Em 45 dias, no início de fevereiro, a Universidade de São Paulo (USP) entregará o primeiro relatório dos estudos sobre os impactos da dragagem do Porto de Santos. O contrato para o início dos trabalhos foi assinado na segunda-feira(21) e a pesquisa, que irá abordar os reflexos ambiental e econômico do serviço, custará R$ 10 milhões aos cofres da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).
Esses estudos serão elaborados por pesquisadores da Escola Politécnica da USP, sob a coordenação de especialistas nas engenharias Naval, Oceânica, Civil e Mecatrônica. O Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH), órgão subordinado à Secretaria de Portos (SEP), também atuará nos trabalhos, que terão a consultoria do professor Gilberto Fialho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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A capacidade de tráfego do canal de acesso ao Porto, o comportamento da via de navegação com 15 metros de profundidade e a possibilidade geométrica para a circulação de embarcações com 360 e 400 metros de comprimento serão avaliados pelos especialistas da USP. A definição das obras de proteção necessárias para evitar a erosão nas praias e a deposição de sedimentos no canal, com o objetivo de otimizar o volume de material a ser dragado, também está prevista no contrato.
Para a realização dos estudos, serão viabilizados modelos matemático e físico, sendo que este último envolve a construção de um modelo reduzido do canal e do estuário para avaliar, inclusive, os efeitos da dragagem nas praias.
“Esse primeiro estudo vai se basear em modelos matemáticos. Nós vamos fazer simulações em que vamos ver qual é o impacto que tem a dragagem com o assoreamento da Ponta da Praia. O segundo estudo, também por modelo matemático, é sobre o impacto econômico se reduzirmos a largura do canal. Nós temos uma largura de 220 metros. Se reduzirmos para 170 metros, o que impactará? Quais as restrições que nós teremos na entrada de navios de maior porte? E o que isso representará de impacto econômico, já que 25% da economia brasileira passam por aqui. Nós temos que ter a cautela e o cuidado de estudar e dar respostas conscientes em números e fatos para não termos nenhum achismo. Temos que ter fatos concretos”, destacou o diretor-presidente da Codesp, José Alex Oliva.
Primeiro relatório
O executivo explica que a USP terá 24 meses para a elaboração dos trabalhos. No entanto, em uma primeira etapa, a instituição deverá produzir um relatório, em atendimento a um acordo firmado com o Ministério Público Federal (MPF), em agosto.
A dragagem é apontada como principal causa da erosão nas praias de Santos. Por isso, o órgão pediu, na Justiça, a restrição do alargamento do canal de acesso ao Porto. Em uma audiência de conciliação, a Docas se comprometeu a contratar um estudo para avaliar os impactos ambientais da obra.
“Celebramos um acordo de trabalho, de cooperação, onde vamos conseguir dar respostas num alto nível, com melhor tecnologia, melhor saber, com pessoas que podem responder a nossos questionamentos, nossas dúvidas e até os anseios de alguns que, por achismo, acham que o Porto é o único responsável pelo assoreamento da Ponta da Praia. Já podemos saber que não é sozinho. Ou talvez seja. O que vai dar a resposta, com certeza, será o estudo que será feito aqui”, destacou Oliva.
Estrutura
De acordo com o coordenador do Centro de Simulações de Manobras do Tanque de Provas Numérico (TPN) da Escola Politécnica, Eduardo Tannuri, quatro laboratórios serão utilizados nos estudos.
Em uma primeira etapa, serão avaliados os impactos das restrições propostas pelo MPF. A redução do navio-tipo do cais santista, mudanças em escalas de atracação e questões econômicas e logísticas serão abordadas.
Para isso, serão construídos, pelo menos, dois tanques. Um deles terá cerca de 3.200 metros quadrados, onde serão avaliadas correntes, manobrabilidade e amarração.
Fonte: A Tribuna online/FERNANDA BALBINO