Com a dificuldade da indústria brasileira de iniciar uma retomada, a fabricante de máquinas e equipamentos WEG espera manter o ritmo de crescimento neste ano investindo no segmento de energia e na expansão no mercado externo, afirmou o presidente da companhia, Harry Schmelzer Junior, em entrevista ao Valor, após divulgação dos resultados do ano passado.
A empresa reportou lucro líquido de R$ 263,3 milhões no quarto trimestre de 2014, alta de 10,9% na comparação anual. No acumulado do ano, o lucro foi de R$ 954,7 milhões, com aumento de 13,2% ante 2013. No Brasil, a fabricante diz que o crescente dinamismo do mercado de equipamentos para geração, transmissão e distribuição de energia elétrica compensou o desempenho mais fraco do investimento industrial e do consumo e a empresa deve continuar investindo no segmento.
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A companhia está de olho nos leilões de fontes alternativas, como projetos de eólica. "A parte de GTD (geração, transmissão e distribuição) deve continuar dando oportunidades [de crescimento] para a WEG", disse Schmelzer. A empresa já entrou em projetos de PCH (pequenas centrais hidrelétricas) e de geração térmica. O negócio do grupo geradores também deve impulsionar a companhia.
No mercado externo, a WEG concluiu aquisições na China e na Alemanha e fez investimentos em aumento de capacidade fabril no exterior em 2014. O objetivo, diz o executivo, é que a empresa aumente o peso do mercado externo nos seus negócios para até 60% em cinco anos. "Mas não mais que isso", acrescentou Schmelzer, explicando que o mercado brasileiro é importante no desenvolvimento de novos negócios. "Com os produtos mais maduros, estamos investindo no mercado externo; os novos negócios começam no Brasil", afirmou o executivo.
A indústria em geral teve impacto negativo para a fabricante no ano passado, mas a expectativa é que o país comece a se recuperar em 2016. O dólar mais valorizado, avalia o presidente, deixa a WEG mais competitiva para a exportação, mas também pressiona alguns custos, como preço do aço e do cobre. Schmelzer defende o Brasil como um país exportador de produtos manufaturados "[com o dólar mais valorizado] eu fico mais competitivo, mas torço muito mais para que os clientes da WEG fiquem mais competitivos."
Questionado sobre os problemas enfrentados pela Petrobras, Schmelzer confirmou que a empresa tem montantes em atraso para receber de fornecedoras da petroleira. Os problemas, segundo o executivo, são pequenos e não têm impacto significativo sobre a saúde financeira da companhia, que tem negócios em diversos segmentos.
"Sou fornecedor de algumas delas [empreiteiras], mas o impactado não será maior do que a WEG já enfrentou historicamente em outras crises no Brasil", disse o executivo, lembrando que, em períodos como a crise de 2009, a inadimplência dos clientes sofreu ligeiro aumento.
Segundo Schmelzer, como o fornecimento para projetos como os da Petrobras têm uma dinâmica de pagamento diferente, os valores em atraso são pequenos. "O que fica para saldar quando eu entrego o equipamento é uma parcela muito pequena do valor total", diz.
O presidente da empresa disse não ter o valor total da inadimplência relacionada a contratos em que é subfornecedora da Petrobras. O Valor apurou com outras fontes, no entanto, que a fabricante teve problemas em um contrato de venda para o grupo Galvão Engenharia, na obra da Usina de Fertilizantes III, dentre outros negócios afetados.
Apesar de terem pouco peso para uma companhia como a WEG, a inadimplência das empreiteiras tem afetado empresas de pequeno e médio porte focadas no segmento de óleo e gás, que já cortaram postos de trabalho e não descartam a possibilidade de fechar as portas. Schmelzer concorda que o segmento, junto com mineração, enfrenta um cenário difícil no Brasil. "Se nós dependêssemos da Petrobras e da mineração, não cresceríamos", afirmou.
Fonte: Valor Econômico/Victória Mantoan | De São Paulo