De São Paulo - Nem CSA nem laminadora do Alabama. Após um ano de avaliação, longas negociações e idas e vindas, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) não levou nenhum dos dois ativos postos à venda pela ThyssenKrupp em maior do ano passado.
A usina do Alabama, nos EUA, acabou em mãos do consórcio formado por ArcelorMittal, líder mundial da siderurgia, e por Nippon Steel & Sumitomo Metal, maior companhia de aço do Japão e também uma gigante global. Uma joint venture das duas empresas pagou US$ 1,55 bilhão pela laminadora americana.
A CSA, usina de placas de aço em Santa Cruz, no município do Rio de Janeiro, permanece sob o controle de Thyssen e Vale, que fundaram a empresa. Envolvida em problemas desde sua construção, a siderúrgica ganhou fôlego operacional ao garantir com os novos donos da laminadora americana um contrato de fornecimento de 40% da sua produção por seis a nove anos.
É quase certo que os investidores em ações da CSN vão considerar positiva a não aquisição dois ativos da Thyssen. Isso evitou que alavancasse ainda mais seu perfil de endividamento, que está acima dos limites toleráveis pelo mercado, e que viesse a gastar mais dinheiro com investimentos adicionais na CSA.
As ações da empresa deverão iniciar a segunda-feira em movimento de alta na BM&FBovespa diante do seu insucesso em mais essa tentativa de aquisição.
Por outro lado, a CSN pode ter perdido a última chance de se posicionar como uma grande siderúrgica nas Américas, ampliando seu poder de competição no Brasil e nos Estados Unidos, onde já possui uma pequena usina de laminação em Terre Haute, no Estado de Indiana.
Em 2011, a empresa controlada pelo empresário Benjamin Steinbruch tentou adquirir a rival Usiminas, com um movimento de compra de ações no mercado. A CSN gastou mais de R$ 3 bilhões na operação, tornou-se maior acionista individual da siderúrgica mineira, porém ficou fora do bloco de controle.
O resultado é que até agora a CSN perdeu dinheiro, porque as ações da Usiminas tiveram forte desvalorização devido a seguidos prejuízos. Isso obrigou a CSN a fazer uma baixa contábil de R$ 1,6 bilhão do investimento em 2012.
Quem saiu vitoriosa nesse embate foi a Techint, uma companhia de capital italiano sediada na Argentina. Com bençãos da Nippon Steel, a Techint assumiu como nova controladora da Usiminas. Indicou um presidente e comanda sua reestruturação.
Sem isso, a CSN começa a perder forças no jogo da competição no negócio de aço no Brasil e restante das Américas.
ArcelorMittal e Nippon Steel se fortaleceram nos EUA. A Techint, no mercado da América Latina, com a entrada em Usiminas. O grupo Gerdau começa a competir no mercado da CSN no Brasil, com unidades de aços planos laminados na antiga Açominas. Já até fala em se expandir nos próximos três anos. A sul-coreana Posco, que ergue uma usina de placas com a Vale no Ceará, acaba de anunciar que será sócia de uma laminadora de aço plano em Pernambuco, ao lado do porto de Suape.
Em aço, o que a companhia controlada por Steinbruch tem a oferecer de novo neste momento é a inauguração, em janeiro, de uma unidade siderúrgica de aços longos em Volta Redonda (RJ), de 500 mil toneladas, após alguns anos de atraso. Nesse segmento, no início de 2012, a CSN adquiriu uma empresa na Alemanha, economia mais forte da União Europeia. É uma fábrica de 1,1 milhão de toneladas por ano, que custou pouco mais de R$ 1 bilhão.
O negócio de cimento não teve o crescimento acelerado que a empresa chegou a anunciar, com várias fábricas no país. E, na área de logística, a CSN tenta se livrar do pesado fardo que é a construção da bilionária ferrovia Transnordestina. Com atrasos, o projeto viu seu custo subir várias vezes, forçando um pedido de socorro ao governo federal para concluir a obra.
Agora, parece restar à companhia ganhar mais robustez no seu negócio de mineração de ferro, atividade que nos dias atuais gera margens de ganho bem mais atrativas do que fazer aço. Sorte que ainda há essa oportunidade, avaliam especialistas do setor de aço e mineração.
A CSN tem perpectivas promissoras na exploração da mina de ferro Casa de Pedra, uma rica jazida que temem Congonhas (MG), desde quando foi criada há 70 anos. A decisão de torná-la um negócio se efetivou em 2007, com um plano ambicioso de expansão.
Apesar de atrasos nesse projeto, a atividade de minério de ferro já gera 31% da receita líquida da CSN (ante 60% da siderurgia) e 51% do resultado operacional (Ebitda), contra 40% do negócio de fabricação de aço.
Na mineração, há um plano em curso, uma ideia antiga de Steinbruch, para unir os ativos de Casa de Pedra aos da controlada Namisa, uma sociedade com um grupo de empresas asiáticas (siderúrgicas e uma trading), que é dono de 40% do capital da mineradora. Após desentendimentos entre o empresário e seus sócios, uma tentativa de acordo ficou para o início de 2014.
Se tiver êxito, a CSN poderá criar uma unidade de negócio de mineração com o dobro da capacidade atual, que é de cerca de 40 milhões de toneladas (Casa de Pedra mais Namisa). Com isso, poderá se consolidar entre as cinco maiores produtoras de minério de ferro do mundo, atrás de Vale, Rio Tinto, BHP Billiton e Anglo American. (IR)
Fonte:Valor Econômico
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