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Evolução com oscilação

Segmento de salvatagem vê cenário instável e aposta na produtividade para aumentar margem de lucros — As empresas que atuam no mercado brasileiro de salvatagem vêm apostando na crescente demanda por equipamentos de salva-vidas de embarcações que atuam diretamente ou auxiliando na exploração do petróleo no pré-sal. Algumas companhias já sentem os efeitos da exploração em alto-mar e diretamente no faturamento. Outras ainda estão investindo em produtividade e caminhando nessa direção. Mas a promessa de aumento nos lucros pode esbarrar nas rígidas normas que regem o setor, a concorrência cada vez maior de produtos chineses que invadem o mercado brasileiro e a oscilação dos investimentos na indústria naval e offshore.


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A Brastech Serviços Técnicos e Construções Náuticas é especializada na construção de embarcações de salvamento, serviço e militar, na comercialização principalmente de balsas salva-vidas SOLAS – Classe I – e na revitalização de baleeiras e embarcações. Além da Petrobras, os principais clientes da companhia são os grandes estaleiros, construtores de navios e plataformas. Segundo Roberto Chedi Filho, diretor de operações da Brastech, as vendas estão aquecidas em função da construção de novos navios para apoio offshore e para exploração de novos campos de produção de petróleo.

O faturamento da companhia cresceu 25% em 2013, ante o ano anterior. “A nossa meta é seguir com essa curva ascendente para os próximos anos”, conta. “Já estávamos bem preparados tecnicamente e qualificados para atender essa necessidade antes do aquecimento do mercado. Com a NBR ISO 9001:2008, possuímos um grande diferencial, que é a garantia comprovada de qualidade e a larga credibilidade no mercado”, diz.

O diretor de operações da Brastech é um dos executivos que atuam com salvatagem e que estão otimistas para os próximos anos, mas com esperança de que os atuais problemas do mercado sejam sanados. “Hoje, temos muitas empresas operando no mercado de maneira irresponsável, vendendo e reparando produtos com baixa qualidade, utilizando materiais inadequados, que chegam a descaracterizar os produtos e colocar em risco a vida de quem vai utilizá-los”.

Ele critica que também são oferecidos produtos sem a inspeção adequada na venda de balsas salva-vidas. “Os órgãos reguladores estão acompanhando essas ações e trabalhando para coibi-las. Acreditamos que em breve as irregularidades sejam tratadas e o mercado se profissionalize para aumentar a segurança nos equipamentos”, avalia.

Carlos Pellegrini, diretor da Flexprin Ltda., que comercializa produtos como barreiras de contenção, botes de resgate e sinalizadores, destaca que a concorrência com importados da China é muito forte, já que o mercado consumidor está sempre atrás de produtos com o menor preço. O problema é que, diz o executivo, grande parte desses equipamentos importados não atendem às exigências requeridas pela Diretoria de Portos e Costas (DPC) aos fabricantes nacionais. “Esta desproporcionalidade gerada pela aceitação de certificados de quaisquer administrações marítimas vem desestimulando a fabricação e criação de empregos no Brasil. E estimulando a importação”, relata.

Um produto chinês pode ser ofertado no mercado até 30% mais barato do que o produto nacional, informa a Ativa Náutica. “Somos especialistas em coletes e boias salva-vidas, dois equipamentos obrigatórios que são vendidos como acessórios e na verdade, não são. São itens obrigatórios de salvatagem”, explica Alexandre de Melo, Gestor de Qualidade e Desenvolvimento da empresa. “A profissionalização (do setor) deve ser exigida pelo consumidor. Ele tem que ter a noção real de que em uma situação de risco o equipamento de segurança poderá salvá-lo.”

A DPC é a autoridade marítima brasileira com atribuição legal de determinar os equipamentos e acessórios que devam ser homologados para uso a bordo de embarcações e plataformas, assim como os requisitos para a homologação dos mesmos. A entidade também estabelece a dotação mínima de equipamentos e acessórios de segurança para embarcações e plataformas, conforme a Lei da Segurança do Tráfego Aquaviário (Lesta) – ou Lei nº 9.537, de 11 de dezembro de 1997. Todos os requisitos que devem ser cumpridos para que um material de salvatagem seja aprovado pela DPC estão catalogados no documento Normas da Autoridade Marítima para Homologação de Material (Normam-05/DPC), atualizado em 2010.

— Os materiais de salvatagem têm a finalidade de salvaguardar a vida humana no mar. Por esse motivo devem ser fabricados com matérias-primas e métodos apropriados de modo que sejam confiáveis no atendimento ao propósito aos quais se destinam”, lembra o diretor de Portos e Costas da Marinha, vice-almirante Cláudio Portugal de Viveiros. “É muito perigoso não existir um controle mais rigoroso da aceitação destes certificados internacionais. Nos EUA e Europa isto não existe. No mínimo, o fabricante tem que enviar toda documentação de testes para ser analisada pela autoridade marítima, não só um certificado”, afirma Pellegrini. Segundo Viveiros, a Marinha brasileira vem intensificando a fiscalização das corretas condições dos equipamentos de salvatagem.

O diretor da DPC informa que no verão 2012-2013 foram empregados recursos humanos, lanchas e viaturas das 63 organizações militares do Sistema de Segurança do Tráfego Aquaviário (Agências, Delegacias e Capitanias dos Portos) e com apoio ainda de meios navais, resultando na abordagem de 85.137 embarcações. Ao longo de todo o ano passado foram realizadas cerca de 260 mil vistorias e inspeções navais. “Nessas inspeções, especial ênfase é dada aos materiais de salvatagem utilizados a bordo de embarcações, navios e plataformas”, destaca.

O não cumprimento dos requisitos relacionados aos equipamentos implica imediata retirada de circulação da embarcação. Além disso, o autor da infração fica sujeito às penalidades descritas no artigo 15 do Decreto nº 2.596, de 18 de maio de 1998, que inclui multas entre R$ 800 e R$ 1,6 mil e a suspensão do certificado de habilitação de 30 a 60 dias.

Sobre a questão de homologação e certificação de equipamentos, Carlos Pellegrini, da Flexprin, pede a criação de critérios para que se aceitem certificados de outros fabricantes internacionais. “É possível criar uma lista de fabricantes internacionais credenciados para nivelar a qualidade dos produtos importados”, sugere.

Mesmo com a intensificação da fiscalização, Pedro Miranda, diretor da Índios Pirotecnia, acredita que falta fiscalização e austeridade para combater os produtos piratas. “O principal gargalo no mercado de salvatagem está na entrada de produtos estrangeiros. Nesse cenário, destacam-se os de origem chinesa, com baixo custo, tributação baixa, contrabando e sem qualidade técnica”, diz.

Mas Miranda também reclama da falta de conscientização dos empresários do ramo sobre custo/benefício de se ter um produto como coletes salva-vidas de boa qualidade na embarcação. Para se destacar no mercado, a Índios, que atua há 40 anos no mercado e fabrica sinalizadores pirotécnicos utilizados para salvatagem e socorro, aposta na pontualidade e dedicação nos compromissos assumidos.

Essa baixa qualidade de alguns produtos nacionais e importados é facilmente sentida no segmento de manutenção de equipamentos do setor. “Frequentemente recebemos de clientes equipamentos para reparo que, anteriormente, foram produzidos ou reparados com baixa qualidade, descaracterizando o produto, que não garante a salvaguarda da vida humana. A atuação irregular de algumas marcas no mercado traz concorrência desleal e riscos à vida humana”, diz Chedi Filho, da Brastech.

Mas nem tudo que é chinês é sinônimo de pirataria e má qualidade. A Brastech é a única representante comercial da chinesa Jiangsu Haining Marine, operando na venda e manutenção das balsas do país asiático. “Para isso, fiscalizamos e inspecionamos o produto desde a sua produção na China, a fim de garantirmos que as balsas sejam feitas de acordo com as normas e exigências internacionais”, explica o executivo, que reconhece que há marcas internacionais atuando no Brasil sem cumprir todas as exigências de segurança. “É comum que empresas menores optem pela compra de produtos em função do baixo custo, colocando em risco à vida dos seus colaboradores com equipamentos de baixa confiabilidade”, diz.

Sobre o potencial do mercado, Chedi Filho destacou o contrato fechado pela Brastech no ano passado com o estaleiro Ecovix para fabricação e fornecimento de oito embarcações de resgate (modelo RIB 6.01 LRG SOLAS FAST JET). Todas são destinadas a operar nos navios-plataformas da Petrobras.

Henrique Lotito, diretor técnico comercial da Sul Marítima, o mercado de salvatagem trabalha com margens de lucro muito pequenas. Ele acredita que o mercado vem evoluindo nos últimos anos, mas com bastante oscilação. “Estamos investindo gradativamente em novos equipamentos e otimização de produção. Mas por causa das atitudes do governo, uma hora nós temos que acelerar o ritmo dos investimentos e logo depois, diminuir. Muitos altos e baixos, mas sempre evoluindo”, afirma.

Para Lotito, a solução é sempre investir no aperfeiçoamento e modernização da produção, para aumentar as margens de lucro. A Sul Marítima comercializa produtos como boias circulares e de demarcação e flutuadores da marca Allo.

Às vezes uma pequena mudança já causa um grande impacto no produto final, destaca Júlia Ramalho, gerente de Marketing da Ativa Náutica. “Investimos na melhoria de maquinários e novas tecnologias. A troca de uma máquina de costura, ou apenas da linha utilizada, pode impactar radicalmente na resistência e acabamento de uma peça”.

A executiva lembra que, recentemente, a empresa trocou as fitas pretas lisas das cangas (salva-vidas que ficam em balsas) modelos classes II e III para uma fita preta com um faixinha laranja no meio. “Isso nos garante uma exclusividade de confecção de acordo com os requisitos da Marinha do Brasil e ainda permite que visualmente o cliente saiba qual é o produto Ativa Náutica”, comemora.

A Viking Brasil se estabeleceu no país em 2009, como uma subsidiária da dinamarquesa Viking. Tem escritórios no Rio de Janeiro (RJ) e Santos (SP) e parcerias com companhias locais em Recife (PE), Itajaí (RJ) e São Luís (MA). Antes de 2009, a multinacional atuava no Brasil através de representantes comerciais, mas decidiu se estabelecer em terras nacionais pelo crescimento das vendas para compradores brasileiros.

O pré-sal também foi um fator que influenciou a decisão da companhia. Uma boa decisão, na avaliação de Fernando Egidio Camilo, Country Manager Brazil. “Recentemente, vendemos 16 equipamentos que permitem evacuação em massa para apenas um cliente. Alguns dos sistemas foram customizados para o mercado brasileiro, como as condições meteorológicas, a força dos ventos e altura das ondas”, revela. Segundo o executivo, cada um desses equipamentos permite retirar até 150 pessoas de uma plataforma de petróleo e embarcação em condição de risco de forma segura e em pouco tempo. Toda a tecnologia da empresa é desenvolvida na Europa, que, por enquanto, não tem planos de se estabelecer no Brasil. “Os navios estão ficando cada vez maiores e mais complexos. As empresas que fornecem equipamentos de salvatagem têm que aos poucos acompanhar essa demanda”, avalia Camilo.






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