A mineradora anglo-australiana Rio Tinto revelou planos de cortes acentuados nos gastos ao longo dos próximos dois anos como parte da estratégia para diminuir a dívida acumulada durante a significativa expansão de suas operações de mineração no mundo.
Grandes empresas de recursos naturais como a Rio Tinto estão tentando fortalecer seus balanços e proteger os lucros diante da queda dos preços de muitas commodities causada pelo esfriamento do boom da mineração que durou dez anos. A produtora de minério de ferro Vale divulgou esta semana um orçamento mais magro para os investimentos em 2014 - cerca de 20% menor que o de 2011, que foi recorde.
A Rio Tinto vai cortar seu orçamento de despesas de capital para US$ 8 bilhões em 2015, disse o diretor-presidente Sam Walsh, numa apresentação para investidores em Sydney. Neste ano ele é de US$ 14 bilhões e, no próximo, será de US$ 11 bilhões. Walsh disse que os gastos de 2012, de mais de US$ 17 bilhões, se tornarão provavelmente os maiores de todos os tempos.
"É muito dinheiro e precisamos baixar o capital para níveis mais normais", disse ele a jornalistas depois da apresentação, sugerindo que algo entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões seja um nível mais sustentável para o grupo, com sede em Londres.
Os executivos da Rio Tinto querem cortar a ampla dívida acumulada durante a expansão de sua rede de minas e infraestrutura em dezenas de países ao redor do mundo, incluindo Austrália, Estados Unidos e Mongólia. A Rio Tinto é a segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, depois da Vale, e conta com a produção de aço para gerar a maior parte de seus ganhos.
"No meio do ano [de 2013] anunciamos que tínhamos US$ 22 bilhões de dívida", disse Walsh. "Para mim, esse valor é um pouco pesado e gostaria de reduzi-lo para que possamos ter flexibilidade para fazer as coisas", o que poderia incluir outras aquisições quando a dívida estiver em níveis mais confortáveis, disse.
A Rio Tinto vai tentar reduzir sua dívida líquida para algo em torno de US$ 15 bilhões nos próximos dois anos, acrescentou.
Agências de classificação de risco como Standard & Poor's já avisaram que a empresa corre o risco de perder sua nota A se não tiver sua dívida sob controle.
A Rio Tinto não é a única mineradora que está priorizando a redução do endividamento no próximo ano. A Fortescue Metals Group, outra grande produtora de minério de ferro, está acelerando o pagamento de empréstimos à medida que finaliza a expansão de suas operações na região de Pilbara, na Austrália, rica em recursos.
O presidente do conselho da Fortescue, Andrew Forrest, disse recentemente que a resistência dos preços do minério de ferro, apesar da desaceleração do crescimento econômico chinês, tem permitido amortizações mais rápidas do que os gestores previam. O minério de ferro está sendo negociado a cerca de US$ 137 a tonelada, valor que ficou praticamente estável nos últimos quatro meses, enquanto o de outras commodities, como ouro e níquel, caíram.
Os lucros da Rio Tinto têm sido pressionados pelo recuo dos preços das commodities. O lucro líquido no primeiro semestre caiu 71%, para US$ 1,72 bilhão, comparado a um ano antes. Essa queda nos preços forçou grandes empresas de mineração a reduzirem custos e engavetar projetos, enquanto respondiam a novas demandas dos investidores para aumentar os retornos depois de anos de investimento pesado na expansão de minas e aquisições. As baixas contábeis no valor de ativos no ano passado foram provocadas, em grande parte, por aquisições caras e em momentos ruins, incluindo a compra da fabricante de alumínio canadense Alcan, por US$ 38 bilhões, no auge do mercado, em 2007.
A redução do orçamento da Rio Tinto se concentrará em projetos nas divisões de minério de ferro e cobre, com a estimativa de poucos gastos em divisões como alumínio ou energia, disse Walsh.
A empresa anglo-australiana pretende investir cerca de US$ 2 bilhões para aumentar a produção anual de minério de ferro na Austrália em 25%, para 360 milhões de toneladas, nos próximos anos. Isto é menos da metade do valor inicialmente estimado, já que foca em reservas minerais perto de operações existentes em vez de explorar novas minas, de acordo com planos divulgados na semana passada.
Walsh disse ontem que a Rio Tinto já está cortando custos mais rapidamente do que o esperado. A empresa reduziu os custos de caixa operacional em US$ 1,8 bilhão nos primeiros 10 meses do ano e deve atingir a meta de economizar US$ 2 bilhões em 2013. A empresa tem o objetivo de cortar mais de US$ 5 bilhões em custos até o fim do próximo ano.
A Rio Tinto cortou gastos com projetos de exploração e avaliação no valor de US$ 800 milhões entre janeiro e outubro, superando a meta de US$ 750 milhões para o ano todo.
Fonte: Valor Econômico/Rhiannon Hoyle | The Wall Street Journal, de Sydney
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