A cada trimestre, o negócio de minério de ferro ganha mais peso nos resultados da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que cada vez mais ganha uma cara de mineradora. No último balanço financeiro, publicado na noite de segunda-feira e detalhado ontem a investidores, isso ficou evidente: o resultado anual foi beneficiado negócios na mineração e menos pelo comércio de aço. Além do aumento da receita e do resultado operacional (Ebitda) dessa área, o lucro da empresa foi engordado pelo ganho extraordinário de quase R$ 700 milhões resultante da venda de cerca de 20% do capital que detinha da produtora de carvão australiana Riversdale para a Rio
No quarto trimestre, o lucro foi de R$ 817 milhões, com alta de 81% sobre um ano antes. Apesar da evolução na última linha, que foi melhor do que a divulgada por suas concorrentes, como a Usiminas, o balanço da CSN não agradou em termos operacionais na reta final do ano. Para analistas do Barclays Capital, o desempenho abaixo das expectativas no trimestre e o baixo dividendo anunciado poderão ter reflexos negativos na performance das ações no curto prazo.
De outubro a dezembro, a siderúrgica obteve receita líquida de R$ 4,16 bilhões, com alta de 21% na comparação com o mesmo período de 2010. O minério de ferro respondeu por R$ 1,6 bilhão desse valor, maior 46% sobre igual período de 2010. No período, as vendas do produto, cujo principal cliente é o mercado asiático, atingiram volume recorde de 8 milhões de toneladas.
A mineração de ferro, operada pela companhia e pela controlada Namisa (60%), alcançou vendas de 29,3 milhões de toneladas no ano, volume recorde e 16% superior ao de 2010. Para 2012, a companhia projeta alta de 10,9% da matéria-prima do aço, somando 32,5 milhões de toneladas (considerando 100% da Namisa).
A CSN espera ainda que os volumes comercializados de minério alcancem 40,8 milhões de toneladas em 2013 e 47,8 milhões de toneladas no ano seguinte, segundo o diretor de mineração da siderúrgica, Daniel Santos.
O segmento de mineração, que respondeu por 35% da receita total da companhia no ano, obteve participação de 55% no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), ou R$ 3,77 bilhões. A margem Ebitda da atividade foi de 63%, ante uma receita líquida de R$ 5,9 bilhões (crescimento de 64%).
A direção executiva da CSN prevê atingir receita de R$ 6,99 bilhões com o segmento de mineração de ferro neste ano. E anunciou aos investidores e analistas, inclusive, as expectativas para os dois próximos anos: em 2013 alcançaria R$ 8,09 bilhões, saltando para R$ 8,9 bilhões em 2014. Esses valores consideram aumento dos volumes comercializados e do preço médio praticado no mercado internacional que tem a China com maior consumidor.
O crescimento do Ebitda dessa área virá a reboque, informou a empresa: passará a R$ 4,72 bilhões neste ano; sobe para R$ 5,22 bilhões em 2013 e para R$ 5,68 bilhões em 2014, sempre considerando-se 100% da Namisa. A parcela da CSN nesse indicador deverá ser de 85% em 2012, 84,5% em 2013 e 85,9% em 2014, informou.
A meta da empresa é vender em torno de 100 milhões de toneladas de minério no futuro, mas seus planos de expansão da mina Casa de Pedra, da Namisa e da capacidade do porto não estão acelerados como deveriam, alerta relatório do Barclays. Os analistas do banco apontam baixo volume de investimentos da CSN no quarto trimestre em relação ao crescimento projetado para o negócio. "Apenas 18% dos R$ 1,3 bilhão investidos pela empresa foram voltados à Namisa, à mina Casa de Pedra e à expansão do porto de Itaguaí", ressaltou o Barclays.
Em 2011, os preços do produto, na média, foram bons para as mineradoras. Mas refluíram no último trimestre devido à desaceleração da China e à crise na Europa, caindo de US$ 185 a tonelada ao patamar de US$ 116. Na reta final do ano estabilizaram no nivel atual de US$ 140 a US$ 145.
Controlada pela família Steinbruch e com atuação em siderurgia, mineração, cimento, logística (portos e ferrovias) e geração de energia, a CSN obteve receita consolidada de R$ 16,55 bilhões no ano passado, com crescimento de 14% sobre 2010.
As vendas de aço em 2011 foram de 4,9 milhões de toneladas, apenas maior que no ano anterior, sendo 86% para o mercado interno. A margem Ebitda, apesar de representar 56% da receita, caiu para 27% (ante 38% em 2010). Conforme analistas, ao se considerar o minério próprio usado pela CSN ao valor de mercado, esse percentual se reduz para a metade. (Colaborou Natália Veri, de São Paulo)
Fonte:Valor Econômico/ Ivo Ribeiro e Stella Fontes | De São Paulo
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