SÃO PAULO - Como forma de melhorar suas operações marítimas e fugir dos gargalos enfrentados nos portos brasileiros, a empresa de origem alemã Hamburg Süd aumentou o número de navios para o Brasil, além de ter reduzido a velocidade de viagem para economizar combustível e ganhar tempo para atracar no País. Além disso, cancelou algumas escalas para dedicar um tempo ainda maior para portos como o de Santos (SP), que para ela dará problemas até 2012.
Com uma passagem pouco desastrosa pela crise econômica global que atingiu o mundo entre 2008 e 2009, e uma recuperação forte obtida no País em 2010, a Hamburg Süd atribui os problemas vividos pelo setor de logística ao sucesso do Brasil. Para o presidente da empresa, Julian Thomas, o País está vendo um crescimento expressivo no volume de cargas, com um lento desenvolvimento na infraestrutura.
Em relação aos portos, ele contou que o fato das importações estarem crescendo muito, aliado ao tempo que essas cargas permanecem nos portos e a burocracia das leis brasileiras, geram um travamento na logística portuária, reduzindo a produtividade dos terminais de contêineres, e criando longas filas de caminhões e navios. "O fato das importações terem crescido tanto, gera um impacto muito maior sobre a infraestrutura, que já é frágil, pois o contêiner, na exportação fica pouco tempo no porto, mas o da importação, devido a sistemática brasileira permanece por muito mais tempo nos terminais. Fala-se que o contêiner permanece, em torno de 5,4 dias no porto, contra no máximo um dia da exportação, e se falarmos de Santos, esse número salta para 9 dias, os problemas são claros, e afetam muito a produtividade adequada dentro do terminal", comentou, em entrevista exclusiva ao DCI.
Para ele, a solução para o problema é a migração dessas cargas para fora do porto e da região santista, criando novas áreas de armazenagem e fiscalização no próprio estado de São Paulo. "O maior problema da infraestrutura portuária hoje, não são os berços de atracação, e a quantidade de guindastes, o problema principal é a área de armazenagem. E se reduzir o tempo da estadia desses contêineres de importação no porto, a infraestrutura portuária existente ganharia um respiro maior", garantiu Thomas.
Thomas contou que essa é a principal medida estudada pela Receita Federal, que facilitaria bastante a operação portuária. "Precisamos mexer nas regras da alfândega, ou criar mais áreas alfandegárias fora do porto, de preferência tirar da Baixada Santista, e colocar na própria capital, ou em outra cidade próxima. Logo se colocássemos essas cargas importadas fora de lá, o setor ganharia mais tempo. A Receita está bastante empenhada em resolver esses problemas também", disse.
Uma solução encontrada pela Hamburg Süd foi disponibilizar mais navios para operar as rotas para o País, e aumentar o tempo de viagem, já que com isso, o navio economiza mais combustível, e ganha mais tempo para atender portos mais complicados.
"Ao invés de fazermos uma viagem redonda de 42 dias, com seis navios, fazemos agora a mesma viagem com sete navios em 49 dias, ou seja, temos a mesma freqüência, mas colocamos um navio a mais, e uma semana de tempo para imprevistos. Antes prevíamos um certo numero de horas em santos, e agregamos mais 12 ou 24 horas para ter uma reserva e atender o porto", declarou Thomas.
Prejuízos
Em relação aos prejuízos causados pelos gargalos portuários, Thomas disse que como em 2008, que segundo ele também foi um período complicado, os danos serão milionários. Em 2008, o presidente da empresa afirmou que os danos superaram a marca dos US$ 60 milhões, e que como os custos da operação estão maiores a previsão é de que nesse ano as perdas sejam ainda maiores.
"Nós perdemos US$ 60 milhões com ineficiências, e como temos uns 20% do mercado podemos dizer que a indústria em um todo perdeu mais de US$ 300 milhões. Agora os custos são maiores, o combustível está mais caro, enfim as perdas serão bem maiores esse ano, já que os problemas são mais graves", frisou.
Segundo Thomas esses valores serão sentidos no frete, não imediatamente, já que os contratos atuais estão assinados, entretanto, para os novos contratos, ou renovações essas perdas serão repassadas. "Isso será sentido nos valores de frete, que aumentarão. Talvez isso não seja sentido imediatamente, mas em futuras negociações com certeza", disse.
Além desses prejuízos, ele ainda destacou a pressão sofrida para o cumprimento de prazos de entrega, onde muitas vezes o navio parte deixando cargas para trás. "Não é estranho sairmos do porto, com espaços ociosos, ou deixando cargas para trás, temos que manter o itinerário. Isso é muito ruim, pois nunca mais recuperamos esse valor perdido. Isso é um custo muito doloroso".
Fonte: DCI/Daniel Popov
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