O fundo canadense Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) poderá fazer um aporte bilionário no grupo Cosan, apurou o Valor. As negociações, que começaram ainda quando a companhia estava em conversações para entrar no bloco de controle da América Latina Logística (ALL), seguem avançadas, segundo fontes. O valor desse aporte é de cerca de R$ 1 bilhão e será destinado para a Cosan Infraestrutura. Embora tenha oficializado ontem o fim das negociações com a ALL, conforme antecipou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, o grupo, controlado pelo empresário Rubens Ometto de Silveira Mello, não desistiu de avançar em infraestrutura, sobretudo nas áreas portuária e ferroviária.
Dona de uma carteira de cerca de US$ 180 bilhões em investimentos, o fundo canadense busca investimento em infraestrutura nos mercados emergentes. No Brasil, esse fundo é o maior sócio individual da Aliansce, uma das principais empresas de shoppings do país. Procurado pelo Valor, o CPPIB informou que não comenta "rumores de mercado".
Parte dos recursos que podem ser aportados na Cosan seria destinada à ALL, mas com o fim das negociações entre as duas companhias, o grupo deverá usar o dinheiro em futuros negócios na área de infraestrutura e logística que estão ainda em prospecção.
O desejo de avançar em infraestrutura é um sonho antigo da Cosan. As negociações com a ALL, anunciadas oficialmente em fevereiro do ano passado, eram dadas como certas - a companhia fez oferta de R$ 896,5 milhões para a compra de 49,1% de participação na empresa férrea (ou 5,6% do capital total), que pertencem aos acionistas Ricardo Arduini, conselheiro da ALL, de sua esposa Julia Dora Koranyi Arduini, e da GMI (Global Market Investiments L.P.), representada pelo presidente do conselho de administração da ALL, Wilson de Lara. Um ano e meio depois, as conversações desandaram. Nesses últimos meses, para que o negócio avançasse, foram incluídos nas operações os fundos de pensão Previ, Funcef e BNDES, que também venderiam parte de suas fatias.
Nos últimos dias, os sócios de ALL e Cosan haviam avançado em governança, que emperrava as conversas. O ponto mais delicado era os limites que o BNDES queria impor, por meio de cláusulas de "non-compete", para a atuação da empresa de logística da Cosan, a Rumo Logística. O BNDES, que fala também pelos fundos de pensão, queria que a Cosan não competisse em todo o país. A Cosan considerava que a cláusula só poderia valer para áreas onde a ALL atua, ou seja, do Centro-Oeste para baixo, segundo fontes. Chegou-se a um modelo para esse ponto, mas a conversa parou mesmo quando a Cosan apresentou a proposta de aumento de capital da ALL, o que diluiria a fatia dos atuais sócios.
Em conferência ontem com o mercado, Marcos Lutz, presidente da Cosan, disse que o grupo já tem um time engajado, capitaneado pelo executivo Júlio Fontana, para estudar oportunidades em infraestrutura, sobretudo em terminais intermodais e sistema portuário, para criar soluções integradas. A Cosan não descarta entrar como operadora independente em ferrovias, mas precisa ter uma definição mais clara do marco regulatório desse setor em discussão no governo federal. Segundo ele, a Rumo já tem toda uma estrutura montada e o acordo em vigor com a ALL não deverá ser afetado com o fim das negociações.
Para a ALL, fica uma incógnita. A entrada da Cosan no bloco de controle era citada por analistas como um risco para as ações do grupo. Isso porque o mercado tinha receios de que a Cosan levasse a ALL a investir mais em infraestrutura - afetando seus balanços - justamente em um momento em que os números da companhia se mostram mais fracos que o esperado. Porém, a conhecida gestão agressiva da Cosan poderia imprimir maior eficiência à ALL, considerada engessada.
De qualquer forma, os investidores receberam bem a notícia do fim das negociações. Ontem, as ações fecharam em alta de 8,6%, a R$ 9,54. Outras preocupações para a ALL, no entanto, continuam - como desaceleração da economia, competição com rodovias e marco regulatório. Além disso, há preocupação recorrente com o fluxo de caixa da companhia férrea - nos últimos tempos, negativo. "Nossa principal preocupação continua, pois a ALL continua a lutar para gerar caixa", de acordo com relatório do Morgan Stanley.
No primeiro semestre, o fluxo de caixa livre ficou no vermelho em R$ 300 milhões. E a expectativa da empresa era que o término dos investimentos na expansão da ferrovia até Rondonópolis (MT) - que custou R$ 750 milhões - ajudassem a reverter o quadro. Mas os aportes estão praticamente concluídos e o caixa continua negativo. Fontes dizem que o grupo buscará novas formas para se capitalizar. Procurada, a ALL informou que "o assunto foi discutido na esfera de acionistas e não traz impacto ao dia-a-dia da companhia".
Fonte: Valor Econômico/Por Vera Brandimarte, Mônica Scaramuzzo e Fábio Pupo | De São Paulo
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