A intenção da Petrobras de atrair um investidor para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) tem despertado a atenção de algumas empresas no projeto. Mas para conquistar um sócio para a conclusão das obras da refinaria, a estatal terá de superar um histórico malsucedido de negociações com investidores ao longo dos últimos anos e convencer o mercado de que a política de controle dos preços de derivados ficou no passado, avaliam especialistas consultados pelo Valor.
A tentativa da estatal de buscar sócios para investimentos no refino não é uma novidade. Nos últimos anos, a Petrobras chegou a negociar a entrada da sul-coreana GS Caltex no projeto da Premium II (MA); da chinesa Sinopec no próprio Comperj e na Premium I (CE); e da PDVSA na Refinaria Abreu e Lima (PE), mas nenhuma das parcerias vingou.
Apesar do insucesso no passado recente, o Comperj já tem atraído o interesse de potenciais investidores, segundo uma fonte da Petrobras a par do assunto. Sem revelar o número e a nacionalidade das companhias interessadas, a mesma fonte destaca que, num momento de baixa dos preços do petróleo e de excesso de ativos a venda no mundo, o ativo está desvalorizado e pode se tornar, por isso mesmo, um negócio atrativo para potenciais compradores.
O consultor David Zylbersztajn considera "saudável" a tentativa da estatal em atrair sócios para o projeto, mas destaca que o sucesso da missão depende das garantias que a empresa dará ao novo parceiro. "Para atrair interessados, a Petrobras vai precisar garantir que vai cumprir as regras do mercado e não vai praticar dumping", opina o ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
O consultor acredita, no entanto, que o Comperj pode conquistar sócios. Zylbersztajn cita empresas interessadas em exportar derivados, como os chineses, como potenciais investidores. Sem interesse em vender derivados no mercado interno, esse tipo de sócio seria menos "dependente" dos preços da Petrobras.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), contudo, adverte que não existe uma estabilidade regulatória e transparência na composição dos preços para atrair potenciais investidores. A situação, segundo ele, é ainda mais complexa quando o assunto é atrair investidores para o complexo petroquímico. "A petroquímica brasileira ainda trabalha com nafta e o gás natural é muito caro no país para que a petroquímica nacional seja competitiva", afirma.
Com 83% das obras concluídas, a refinaria do Comperj ainda não tem data para operar e sequer foi incluída no novo plano de negócios da Petrobras. Sem caixa, a estatal tem atrelado a conclusão do projeto a conquista de um sócio.
Atualmente, a companhia só traçou um cronograma para conclusão da primeira fase do projeto, que consiste na entrega da central de utilidades do projeto (unidades de geração de vapor e energia, tratamento de efluentes e água) e da infraestrutura das unidades de processamento do gás natural. Esses investimentos devem ser tocados pelo caixa próprio da estatal e estão previstos para 2017.
Além do Comperj, a Petrobras tem registrado o interesse de investidores também na BR Distribuidora. Segundo fonte na estatal, existe hoje uma "quantidade razoável" de interessados no ativo. "O interesse das empresas já era esperado. A BR tem 40% do mercado nacional. E deve ser vendida a um preço muito abaixo do que o seu valor de mercado", disse.
Uma das empresas que demonstraram interesse no negócio é o grupo Ultra. Em 2014, a BR Distribuidora obteve lucro de R$ 1,12 bilhão e receitas de R$ 98,53 bilhões. Não se sabe, porém, qual a fatia da empresa que a estatal colocará à venda. O Valor apurou que a Petrobras estuda vender entre 25% e 40% da companhia mediante oferta pública de ações - cujo registro foi pedido à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Em paralelo aos preparativos para a oferta pública, a diretoria da Petrobras tem feito mudanças internas na direção da distribuidora, após citação da empresa na Operação Lava-Jato. Ao todo, quatro diretorias da BR foram trocadas.
Fonte: Valor Econômico/André Ramalho, Rodrigo Polito e Cláudia Schüffner | Do Rio
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