,6 bi previstos originalmente.
"Com todas essas etapas cumpridas, aí poderemos contar com a retomada da implantação do estaleiro na Bahia e a fabricação das sondas de perfuração", informou a assessoria de comunicação da empresa. A Enseada ainda ressalta que, ainda assim, caso seja confirmada a redução do número de sondas, todos os projetos ligados à linha de produção da empresa também voltarão a ser tocados dentro das novas perspectivas dos contratos, "embora a empresa esteja buscando também outros clientes alternativos fora do país".
Passos previstos para a retomada
1 - Celebração formal do acordo entre a Petrobras e a Sete Brasil
2 - Celebração de novo contrato da Enseada (Paraguaçu) e seu cliente (Sete Brasil ou investidores estrangeiros capitaneados pela Kawasaki). A Enseada espera para este momento o pagamento, por parte da Sete, de cerca de R$ 1,2 bilhão
3 - Nova formalização de pedido de financiamento junto ao Fundo de Marinha Mercante (FMM)
4 - Aprovação pelo FMM e liberação pelos agentes BB e Caixa da segunda parcela do financiamento
5 - Retomada das obras de implantação do estaleiro e de fabricação das sondas
Fonte: A Tarde.com.br/Joyce de Sousa