Os estaleiros de Pernambuco intensificam suas operações e ampliam os investimentos para alcançar um patamar tecnológico mais competitivo com o mercado internacional. Até 2016, por exemplo, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), um consórcio formado por Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e JEI (Japan EAS Investimentos e Participações Ltda),cada sócio com 33%, e com tecnologia da coreana Samsung, deve investir mais R$ 540 milhões na expansão de suas instalações e infraestrutura, com a construção de um novo cais para acabamento dos navios sondas, oficinas e escritórios de apoio.
Desde o início do projeto do estaleiro, em 2007, foram investidos no empreendimento um montante estimado em R$ 2,1 bilhões.
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O estaleiro Vard Promar, sociedade entre a Vard (do grupo italiano Fincantieri) e a brasileira PJMR Empreendimentos, nem bem acabou de concluir as obras físicas de seu canteiro industrial no Complexo Portuário de Suape, com investimento de R$ 350 milhões, e já se prepara para expandir suas instalações com um novo desembolso de R$ 97 milhões, repassados pelo Fundo da Marinha Mercante. "Nossas previsões de aumento da demanda do mercado se confirmaram", justifica Miro Arantes, presidente da empresa. "Só a Petrobras deve contratar a construção de cerca de 150 navios até 2020 e nossa pretensão é conquistar 30% desse mercado", afirma.
Há obstáculos com relação ao treinamento e qualificação de mão de obra especializada
Não obstante as pretensões, a indústria naval pernambucana ainda não é um polo plenamente consolidado, claro. Os investimentos programados pelos dois estaleiros, para ser executados ao longo dos próximos anos, beira a casa de R$ 4,5 bilhões, além de R$ 1 bilhão previsto para ser desembolsado pela cadeia de fornecedores. O Complexo Portuário de Suape, localizado entre os municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, tem uma área de 13,5 mil hectares, mais de duas vezes o tamanho da cidade de Olinda.
Nele, o EAS é que está mais próximo de fechar a curva de aprendizado, segundo José Roberto Mendes Freire, diretor executivo de operações integradas. A planta industrial já está devidamente concluída. O empreendimento ocupa um terreno de 1,6 milhão de metros quadrados, e emprega 5,3 mil pessoas diretamente. O valor total da carteira do EAS PE é de US$ 7,5 bilhões, dos quais US$ 2,2 bilhões para 22 navios contratados pela Transpetro e US$ 4,6 bilhões para os navios sonda da Sete Brasil.
Segundo Freire, as premissas estabelecidas pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef) - nível de importação de partes de navios e respeito do conteúdo nacional de 65% - "estão sendo rigorosamente cumpridas". Há vários questionamentos no setor, no entanto, em relação ao volume das importações feitas atualmente pelo EAS. Foram mais de US$ 80 milhões em importação de partes de navios da China ao longo de 2013, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). "Estão sendo realizadas importações e elas irão continuar se isso for necessário para acelerar o cronograma de entrega das embarcações. A operação, além de não implicar redução da força de trabalho do EAS, mantém o empreendimento dentro do índice de nacionalização exigido pelos contratos", diz Freire.
A curva de aprendizado de um estaleiro é um processo que demora pelo menos dez anos, na opinião de Miro Arantes, presidente do Vard Promar. Em dezembro, a empresa concluiu a primeira fase de instalação do estaleiro e as operações industriais têm pouco menos de um ano. Atualmente o estaleiro emprega 1,2 mil colaboradores, mas o quadro deve chegar a 1,8 mil ao longo de 2015.
O Vard Promar tem carteira de encomendas com oito navios gaseiros para Transpetro e dois navios de lançamento de dutos (Pipelayers) para a DOFCON Navegação. O valor total desta carteira é de cerca de R$ 1,5 bilhão. Com dois estaleiros no Brasil, o grupo Vard adota a estratégia de subcontratar parte das obras para sua unidade no sudeste, o Vard Niterói, como é o caso dos dois primeiros gaseiros da Transpetro (2 navios de 7.000 m3). "A atual carteira de encomendas permite a ocupação do estaleiro até o fim de 2016", diz Arantes.
Há obstáculos com relação ao treinamento e qualificação de mão de obra, e dificuldades de atração de empresas para formação de um cluster naval dentro do Complexo Industrial de Suape. No que se refere à formação de pessoal, de acordo com Roberto Abreu e Lima, secretário executivo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (SDEC), está em execução um conjunto de ações voltadas ao aprimoramento profissional. "Estamos formando a primeira turma de engenheiro navais do Nordeste, na Universidade Federal de Pernambuco, e já temos cursos de pós-graduação em engenharia naval, além de parceria com Senai e escolas técnicas federais para realização de cursos voltados ao setor", diz.
Fonte: Valor Econômico\Genilson Cezar | Para o Valor, de São Paulo