Terminal ainda precisa da autorização da Receita Federal e do aval da população, que vai decidir em audiência pública se permite a passagem de caminhões por dentro da cidade
Quase seis meses após a inauguração, o Porto Itapoá, em Santa Catarina, um terminal privado de R$ 475 milhões, exclusivo para o embarque de contêineres, continua parado. Anunciado como grande concorrente dos portos do Sul do país, principalmente os de Paranaguá e Itajaí, o terminal ainda não possui autorização da Receita Federal para agendar a vinda de seu primeiro navio.
As obras da rodovia SC 415, que ligariam o terminal diretamente a BR-101, também estão atrasadas e só devem terminar em dezembro, segundo estimativa da Superintendência Regional Norte do Departamento de Infraestrutura (Deinfra) do estado vizinho. Com isso, os caminhões com contêineres terão de passar por dentro da cidade, pelo mesmo caminho usado para a construção do terminal. Mas isso só será possível se a população aprovar a passagem em duas audiências públicas, que devem ocorrer nesta semana, e a Câmara Municipal votar uma nova lei com o trajeto e o período de um ano para sua utilização.
Investimento
Paranaguá vai ampliar terminal
A ampliação de 880 para 1.195 metros do cais do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP) começará em 30 dias, segundo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). Serão investidos R$ 120 milhões na manobra que aumentará em 50% a capacidade operacional do TCP, passando dos atuais 800 mil TEUs/ano para 1,2 milhão de TEUs/ano. A obra deve ser concluída em 20 meses e deve aumentar a competividade do TCP frente ao novo concorrente de Itapoá.
Também está planejada a aquisição de novos aparelhos para a operação portuária: três novos portêineres (guindaste que descarrega o contêiner no navio), seis transtêineres (empilhadores de contêineres no pátio), dez caminhões “terminal tractors” e dez caminhões “terminal trailers”. Os equipamentos devem ser entregues em até nove meses.(FZM)
Tráfego pesado preocupa moradores
Se as previsões da Superintendência Regional Norte do Departamento de Infraestrutura de Santa Catarina (Deinfra) estiverem certas e a construção da SC 415 for até o final da adição do contrato da empreiteira, em dezembro deste ano, as 650 mil pessoas que costumam passar a temporada em Guaratuba e Itapoá enfrentarão o tráfego pesado de mais de 250 caminhões por dia no acesso de Garuva.
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A licença de operação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) saiu na última sexta-feira e a Habilitação de Tráfego Internacional (HTI) da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq), do Ministério dos Transportes, deve ser publicada amanhã, de acordo com a própria agência. Esses dois licenciamentos e mais uma penca de documentos possibilitam o pedido de alfandegamento à Receita Federal. “É de nosso interesse começar a operar o quanto antes, principalmente porque sabemos que é um trabalho gradativo. Nossa estimativa é começar cerca de 50 caminhões por dia, um navio por semana. Em dezembro já devemos atingir uma média entre 250 e 450 caminhões”, explica o diretor comercial Patrício Júnior. Segundo a Receita Federal, não prazo legal para a liberação do alfandegamento, mas esse tipo de processo tem sido concluído em apenas dez dias.
O Porto Itapoá é uma holding de investidores que pretende faturar R$ 250 milhões ao ano até o fim de 2013. A transportadora marítima alemã Hamburg Süd, atuante também em Paranaguá, possui 30% das ações por meio da subsidiária brasileira Aliança, operadora de navegação de cabotagem (transporte entre portos ou terminais do mesmo país). Os outros 70% são do consórcio Portinvest, formado pela BRZ Investimentos (40%) e pelo grupo Battistella (60%).
Com a previsão de mais investimentos futuros, em diferentes fases de ampliação, o Porto Itapoá quer ir dos 500 mil TEUs (unidade de contêineres de 20 pés) iniciais para 2 milhões TEUs em uma quinta etapa, em meados de 2014. Maior que o porto de Navegantes (SC), mas menor que o de Paranaguá, no entanto, a maior ambição do Porto Itapoá não é exatamente volume, mas sim a velocidade. “Queremos ser uma opção eficiente, rápida, de transporte para cargas no exterior e também para outros portos do país”, frisa o diretor comercial. Para isso foram investidos R$ 100 milhões apenas em equipamentos e sistemas de tecnologia.
Itapoá possui quatro portêineres (guindastes que colocam o contêiner no navio) e 11 transtêineres (empilhadores de contêineres no pátio). Movidos a eletricidade, os aparelhos chineses prometem reduzir pela metade o tempo normal de embarque de cada contêiner - hoje o principal gargalo do Porto de Paranaguá.
Trajeto temporário
O trajeto que será usado temporariamente pelos caminhões até a conclusão da SC 415 já foi aprovado pelo Conselho Municipal de Itapoá com algumas modificações. Apenas 2,5 quilômetros dos mais de 10 quilômetros que compõem o trajeto são asfaltados (veja detalhes ao lado) Segundo o prefeito Ervino Sperandio (PSDB), a contrapartida do Porto Itapoá será justamente pavimentar o restante e ainda fazer algumas melhorias, como ciclovias ao longo de alguns trechos. “Na alta temporada, entre dezembro e janeiro, nosso município de 14.775 habitantes passa a abrigar 250 mil pessoas. É uma receita grande que vem para o comércio, mas não necessariamente para o município. O porto, por sua vez, vai representar um incremento de cerca de R$ 500 mil ao mês só em Imposto Sobre Serviços (ISS)”, afirma o prefeito.
Com uma quadro de 600 funcionários (40% de Itapoá) até o fim deste ano e a estimativa de criação de 2,5 mil postos indiretos, o porto tem a força de ser o maior empregador da cidade.
Passando pelas duas audiências públicas desta semana, o trajeto deve ser votado em forma de projeto de lei na Câmara Municipal, com prazo de um ano de utilização. A não ser que a população faça barulho, o projeto passará fácil pelos vereadores.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)/Fabiane Ziolla Menezes - Itapoá (SC)
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