A desoneração da folha de salários ajudou os empresários a recuperar rentabilidade ou a reduzir preços na exportação e, com isso, recuperar clientes, mas ainda não fez diferença no volume ou no valor total exportado pelo país em bens manufaturados.
Empresários de diferentes ramos da indústria de transformação consultados pelo Valor beneficiados pela desoneração da folha de pagamentos relatam que a medida foi importante não só por ter reduzido os custos com mão de obra, mas também por ter elevado a competitividade das exportações. Estão nessa leva os setores de confecções e de calçados, que estão no regime desde o começo de 2012, e outros que entraram em agosto daquele ano. Na balança comercial do país, contudo, os resultados ainda não apareceram.
Calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o coeficiente de exportações mostra que, na comparação entre o terceiro trimestre de 2012 e igual período de 2013, a participação das vendas externas no faturamento das indústrias desoneradas não subiu. Neste cálculo, não há informações separadas para o segmento de transportes (autopeças, ônibus e naval).
Por outro lado, segundo a Funcex, a rentabilidade das exportações aumentou em seis de sete setores analisados no mesmo período, mesmo com alguma redução de preços decorrente da depreciação cambial. Os maiores ganhos ocorreram nas indústrias de confecções (13%) e de couro e calçados (9,3%), que desde o início de 2012 deixaram de pagar os 20% sobre a folha salarial para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e, em troca, passaram a contribuir com uma alíquota de 1% sobre o faturamento, excluindo-se a receita com vendas externas.
Em agosto do ano passado, entraram no regime de desoneração da folha os fabricantes dos ramos têxtil, plástico, material elétrico, máquinas e equipamentos mecânicos, móveis, autopeças, ônibus e naval.
Na indústria de máquinas e equipamentos, a fatia das exportações sobre o faturamento recuou de 19,1% no terceiro trimestre de 2012 para 17,3% no terceiro trimestre deste ano, mas a rentabilidade das vendas externas ficou 3% maior na mesma comparação. As empresas WEG e Metalplan afirmam que, para elas, o coeficiente de exportações manteve-se praticamente estável porque também houve crescimento doméstico no período.
"Tendo na bagagem um câmbio melhor e um custo menor, ficamos mais animados para essa briga", diz Antônio Cesar da Silva, diretor de marketing da WEG, que produz motores elétricos para eletrodomésticos e equipamentos para automação industrial, geração e distribuição de energia. Segundo Silva, a redução de custos com a desoneração melhorou as margens e criou mais "gordura" para negociar preços lá fora. Do total de receitas da WEG, diz ele, cerca de metade vem do mercado externo, com influência maior das exportações da WEG Brasil do que da produção das plantas internacionais.
Para Edgard Dutra, diretor da fabricante de compressores Metalplan, a redução de custos na ordem de 5% a partir da desoneração da folha foi útil para flexibilizar descontos aos clientes externos e assim, aumentar as vendas, já que, como a taxa de câmbio não permaneceu em R$ 2,40, não foi possível diminuir a tabela de preços de exportação de modo uniforme. "Na prática, ficamos mais competitivos", conta.
De acordo com Dutra, a participação das exportações no faturamento da Metalplan, atualmente em 10%, não aumentou este ano porque também houve uma expansão significativa no mercado interno, puxada pela recuperação dos investimentos observada no primeiro semestre. "Mas, em relação a 2011, já mais que dobramos as exportações."
No setor de autopeças, o vice-presidente da Zen, Nelson Zen Filho, avalia que a desoneração foi importante para elevar as vendas ao exterior no caso da empresa, que exporta 50% de seu faturamento, mas pode não ter ajudado tanto companhias em que esse percentual é menor. "Para nós, a desoneração ajudou a manter as vendas, porque não estamos exportando alguns impostos e custos a mais", disse. Como os concorrentes lá fora estão diminuindo preços, afirmou, a medida, ao lado de um patamar "mais apropriado" do dólar, permitiu uma negociação mais competitiva com as montadoras.
Já a Metagal, que fabrica retrovisores, não viu diferença nas exportações. Davi Candido, diretor da empresa, aponta que a desoneração não foi suficiente para elevar a fatia de exportações sobre o faturamento, de 5,5%, mesmo patamar de 2012. Ele relata que a maior volatilidade cambial aumentou os preços de insumos dolarizados, que não puderam ser repassados a clientes internos e externos porque o mercado está muito "resistente" a reajustes. "Para nós, o impacto da desoneração da folha foi zero", afirmou.
Na indústria plástica, o coeficiente de exportações caiu de 7,9% no terceiro trimestre de 2012 para 7,3% no mesmo período deste ano. Ainda assim, o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, avalia que a medida ajudou o setor a exportar mais e a recuperar parte do mercado interno.
Roriz explica que, com a sazonalidade mais fraca de fim de ano, as empresas do setor costumam demitir nessa época, o que parece não ter acontecido em 2013, ou, pelo menos, ocorreu em menor escala. "Como mantivemos funcionários mais treinados e qualificados, a competitividade e produtividade aumentaram."
O setor de móveis, que também exporta pouco na média, viu sua fatia de exportações em relação ao faturamento diminuir de 6,5% para 5,1% na mesma comparação. Na catarinense Butzke, porém, esse percentual passou de 17% na média de janeiro a novembro de 2012 para 19% no mesmo período de 2013, de acordo com o diretor comercial Michel Otte. Para Otte, a desoneração "amenizou" a diferença competitiva do Brasil com outros países que não cobram impostos sobre exportações, ajudando a Butzke a fechar negócios.
Fonte:Valor Econômico/Arícia Martins | De São Paulo
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