O complexo de Ilha Solteira/Três Irmãos, nos rios Paraná e Tietê, está entre os reservatórios mais secos do País, afirmou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Apesar das chuvas que atingiram a região no último sábado (25/10), o nível dos dois reservatórios continuava 0% nesta segunda-feira (27/10), o menor nível desde o ano de 1993. Os dois reservatórios são interligados pelo Canal de Pereira Barreto, que teve a navegação interrompida.
A Companhia Energética de São Paulo (Cesp), responsável pela Hidrelétrica de Três Irmãos, afirmou que a usina está sendo desligada nos períodos de consumo mais baixo para minimizar mais impactos, mas a população ainda não está sendo prejudicada com a falta de energia, pois está chovendo em outras regiões do país, mas por conta da estiagem a vazão nas barragens foi reduzida, o que deixou os lagos formados ao redor das cidades em níveis muito baixos.
Em Pereira Barreto, a redução das margens fez “secar” o Porto de Pereira Barreto. Onde antes havia água, agora só existe terra, pedras e lixo. No local, há apenas um fio de água que escorre em um trecho assoreado. “Nem peixe quer ficar aqui”, reclamou o pescador José Januário da Silva, de 72 anos, que observava o local neste sábado (26/10). Segundo ele, mesmo onde há água, não é possível pescar. “E se você pega o bote e vai pro rio, é perigoso encalhar no banco de areia”.
Mais à frente, na Praia Municipal de Pereira Barreto, a seca deixou à mostra um píer de madeira, conhecido na cidade como “tablado”, construído em 1990. “Aproveitaram e fizeram uma reforma nele, já que tinha uns trechos com a madeira quebrada”, contou uma frequentadora do local.
São José dos Dourados
Em Suzanápolis, cidade distante 20 quilômetros de Pereira Barreto, quem praticamente desapareceu sob a ponte que dá acesso ao município foi o rio São José dos Dourados, responsável pelo abastecimento da cidade de Aparecida D’Oeste (SP). É possível até caminhar sob a ponte, que reunia muitos pescadores nos finais de tarde. No último sábado, os únicos que estavam no local eram urubus.
O São José dos Dourados secou porque recebe água das bacias do Tietê e do Paraná, interligados pelo canal de Pereira Barreto. O maior prejuízo até agora foi dos piscicultores da região, que tiveram que remover os tanques redes de produção de tilápia. Os produtores avaliam que a produção já caiu 40%, a maior desde 1980, quando a atividade começou na região.
Ruínas inundadas
A seca no interior paulista tem trazido lembranças do passado em algumas cidades. Em Rubinéia, na região de Santa Fé do Sul, que teve parte da cidade inundada nos anos 1973 com a formação da hidrelétrica de Ilha Solteira, ruínas da cidade antiga puderam, novamente, ser vistas pela população. As ruínas começaram a aparecer em junho, atraindo até turistas. No local, segundo moradores, é possível até mesmo identificar um antigo botequim, o “Fecha Nunca”, que foi cenário de muitas histórias do passado.
“O local era a última parada dos trens da Estrada de Ferro Araraquara, no fim da década de 1930. Dali para frente, só com as balsas para atravessar o rio com destino a Mato Grosso do Sul”, lembra o secretário de turismo da cidade, Carlos Fernando da Silva.
Em Pereira Barreto, é a Ponte Novo Oriente, construída em 1930 pelo governo japonês e alemão, que está atraindo curiosos. A ponte ainda não pode ser vista fora da água, mas devido à baixa das águas, já é possível ver o arco da ponte na superfície. Essa ponte ficou submersa em 1990 quando a Hidrelétrica de Três Irmãos foi inaugurada.
Fonte:Globo Rural/Viviane Taguchi, de Pereira Barreto e Suzanápolis (SP)
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