A indústria naval e offshore brasileira deverá empregar 100 mil pessoas até 2017. A projeção, da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav), está embasada no crescimento constante do setor, sustentado pelas encomendas da Petrobras. Atualmente, a indústria emprega cerca de 80 mil profissionais diretos.
Apesar do otimismo, há o crônico problema de falta de profissionais qualificados, com o agravante de que essa indústria ficou "adormecida" por mais de duas décadas. "Com o boom da demanda, precisou-se de uma quantidade de trabalhadores qualificados que não possuíamos. Isso gerou um déficit de mão de obra e, agora, precisamos de tempo para formar pessoal. Mas, não adianta formarmos profissional às pressas e sem qualidade", afirma Augusto Mendonça, presidente da Abenav.
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Para ele, é necessário que o governo monte um plano de investimento para instituições de ensino, visando a modernização e a adequação às necessidades dos estaleiros. "Existem bons cursos como os do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e outros particulares. O desafio de formação de recursos humanos exige colaboração contínua e ampliada entre os estaleiros, universidades, escolas técnicas e órgãos estaduais e municipais", destaca.
Em muitos casos, são os estaleiros, em parceria com órgãos como o Senai, que formam sua própria mão de obra ou oferecem cursos para os moradores da região onde atuam. Eles estão especialmente no Rio Grande (RS), Suape (PE), Aracruz (ES) e Maragojipe (BA).
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, tem um Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), desde 2013, no qual foram investidos R$ 2 milhões em infraestrutura e equipamentos. São ao todo 11 salas de aula com capacidade para atender simultaneamente 500 pessoas, auditório para 120 pessoas e seis laboratórios técnicos. Ao todo, mais de 400 colaboradores foram capacitados no Programa de Formação Profissional para os cargos de montadores, soldadores, mecânicos, encanadores, eletricistas e instrumentistas.
"Até o momento, foi investido R$ 1,9 milhão em qualificação, intercâmbio internacional e desenvolvimento da liderança. O CDH tem parcerias com instituições de ensino locais e programas governamentais destinados à educação", afirma José Roberto Mendes Freire, diretor-executivo de operações integradas do EAS. O desenvolvimento interno de profissionais é uma das prioridades do centro, porque projetos que demandam tecnologias mais complexas exigem cada vez mais profissionais especializados. "Precisamos também alavancar os ganhos de produtividade e custo", diz.
Em Itajaí (SC), onde estão cerca de dez estaleiros, o Senai tem atuação intensa, de acordo com seu diretor regional, Donald Falconer Smith Jr. "O cenário continua a ser de crescimento, a demanda em nossa região permanece aquecida, principalmente na área de construção naval."
Os estaleiros, de acordo com Mendonça, montaram estruturas próprias para formação de mão obra especializada como soldadores, pintores e outros. No entanto, segundo ele, há maiores dificuldades para conseguir pessoal de nível médio e técnico, como projetistas, mestres, caldeireiros, encarregados, além de administradores, profissionais de tecnologia de informação, recursos humanos e engenheiros.
Mas, o interesse de jovens por carreiras ligadas à indústria naval pode reverter o quadro em alguns anos. De acordo com Ingrid Ribeiro Couto, coordenadora da Escola Técnica Estadual (ETE) Henrique Lage, em Niterói (RJ), que integra a Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), o curso de construção naval foi um dos mais procurados no último concurso de ingresso para o ensino médio integrado ao técnico.
Fonte: Valor Econômico\Maria Carolina Nomura | Para o Valor, de São Paulo