SÃO PAULO - O apetite cada vez mais intenso das petrolíferas pelo segmento sucroalcooleiro é tido como inevitável pela área produtiva do setor, mas a voracidade das empresas de petróleo surpreendeu as usinas brasileiras.
Para Narciso Bertoldi, diretor comercial do Grupo USJ, as consolidações tornam os combustíveis complementares e não concorrentes. "Em busca de um desenho verde, dois ou três grandes players devem investir com mais voracidade no setor de álcool", prevê Bertoldi.
A mais recente consolidação divulgada ocorreu no dia 25 de outubro, quando a Petrobras Distribuidora e a Petrobras Biocombustível anunciaram uma fusão com a Açúcar Guarani para o fornecimento, em quatro anos, de até 2,2 bilhões de litros de etanol. O montante injetado na parceira foi de R$ 2,1 bilhões.
De acordo com Cristina Machado, pesquisadora do departamento de agroenergia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o mundo tem reconhecido cada vez mais a importância das energias renováveis. "A Petrobras investe em pesquisas para etanol de celulose, que tem contexto com biorrefinaria. As petrolíferas vão trazer avanço para o Brasil", afirma.
Para o mercado, o baixo valor de ativos de produção, que torna mais viável a entrada no segmento, comparado aos de energia em geral é o principal atrativo.
A pesquisadora considera ainda que essa tendência de fusão ocorre também devido à economia de escala, com a produção consequentemente maior.
Segundo Machado, as indústrias de álcool brasileiras que são eficientes e competitivas, de acordo com a pesquisadora, não correm o risco de terem seus negócios ameaçados pelas petrolíferas. "Além de aumentar o volume de combustível no mercado, possibilita uma melhora nos preços ao consumidor final. As consolidações podem contribuir para "commoditizar" o etanol", diz.
Levantamento da Datagro e da MBF Agribusiness mostra que em três anos foram realizadas 59 operações, nas quais 100 usinas estiveram envolvidas.
Além da Petrobras com a Açúcar Guarani, Cosan e Shell fecharam acordo de R$ 21,2 bilhões para a criação de duas companhias para distribuição de etanol. Além disso, a ETH e a Brenco investiram R$ 5 bilhões na combinação de ativos e criação de nova empresa, na qual a ETH detém 65% de participação. A Bunge injetou R$ 2,6 bilhões na compra de 100% da participação das cinco unidades do Moema, e a Shree Renuka Sugars, com R$ 600 milhões, adquiriu 50,8% de participação da Equipav Açúcar e Álcool.
Na safra 2009/2010, o segmento de cana, açúcar, etanol e bioeletricidade movimentaram R$ 56 bilhões no País.
O aumento de capital estrangeiro também tem contribuído para o avanço da competitividade do setor sucroalcooleiro do Brasil. Ainda de acordo com estudo da Datagro e MBF, hoje a participação de capital estrangeiro no setor corresponde a 25%.
Para Eduardo Chaim, da Dextron Management Consulting, as participações estrangeiras devem avançar na mesma proporção em que as novas indústrias expandirem suas operações.
Segundo o consultor, "As empresas internacionais estão mais bem posicionadas para mostrar o País como fornecedor confiável.
Entidade internacional
A International Ethanol Trade Association (Ietha), organização internacional, ganhou mais mais um associado: a holandesa North Sea Global Ethanol, trading de etanol, subsidiária do Grupo North Sea.
Segundo Joseph Sherman, diretor-executivo da Ietha, a parceria fortalece a missão da empresa para transformar o etanol combustível em uma commodity.
O apetite cada vez maior das petrolíferas por usinas de açúcar e álcool instaladas no Brasil surpreendeu o setor e deve continuar nos próximos meses. Para Narciso Bertoldi, diretor do Grupo USJ, a procura das empresas do setor de petróleo por usinas vai se manter elevada: "Em busca de um desenho verde, duas ou três grandes empresas devem investir com mais voracidade no setor de álcool".
Na opinião de Cristina Machado, pesquisadora da Embrapa, "as petrolíferas vão trazer avanço" ao setor de biocombustíveis. Ela considera que as usinas, por serem eficientes e competitivas, não serão ameaçadas pelo assédio das gigantes do petróleo.
Fonte: DCI/Alécia Pontes
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