Como evitar o impacto do isolamento social e confinamento na saúde mental dos trabalhadores na indústria offshore
O trabalho na indústria Offshore é uma atividade conhecidamente estressante. Os trabalhadores estão expostos a condições excepcionais de trabalho e a uma variedade de fatores de estresse físicos, incluindo condições climáticas adversas, longas jornadas de trabalho, trabalho noturno, ruído, vibração e falta de ventilação. Os trabalhadores também estão expostos a fatores de estresse psicossociais, que incluem isolamento social, distância da familia, alta responsabilidade, pressão da carga de trabalho, fadiga e alteração da rotina de sono.
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Vários estudos mostram que os trabalhadores da indústria offshore têm mais transtornos de ansiedade e depressão do que a população em geral. Eles mostram que entre 15 e 20% dos trabalhadores offshore tinham distúrbios psicológicos, incluindo ansiedade obsessiva, fobia, depressão, nervosismo e irritabilidade. A longa exposição a fatores de estresse no setor offshore pode potencialmente levar ao desenvolvimento de distúrbios psicológicos contribuindo paraa ocorrência de acidentes no local de trabalho e perdas significativas de material.
Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a COVID19 como uma pandemia, causando a maior crise de saúde, social e econômica do nosso século. Todos os continentes e quase todos os países foram afetados e obrigados a estabelecer políticas públicas para reduzir o avanço da doença em suas populações, além de atenuar os impactos econômicos.
Assim como em muitas das atividades elencadas como essenciais pelo Governo Federal, a indústria offshore teve que se adaptar à nova realidade, mantendo seu funcionamento, sem colocar em risco seus colaboradores. Em maio de 2020, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) liberou uma série de procedimentos para embarque e desembarque de tripulantes de embarcações e plataformas (Link). Em seu posicionamento, todos os tripulantes deveriam cumprir 14 dias de quarentena, em domicilio ou na rede hoteleira, antes da data do embarque, sendo monitorados e orientados pelos profissionais da saúde responsáveis.
Além da incerteza natural causada por uma pandemia gerar medo e angústia correlacionados aos riscos de contágio, impactos econômicos e ao futuro de forma geral, tal recomendação, associada às caracteristicas já estressantes da atividade offshore, propiciam um impacto imediato na saúde mental dos trabalhadores, uma vez que tais quarentenas ocorrem em locais pequenos e com a possibilidade de movimentação diária reduzida (próprio lar ou hotéis).
Um estudo publicado por pesquisadores chineses em abril deste ano demonstrou que logo nas primeiras semanas de isolamento social, o aumento dos sintomas de estresse, depressão e ansiedade aumentaram significativamente em mais de 100 cidades Chinesas. Outros estudos posteriores confirmaram estes resultados e demonstraram que o isolamento social e redução da movimentação diária possuíam correlação com aumento no consumo de álcool e alimentos açucarados, diabetes, doenças cardíacas e, infelizmente, suicídios.
É sabido que quanto mais tempo uma pessoa fica privada de se movimentar, além do aumento dos sintomas depressivos e de ansiedade, maiores são seus níveis de estresse e esgotamento, então evitar os impactos do confinamento e da queda da capacidade de movimentação se tornou ainda mais fundamental nessa pandemia.
Inevitavelmente esse panorama não deve se alterar até que ocorra imunização das tripulações, e, por isso, estratégias para manter a segurança e saúde física e mental dos tripulantes em quarentena pré-embarque são de extrema relevância para fortalecê-los e minimizar os impactos causados pela ociosidade causada pelo confinamento.
Uma estratégia simples e com alta eficiência é estimular a prática de pequenos estímulos neurofisiológicos de 10 a 20 minutos que proporcionam ao corpo a maior capacidade de manter a qualidade de vida durante o período em isolamento. Estimulando a ativação do corpo 2 a 3 vezes por dia, ocorre a ativação sistêmica do corpo e evita-se que os profissionais se mantenham muitas horas em comportamento passivo ou sedentário, como por exemplo, sentado ou deitado vendo TV ou no celular. Adicionando-se a tais ativações, palestras especializadas e estímulos de boas leituras para que se amplifique o conhecimento e exercite a mente, observa-se melhoria significativa no comportamento dos profissionais.
O trabalho em embarcações e plataforma requer muita força física e mental, além de alta capacidade de resiliência, porém, o momento que vivemos nos impõe uma maior atenção sobre o nível de estresse gerado pelos períodos de quarentenas e pelos sentimentos comuns relacionados a uma crise desta magnitude. Por isso, executar ações voltadas à saúde mental dos trabalhadores em quarentena pré-embarque se mostra imprescindível para minimizar o impacto desse efeito estressor, zelando pela manutenção da produtividade e segurança a bordo das unidades offshore.
Daniel Sandy é gestor de stress ocupacional e mestre em Ciência da Motricidade Humana e criador do Programa Gestão de Stress Ocupacional ‘’Movimento para Vida” (MpV), que atua na gestão do stress ocupacional em empresas de óleo e gás e energia