A recuperação dos preços do minério de ferro e do petróleo e um grande embarque de soja para a China foram os fatores que mais contribuíram para o superávit comercial de US$ 4,861 bilhões de abril, recorde para o mês, segundo José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil. Os produtos manufaturados, por sua vez, devem seguir "em um cenário nebuloso" nos próximos meses, de acordo com ele. Para o ano está mantida a previsão de um resultado positivo de US$ 45 bilhões ou até mais.
Castro aponta que no mês passado 10 milhões de toneladas de soja foram embarcadas para a China, contra 6,5 milhões em abril de 2015. A receita com a venda desse produto cresceu 42,8% na comparação entre os quatro primeiros meses deste ano e igual período de 2015.
PUBLICIDADE
O minério de ferro também colaborou para o resultado, já que o seu preço vem "surpreendentemente" subindo, segundo ele, apesar de ainda estar em patamar inferior ao que estava no ano passado. Em março, o preço médio de exportação foi de US$ 25,6 por tonelada e no mês passado ficou em US$ 33,1 por tonelada. O petróleo bruto passou por alta semelhante, de US$ 168,7 por tonelada para US$ 198,6 no mesmo período. "Os três itens principais da nossa pauta de exportação cresceram, em função de fatores que não são mérito do Brasil. Mas o que interessa para nós é o aumento", diz. Em 12 meses até abril, as exportações de produtos básicos cresceram 2,5%.
Os dados do comércio com a China são um bom exemplo do crescimento das exportações brasileiras de commodities, segundo ele. No acumulado dos quatro primeiros meses, o Brasil saiu de déficit de US$ 1,946 bilhão em 2015 para superávit de US$ 4,550 bilhões neste ano.
Já a venda dos produtos manufaturados tiveram queda de 1,3% na comparação com abril de 2015 e seguem sem previsão de melhora enquanto "o Brasil não tiver preço competitivo". Por um lado, as vendas para a Argentina, um dos dois grandes destinos dos manufaturados brasileiros, cresceram 4,3% na comparação com abril do ano passado. Por outro, as exportações para os Estados Unidos, para quem o Brasil vende autopeças, material de construção, aviões e calçados, entre outros, caíram 15,9%. "Todo mundo, inclusive eu, esperava crescimento das exportações para os EUA neste ano", afirma. Ele culpa a recuperação "tímida" da economia americana pelo revés.
O real valorizado pode contribuir para manter as exportações de manufaturados em níveis baixos no curto prazo. "Para seguir vendendo, as empresas vão precisar manter os preços, mas o câmbio valorizado causa perda de rentabilidade", diz.
De qualquer maneira, puxada basicamente pelo trio de commodities - soja, minério de ferro e petróleo -, a balança deve manter os superávits até o fim do ano. Para maio, Castro espera saldo de cerca de US$ 5 bilhões. "Maio é um mês forte de embarque de soja, e os preços do minério de ferro e do petróleo devem continuar subindo", afirma. Para o ano, ele mantém a projeção de superávit de US$ 45 bilhões, mas não descarta resultado ainda mais positivo.
"Vai depender do tempo que o minério de ferro e o petróleo mantiverem esses preços mais elevados. As quantidades serão mais ou menos estáveis. Mas se os preços ficarem nesse patamar durante o segundo semestre, ou parte dele, poderemos chegar a US$ 50 bilhões."
Fonte: valor Econômico/Por Estevão Taiar | De São Paulo