Relatório de análise da Polícia Federal (PF) na Operação Lava-Jato revela que o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque teria direcionado o resultado das licitações de todos os contratos para a construção de 28 navios-sonda pela Sete Brasil, que movimentariam um total de US$ 26,4 bilhões. A Sete Brasil é uma holding criada para construir as embarcações que a Petrobras usaria na exploração da camada pré-sal.
Em um dos computadores apreendidos em endereço de Duque, na Barra da Tijuca, no Rio, a PF encontrou anotações datadas de 21 de novembro de 2011 em que o então diretor aponta a divisão das sondas entre os estaleiros participantes. Chamou a atenção da Polícia o fato de que os contratos celebrados posteriormente têm os mesmos termos que constam das notas de Renato Duque.
PUBLICIDADE
"Percebe-se, portanto, que anotação de Renato Duque foi feita quase um ano antes do primeiro contrato firmado, sugerindo direcionamento da contratação. A anotação veicula todos os navios sonda semi-submersíveis contratados pela Petrobras via Sete Brasil", afirmam os investigadores em laudo pericial anexado à investigação sobre a Queiroz Galvão. A empresa foi o alvo principal da 33ª fase da Operação Lava-Jato, a Resta Um, deflagrada na terça-feira. O documento foi apreendido em março de 2015, na 10ª fase da Lava-Jato.
Os peritos ressaltam ainda na análise que os contratos firmados pela Petrobras com a Sete Brasil e os operadores da sonda ocorreram em agosto de 2012, fato que para a PF pode evidenciar as práticas de formação de cartel e fraude à licitação.
"As anotações estão claramente relacionadas a contratos firmados pela Petrobras com a Sete Brasil para afretamento de sondas para exploração de petróleo", conclui o documento.
No trabalho de análise do material de Renato Duque, os investigadores encontraram também um controle de pagamentos intitulado "Balanço Q.G", que para a PF é um indício de que ele tinha propinas a receber da Queiroz Galvão.
"Pela formatação do cálculo apresentado, bem como pelo próprio título da anotação, verifica-se tratar de controle mantido por Renato Duque acerca de valores devidos pela Queiroz Galvão no período de 2010 a 2012".
A PF destaca ainda que "a anotação traz valores [possivelmente na casa dos milhões] referentes aos anos de 2010, 2011 e 2012 os quais, somados, totalizam 24,6 milhões de reais ou dólares".
Outra anotação do ex-diretor de Serviços da Petrobras indica que o então executivo da Queiroz Galvão Augusto Amorim Costa seria um contato na empresa para o pagamento da suposta propina.
"A anotação trata de controle de valores devidos por Augusto, tendo em vista que há referência a valores faltantes", diz a PF.
As notas registram números que seriam 2,3 milhões subtraídos de um "saldo" de 4,3 milhões, segundo os investigadores.
"Pela sequência dos valores, é possível presumir que foram debitados do período os valores já pagos por Augusto", conclui a PF.
Segundo a Lava-Jato Duque também mantinha contato com Ildefonso Colares Filho, ex-presidente da Queiroz Galvão e preso preventivamente por suspeita de corrupção.
Renato Duque ocupou a diretoria da Petrobras de 2003 a 2012. A área de Engenharia e Serviço da estatal era estratégica, porque por ela passavam todos os contratos negociados com a petrolífera, inclusive os dos setores de Abastecimento e de Internacional.
Duque está preso preventivamente desde março do ano passado e cumpre execução provisória de sentença. Ele foi condenado criminalmente pelo juiz federal Sergio Moro em duas ações penais e já contabiliza pena de quase 41 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
Em nota, a Sete Brasil disse que a atual direção da empresa, que assumiu em maio de 2014, "tem todo o interesse que os fatos em apuração pela Operação Lava-Jato sejam devidamente esclarecidos. Para isso, vem colaborando com as investigações".