Medidas necessárias para evitar novos acidentes envolvendo produtos químicos e explosivos no Porto de Santos constam de um relatório elaborado por um grupo de trabalho coordenado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP). O material recomenda, entre outras ações, adequações de legislações, a intensificação da fiscalização em locais onde são manuseadas cargas perigosas e ainda a implantação de planos de gerenciamento de riscos.
Algumas dessas propostas já estão sendo providenciadas.
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O incêndio que atingiu os tanques do terminal retroportuário da Ultracargo, na Alemoa, em Santos, em abril do ano passado, foi o grande motivador da elaboração do estudo. A ideia é prevenir sinistros do tipo e planejar ações em casos de futuros acidentes similares.
O material foi elaborado em parceria com representantes de entidades como a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), além da Associação Brasileira de Terminais Líquidos (ABTL), Associação Brasileira de Transporte de Produtos Perigosos (ABTLP) e a Universidade de São Paulo (USP). Representantes da Petrobras Transporte (Transpetro), da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de São Paulo também participaram.
O documento foi gerado a partir das conclusões do fórum Incêndio Alemoa – O que ocorreu e o que precisa mudar, realizado em 20 de maio do ano passado, na Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos (AEAS). O evento contou com mais de 600 participantes e serviu para discutir o atendimento à ocorrência, que levou nove dias para ser combatida.
“Quando vimos que esse evento foi assistido via internet em três continentes, 12 países e 23 estados, percebemos que esse era um problema não só de Santos e de São Paulo. É um problema mundial e nós tínhamos que tirar uma lição desse incêndio”, destacou o presidente do Crea-SP, Francisco Kurimori.
Segundo o engenheiro, a entidade aguarda um laudo do Instituto de Criminalística (IC) que vai apontar as responsabilidades pelo incidente, para providenciar possíveis punições. Desde o incêndio da Ultracargo, há um ano e quatro meses, 310 empresas já foram vistoriadas pelo Crea-SP e tiveram 2.959 atividades monitoradas para identificar a qualificação de seus responsáveis técnicos.
A ideia é assegurar que todos os procedimentos adotados são supervisionados por engenheiros habilitados.
Neste contexto, o coordenador estadual de Defesa Civil, coronel José Roberto Rodrigues, destaca a necessidade de adequação imediata de todos os órgãos envolvidos na movimentação de produtos químicos inflamáveis. “Tudo deve ser levado em conta, porque qualquer item desse relatório que não for seguido pode culminar em um acidente e na demora para atendimento da emergência”, disse.
Combate
Entre as medidas que devem ser implantadas, o coordenador do estudo do Crea-SP, o engenheiro André de Fazio, destaca a implantação de três bases de Líquido Gerador de Espuma (LGE), composto utilizado no combate às chamas do incêndio da Ultracargo. “Qual é o volume mínimo necessário para termos no Porto de Santos? Nós acreditamos que cada base deverá ter, pelo menos, 100 mil litros desse produto”, explicou.
Esta medida está sendo negociada com a Aeronáutica, já que o material, fundamental para combater incêndios causados por produtos químicos, deverá ficar disponível em três bases aéreas: a de Santos (em Guarujá), a de Recife (PE) e a de Brasília (DF). Os locais foram definidos conforme a localização e a possibilidade de deslocamento rápido.
Para o subcomandante do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, o coronel Cassio Roberto Armani, esta é uma medida fundamental para garantir um rápido combate ao fogo. “Quando ocorre esse tipo de incêndio, eles são de longa duração, requerem quantidade grande de equipamentos, logística e recursos humanos. Mas, apesar de nós termos equipamentos e tecnologia, eles têm de ser operados por pessoas e elas precisam ser treinadas”.
O oficial também destaca a necessidade de um levantamento dos riscos das atividades que envolvam cargas químicas. “A atuação profissional e a gestão de segurança de incêndios em terminais portuários e retroportuários é fundamental. Você pode ter o equipamento, a pessoa treinada, normas, mas você precisa gerenciar o risco. E esse é um trabalho que é diário”, afirmou. s
Fonte: Tribuna on-line/FERNANDA BALBINO