Num barco de pesca na orla de Fortaleza, mais precisamente na altura do espigão da Rua João Cordeiro, um grupo de mergulhadores vibra com o término da Operação Cristais, realizada para a retirada de toda a carga que restou do Navio Amazônia, naufragado em novembro de 1981.
Nas duas pontas dessa história, a primeira deu-se quando um rombo no casco do navio inundou o convés, fazendo a embarcação, inclinada há 35 anos, afundar. Contêineres carregados de diversos materiais, entre eles madeira e louças de cristal, deslizam e pulam do navio, tocando o solo a dez metros de profundidade. Na outra ponta da história, caixotes de plástico são preenchidos com dezenas de bandejas de cristais intactas, embora com as cores da vida marinha lhe fazendo uma casca. Amarrados em uma corda, os caixotes são içados com uma boia inflada das águas do fundo do mar.
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O peixe era outro
Como um balão subaquático, o material emerge lentamente até a superfície, sendo puxado com outra corda para dentro da embarcação Seu Lulu, onde, entre os dias 21 e 24 de agosto deste ano, o peixe era outro. E foram 659 'peixes' fisgados em quatro dias.
"Eu acho que com isso estamos recuperando não só esses cristais, mas uma parte da história, que pode interessar os mais jovens", comemora o pesquisador Augusto Bastos, coordenador da operação, ao lado de Marcus Davis, da operadora de mergulho Mar do Ceará.
A história com o navio Amazônia, naufragado em 2 de novembro de 1981, teve um recomeço em 2012, quando o pescador Régis Freitas, mergulhador de apneia (desce a maiores profundidades apenas com o ar dos pulmões) esbarrou com um contêiner afastado do local do naufrágio do Amazônia.
A peça metálica, totalmente deteriorada, continha centenas de louças de cristais intactas tanto dentro quanto fora da estrutura. Cinzeiros, saladeiras, cálices e comporta para lustre são alguns dos materiais fabricados em Manaus e que teriam como destino o Rio de Janeiro. Em 2014, uma nova operação de mergulho avalia a dimensão da carga esquecida já havia 33 anos de mar.
Repórter ao mar
Naquele ano, a reportagem do Diário do Nordeste passa a acompanhar, com exclusividade, todos os preâmbulos que culminaram com a retirada definitiva a partir de 21 de agosto último. Para isso, a realização do curso de mergulho, com certificação internacional.
Assim como os demais mergulhadores voluntários, participamos diretamente do resgate das peças. Mesmo com apenas um metro de visibilidade aos 11 de profundidade, catamos o material, em parte enterrado, depositando nos caixotes a serem içados numa boia inflável.
Toda a operação foi realizada sob autorização do Estado Maior da Armada, após aval da Marinha do Brasil e do Instituto do Patrimônio Histórico e Nacional (Iphan) para exploração e remoção da carga.
Fonte: Diário do Nordeste (CE)/Melquíades Júnior