Embarcações estão há 11 anos abandonadas e faziam parte da vista da cidade
De dentro do que parece ser um navio abandonado sai um barulho improvável: latidos. Em seguida vem o dono dos latidos, Nanico, um vira-lata cuja valentia não corresponde ao tamanho. E do interior do convés surge Bigode, ou Jorge Eli Santos da Silva, o zelador de alguns "navios fantasma" que estão há mais de dez anos abandonados no cais do porto de Porto Alegre e começaram a ser retirados no final de semana.
Marujo aposentado, Bigode trabalha há cinco anos como zelador dos navios Laranjal, Pernambuco e Porteiras, de propriedade da empresa Petrosul, atracados no Guaíba desde abril de 2000. A rotina de “comer e dormir” no navio durante sete dias, arrumar uma ou outra coisa no convés e depois descansar mais uma semana em sua casa no interior do Estado sofreu uma alteração.
“Na hora que tirarem os navios, eu saio fora. A não ser que eles fiquem aqui por perto. Não quero ficar longe de Porto Alegre”, diz Bigode. Sua “casa” fica à frente da estação rodoviária e é quase um patrimônio da capital gaúcha.
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Na hora que tirarem os navios, eu saio fora. A não ser que eles fiquem aqui por perto. Não quero ficar longe de Porto Alegre”, diz Bigode
Incorporados à paisagem do centro da cidade, ao menos cinco navios abandonados devem ser retirados do cais do porto de Porto Alegre ainda em 2011. Pelo menos esta é a expectativa da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH) do Rio Grande do Sul, depois de uma década de tentativas fracassadas.
Os primeiros navios a sair foram os zelados por Bigode. Por um acordo entre a empresa e a SPH, os navios serão levados para o cais Marcílio Dias, localizado na zona norte da cidade, liberando espaço para as operações do porto da capital gaúcha. O navio Pernambuco foi rebocado no último sábado. “Eles vão ficar afastados de maneira que não atrapalhem o funcionamento do porto”, explica o diretor de portos da SPH, Sílvio Pinheiro David.
Segundo a superintendência, os navios Laranjal, Pernambuco e Porteiras foram importados do Japão pela Petrobrás, de uma leva de 21 embarcações, mas acabaram não servindo para o transporte de petróleo, por serem de pequeno porte. A Petrosul adquiriu os três navios que estão sem uso desde abril de 2000 no cais do porto.
Caso mais complexo é o de dois navios de bandeira paraguaia. Parados no Guaíba desde 1997, os navios General Bernardino Caballero e Mariscal José Félix Estigarribia estão enferrujados e já não podem mais voltar a funcionar.
Um projeto aprovado no dia 22 de março pela Assembleia Legislativa autorizou a SPH a tomar posse dos navios que pertenciam a uma estatal paraguaia. Por um acordo entre os governos brasileiro e paraguaio, os navios serão leiloados para abater a dívida pela estadia no porto. Como não servem mais para o uso, serão leiloados como ferro-velho.
“Quando o projeto for sancionado, vamos colocar os navios em leilão. Quem ganhar, tira daqui”, diz David. “Não será algo de hoje para amanhã. Pode ser que não haja compradores interessados”, ressalva.
Além de liberar espaço para o funcionamento do porto, a retirada das embarcações também é justificada pelos riscos à navegação na região. Enferrujados e com água acumulada, os navios também são focos de doenças e podem despejar detritos no Guaíba.
Já para Bigode, não tem jeito. Sua casa vai deixar de ser parte da paisagem da cidade.
Fonte:Último Segundo - iG/Daniel Cassol, iG Rio Grande do Sul
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