A cooperação econômica Brasil-Alemanha comprova, há muito tempo, como as histórias de sucesso podem ser escritas. E esta parceria não se resume aos gigantes da indústria. A força por trás desta confiável e eficiente cooperação está nas pequenas e médias empresas, conhecidas no mundo como "German Mittelstand". Essas empresas sabem muito bem como se destacar nos cenários regional e mundial, muitas vezes até em condições nas quais as grandes empresas empatam. E exatamente com as pequenas e médias empresas é que a Alemanha tem ainda muito mais a oferecer para o Brasil.
Seja no setor de serviços, no de bens de capital, no de energia sustentável ou no de tecnologia da informação, a parceria entre os dois países é um casamento perfeito para enfrentar os desafios futuros e demandas do cenário global cada vez mais competitivo.
A presença industrial alemã no Brasil é referência mundial! A palavra-chave aqui é tradição. Não é a toa que São Paulo é tida como uma das maiores cidades industriais alemãs do mundo fora da Alemanha. A vinda de empresas alemãs para o país pode ser concentrada em três grandes fases. A primeira marcou época: muito bem-sucedida nos anos 1950, baseou-se na vinda da indústria automotiva, eletroeletrônica, química e a de bens de capital. A segunda, infelizmente, deixou um pouco a desejar durante as privatizações dos anos 90, no que tange à participação de empresas alemãs nos setores bancário, de energia, de trânsito e de infraestrutura.
A diferença desta vez é o modelo. Haverá menos troca de mercadorias e mais troca de conhecimento
E agora vivemos uma assim chamada terceira fase da presença alemã no cenário econômico brasileiro, que começou no início deste século e vai se reforçar na próxima década de forma essencial: o Brasil está diante de uma completa modernização, exigida por um setor industrial ávido por crescimento e por uma pulsante população. E é exatamente neste cenário que estão atreladas novas chances para a indústria alemã no Brasil, em novos setores e em novas áreas de atuação. E desta vez a indústria alemã não deixará a oportunidade passar.
Foi exatamente neste contexto que uma simples pergunta mudaria para sempre a percepção do Brasil na Alemanha. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi muito claro quanto a isso em sua última visita como chefe de Estado em 2009, na Alemanha, perguntando: "Onde estão os alemães?" e chamando a indústria alemã para reforçar seu envolvimento no Brasil, mostrando que a corrida das nações por mais presença no país estava a pleno vapor e a Alemanha talvez não estivesse "dando as caras" como poderia. Esta pergunta mexeu com o empresariado alemão. De tal forma, que mesmo antes da volta do presidente Lula ao Brasil, foi criado um "Brazil Board" da indústria alemã. Formado por grandes, pequenas e médias empresas, que representam quase 25% do PIB alemão, o Brazil Board virou uma plataforma única na Alemanha - já que nenhuma outra nação é tratada em um grêmio exclusivo na indústria - assegurando assim que o Brasil recebesse a mais alta atenção tanto da política como da iniciativa privada. Com isso, todas as premissas foram estabelecidas para que uma nova etapa na cooperação bilateral começasse.
É fato que praticamente não existe nenhuma grande empresa alemã que não esteja presente no Brasil de forma consistente e, na maioria dos casos, há décadas. Mas o maior responsável pela atual expressiva cooperação bilateral repousa efetivamente no "German Mittelstand". Mesmo assim, o empresariado ainda tem uma percepção errônea e precisa derrubar alguns mitos persistentes na opinião comum. Um deles é que a presença no mercado brasileiro das pequenas e médias não é representativa e que só as "grandes" conseguem espaço. Os números não mostram isso. Atualmente o número de empresas com raízes alemãs no país chega a 1.600 e a porcentagem das pequenas e médias em torno de 90 %.
A diferença desta vez é o modelo. Teremos menos "troca de mercadorias" e mais "troca de conhecimento". Cada vez mais produtos alemães no Brasil darão espaço a produtos brasileiros desenvolvidos em parceria. Vivemos a era da inovação Brasil-Alemanha. Não que o comércio bilateral, que hoje já está perto de US$ 29 bilhões, deixará de existir. Pelo contrário, este volume poderá ultrapassar US$ 50 bilhões em 2020.
A equação da nova fase é simples: PMEs Brasil-Alemanha + inovação = valor agregado para ambos os lados. Porém, para marcar esta nova era faltava uma iniciativa que pudesse sacramentar a nova imagem da Alemanha no Brasil. E criar uma base para novas ideias, a chave de qualquer processo de inovação. Assim, a Temporada da Alemanha no Brasil chega no momento certo. Nos 12 meses anteriores ao início da Copa do Mundo estão sendo evidenciadas as estruturas e a qualidade da cooperação de nossos países em todos os setores de uma forma visível para o conhecimento público do Brasil. A então parceira histórica Alemanha praticamente se reinventa para o Brasil. É o maior empreendimento da Alemanha na América Latina, a partir de uma estreita cooperação das áreas política, econômica, cultural e acadêmica. E o BDI Brazil Board assumiu a coordenação geral do projeto.
A largada foi dada pela presidente Dilma Rousseff e pelo presidente alemão Joachim Gauck em maio passado. Desde então acontece uma ininterrupta e variada maratona de realizações que já conta com mais de 800 eventos em mais de 50 cidades brasileiras, além de eventos na Alemanha.
Sob o lema "Quando ideias se encontram", a Temporada da Alemanha põe em movimento o processo de dinamização que faltava para se alcançar um novo grau de qualidade na cooperação bilateral. Esta iniciativa vai conquistar a nova geração para a cooperação teuto-brasileira: a próxima geração na tecnologia, a próxima geração nas empresas, a próxima geração de pessoas. Funcionará como um catalisador, para que as soluções futuras teuto-brasileiras para o mercado mundial possam surgir.
Fonte: Valor Econômico/Stefan Zoller é presidente do BDI Brazil Board
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