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Navalshore

Rio ganha um museu dedicado a ciências

Nos totens monumentais, de 10 m de altura por 3 m de largura, o visitante é exposto a imagens que mostram - numa espécie de cinema de seis telas dispostas em círculo - o poder da intervenção humana sobre a face da Terra: megalópoles, extensivas plantações geométricas e o icônico arquipélago artificial em forma de palmeira em Dubai. "Nós moldamos o presente. O que queremos ser amanhã?" - a pergunta a ser decifrada surge no centro da construção longilínea, orçada em R$ 215 milhões e que nasce com a vocação de ser o novo cartão-postal do Rio de Janeiro.

Estamos no Píer Mauá, no Museu do Amanhã, um museu de ciências "diferente", desenhado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o mais complexo empreendimento concebido pela Fundação Roberto Marinho (FRM), cujo trabalho, em parceria com instituições públicas e privadas, tornou-se referência internacional na área. É o quinto museu erguido em dez anos, depois do Museu da Língua Portuguesa (2006), do Museu do Futebol (2008), ambos em São Paulo, do Paço do Frevo, no Recife, e do Museu de Arte do Rio (MAR), ambos em 2013.


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Quando for inaugurado nesta quinta-feira por autoridades e no sábado para o público, o Museu do Amanhã será a concretização de projeto iniciado em 2008, a partir das discussões de um time de empreendedores e ambientalistas, entre eles José Roberto Marinho, presidente da FRM e vice-presidente do Grupo Globo. Naquele ano, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), acabara de se eleger. Dizendo-se enciumado pelo fato de a FRM ter construído dois museus em São Paulo, sugeriu algo semelhante para o Rio.

Da turma de colegas ligados à sustentabilidade - entre eles o economista e ex-presidente do IBGE Sérgio Besserman; o ex-presidente do Ibama Eduardo Martins; o professor de história ambiental José Augusto Pádua e o diretor-geral da fundação, Hugo Barreto - saiu a concepção de um museu de ciência voltado para o tema.

"Eu fiz [faculdade de] geografia. Já tinha cabeça de ser preocupado com o planeta. Como tudo começa com os incentivos que você tem em casa, me lembro que tinha uma enciclopédia da 'Life', onde havia essas coisas de biologia, da natureza etc. Eu era muito ligado nisso", conta José Roberto Marinho, que foi o primeiro presidente da WWF, no Brasil, ONG internacional dedicada à conservação da natureza.

Em 1992, fundou o Instituto Acqua. "Há mais de 20 anos a gente já previa o que está acontecendo agora. O nosso discurso já era este, da crise hídrica, da recuperação dos rios, da conservação das bacias", diz. A preocupação com o impacto da ação do homem sobre a Terra e quais serão suas consequências - das mudanças climáticas às de comportamento - estão por toda parte no Museu do Amanhã. A visita é permeada pela ideia de que estaríamos vivendo, como defendem alguns cientistas, uma nova era geológica, o Antropoceno - posterior ao atual Holoceno, iniciado há cerca de 11 mil anos.

Evidências do Antropoceno são os efeitos globais da presença humana, comparáveis ao impacto que meteoros, terremotos, "tsunamis" e vulcões, por exemplo, já tiveram sobre o planeta, com a capacidade de mudar os rumos da história. Na nova era, ocorreria o inverso: é a história - com a intervenção do homem - que se torna geologia. A civilização muda a composição da atmosfera, degrada biomas e modifica o clima; as consequências poderão durar milênios. "As últimas gerações, desde a Revolução Industrial, vêm alterando esta casa Terra como nunca antes. As ameaças são produtos dos avanços da ciência e da tecnologia", afirma Hugo Barreto, que esteve à frente da construção dos outros quatro museus da FRM. A inauguração do sexto, o Museu da Imagem e do Som (MIS), em Copacabana, está programada para o ano que vem.

"Sem querer ser cabotino, já procurei qual instituição no mundo concebeu cinco museus em dez anos e não encontrei. Cada um tem, em média, uma 'gravidez' de cinco a sete anos", diz.

O Museu do Amanhã, ressalta, segue a linha de novos museus pelo mundo, menos baseados em acervo e mais em experiências e interatividade, como o Newseum e o Museu do Holocausto, nos Estados Unidos, e o da Língua Portuguesa e do Futebol, em São Paulo.

No segmento de museus de ciência, afirma Barreto, o Amanhã provavelmente está abrindo uma terceira vertente, por ser experiencial, já que os dois principais tipos em atividade são os museus de história natural - com acervos sobre vestígios da evolução das espécies - e os que reproduzem experimentos científicos, como o do Parc de la Villette, em Paris, e o Catavento, na capital paulista.

Diferentemente desses, o Museu do Amanhã oferece um contexto social e cria um clima que lembra o documentário "Uma Verdade Inconveniente" (2006), promovido pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore. Logo no início do percurso, o visitante entra num grande globo negro, onde imagens em 360º - produzidas pela O2 Filmes, do cineasta Fernando Meirelles - o levam a uma imersão poética pelo cosmos.

Em seguida, no segmento Terra, três grandes cubos - o primeiro revestido com 280 fotos do planeta - e telas interativas procuram responder à pergunta "Quem somos?", em ambientes denominados Matéria, Vida e Pensamento. Entre os destaques está a instalação do artista americano Daniel Wurtzel, no balé de movimentos de um tecido suspenso pelo ar.

A terceira parte, em torno da questão "Onde estamos?", é o Antropoceno, com os tais totens monumentais cuja altura é uma metáfora de que a ação do ser humano "já está batendo no teto". No quarto espaço, Amanhãs, a pergunta é "Para onde vamos?" e traça perfis do visitante, por meio de jogos interativos, como Pegada Ecológica (sobre nível de seu consumo); Jogo das Civilizações, cujo desafio é montar um ambiente sustentável por cem anos, e Jogo Humano do Amanhã, desenvolvido pela produtora do apresentador de TV Marcelo Tas, que resulta em 12 tipos de pessoas, do "marciano melancólico" ao "terráqueo pé-atrás".

Leo Pinheiro / ValorPara o diretor-geral da FRM, Hugo Barreto, museu inicia nova vertente
O percurso do museu, que tem curadoria do físico e cosmólogo Luiz Alberto Oliveira, termina em Nós, uma espécie de oca ou colmeia de madeira que abriga a única peça de acervo: uma churinga, considerada um amuleto sagrado pelos aborígenes australianos. "Simboliza o conhecimento acumulado ao longo do tempo, numa conexão entre passado, presente e futuro. Metaforicamente, nosso museu pretende ser uma churinga", diz Barreto.

Com função quase análoga, um cartão interativo poderá identificar que espaços foram percorridos e lembrar, para uma próxima visita, o que eventualmente não foi visto ou jogado.

Iniciativa da Prefeitura do Rio - ao lado do MAR - para ser uma âncora do projeto de revitalização da região portuária, o Museu do Amanhã foi ele próprio construído segundo critérios de sustentabilidade. Com seis bombas, seu sistema de climatização suga as águas frias do fundo da Baía de Guanabara, o que diminui o consumo de energia. Depois de filtrada, a água é armazenada nos espelhos d'água ao redor do edifício e são devolvidas à baía, em forma de cascata. Além da função estética, os espelhos d'água reduzem em até 2°C a temperatura próxima aos jardins.

Calhas vão receber a água da chuva. Na cobertura, painéis movimentam-se acompanhando a trajetória do Sol e captam energia capaz de atender 9% do consumo total. Até as formas do museu estão sintonizadas com a natureza. Para desenhá-lo, Calatrava - célebre por obras em Barcelona, Valência, Nova York, Atenas e Veneza - buscou inspiração nas bromélias do Jardim Botânico e do Sítio Roberto Burle Marx.

O Santander, patrocinador master do museu, será responsável pela compensação das emissões de carbono geradas por resíduos e pelo consumo de energia elétrica. O banco investiu R$ 65 milhões, dos quais R$ 35 milhões foram para a implementação e R$ 30 milhões serão aportados nos próximos dez anos.

O Museu do Amanhã - que ainda conta com a BG Brasil como mantenedora e tem apoio dos governos estadual e federal - será gerido pela Organização Social IDG e tem como meta atrair 450 mil visitantes por ano. É uma média acima da já atingida pelos museus do Futebol e da Língua Portuguesa.

Depois deles e do MIS, a Fundação Roberto Marinho adicionará uma nova camada à sua trajetória - iniciada com o Telecurso e a preservação do patrimônio histórico - e não lançará mais museus. "Essa quantidade está boa porque precisamos cuidar da manutenção", diz Marinho. No foco, estarão projetos de sustentabilidade que melhorem o futuro das cidades. É a fundação do amanhã, na prática

Fonte: Valor Econômico/Cristian Klein | Do Rio

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