A empresa francesa Albioma, que produz eletricidade a partir do bagaço de cana-de-açúcar nas ilhas Maurício, no oceano Índico, e na Ilha de Guadalupe, no Caribe, desembarcou no Brasil. No maior país produtor de cana do mundo, a companhia pretende investir R$ 1,2 bilhão em até dez anos para adquirir e modernizar estruturas de cogeração já existentes em usinas brasileiras e, com isso, dobrar sua capacidade global instalada.
Nos próximos meses, a francesa, que tem capital aberto na bolsa de Paris e faturou € 373,8 milhões em 2012, deverá anunciar seu primeiro negócio no Brasil. Os aportes em projetos no país representam 40% do valor total que a empresa pretende investir na próxima década. O presidente da companhia no Brasil, o francês Frédéric Moyne, diz que o plano é atingir no país uma capacidade instalada de 600 megawatts (MW). Atualmente, nas oito plantas de biomassa da empresa, a capacidade é de 567 MW.
A Albioma abriu um escritório no Rio de Janeiro, montou equipe e há alguns meses negocia com usinas de cana a aquisição de plantas de cogeração de energia a partir do bagaço, conta Moyne. O modelo da companhia, explica o executivo, é diferente do adotado pelas concorrentes que hoje adquirem unidades de cogeração no Brasil. Em vez de comprar a "geração futura de caixa" da planta e deixar a operação para a usina, a Albioma adquire e também opera a estrutura de geração de energia.
Depois que os ativos de cogeração são separados em outra empresa, a Albioma, que atua há 20 anos nesse mercado, investe para elevar a produtividade da planta a um patamar entre 90 e 100 quilowatt (kW) de energia por tonelada de cana, acima da média das usinas brasileiras, que é de 70 kW por tonelada.
Em seu modelo de negócios, a multinacional, que tem assessoria financeira da área de consultoria da britânica Czarnikow, pode tanto comprar 100% do ativo de energia quanto uma participação majoritária. A preferência, diz Moyne, é que a sociedade com a usina de cana se concretize. "Queremos um parceiro para dividir riscos e ganhos". O acordo proposto, em contratos de dez a 15 anos, estabelece que a usina fornece o bagaço e a Albioma, a energia (em forma de vapor) necessária ao processamento de cana pela usina.
Segundo ele, a Albioma também vai estender seus conhecimentos em eficiência energética ao processo industrial de produção de açúcar e etanol da usina parceira. "Conseguimos reduzir o uso de energia dentro da indústria de cana. Assim, aumentamos o excedente de eletricidade disponível para ser comercializada", afirma.
Moyne avalia que a companhia tem potencial para se tornar um grande player em cogeração no Brasil. Segundo ele, há disponibilidade de matéria-prima no país e as usinas podem enxergar na venda desses ativos uma forma de se capitalizar para investir na produção de açúcar e etanol. "Essa indústria no Brasil está excessivamente alavancada e com necessidade de muitos investimentos agrícolas". Ele menciona como uma vantagem ao parceiro a redução de custos com manutenção da planta de cogeração, que passa a ser uma atribuição da Albioma.
Moyne não revela com quais usinas está negociando, mas afirma que a ideia é ter parceiros com gestão transparente e porte para processar, no mínimo, 2 milhões de toneladas de cana por safra.
Nos outros países onde atua, a Albioma tem plantas que funcionam com dois combustíveis (bagaço de cana e carvão), o que viabiliza seu funcionamento por 11 meses no ano (um mês de manutenção). No Brasil, além de bagaço, a empresa pretende operar com outras biomassas, como cavaco de madeira, que pode ser utilizado durante a entressafra da cana.
Além de produção de eletricidade a partir do bagaço da cana, que responde por 80% da operação da companhia francesa, a Albioma tem projetos de energia solar, que "também podem fazer sentido para o Brasil no futuro", diz o executivo.
O plano estratégico da empresa prevê investimentos totais de € 1 bilhão em dez anos (€ 100 milhões por ano). Além da fatia de 40% que deverá ser destinada ao Brasil, outros 40% serão aplicados em outras regiões onde a empresa - atua ou pretende atuar - e os 20% restantes serão destinados a projetos de biogás.
Fonte: Valor Econômico/Fabiana Batista | De São Paulo
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