Fonte: Valor Econômico/Marina Falcão | Do Recife
Ainda incompleta, a operação da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, deve garantir um aumento de mais de 30% na movimentação do Porto de Suape este ano. Para Thiago Norões, presidente do Porto, a aprovação do novo plano de negócios da Petrobras vai provocar uma retomada "tímida" das atividades do setor de óleo e gás, após meses de paralisia.
Segundo Norões, dirigentes da Petrobras garantiram a conclusão das obras da refinaria até 2018, com desembolso de mais US$ 1,4 bilhão (R$ 4,4 bilhões), durante encontro com representantes do governo de Pernambuco.
Os recursos devem ser destinados a conclusão do primeiro trem (em fase final de execução) e do segundo (ainda nas etapas iniciais). No entanto, ainda há uma indefinição sobre o que a estatal fará para concluir a unidades de Snox da refinaria, responsável por retirar o enxofre do petróleo.
As obras, que estavam a cargo da Alumini (ex- Alusa) foram interrompidas no ano passado por falta de pagamento, segundo a empresa. "Umas das hipóteses em análise pela Petrobras é fazer uma nova licitação para finalizar as unidades, mas isso ainda não está certo", comenta Norões.
Mesmo sem a conclusão das unidades de Snox, a refinaria deve chegar ao fim do ano processando 120 mil barris, metade da capacidade que o empreendimento terá quando finalizado. É o que deve garantir o crescimento de Suape em um ano em que a alta do dólar prejudica a operação de contêineres do porto, que é predominantemente importador. "Por conta da refinaria, a área de granéis líquidos deve mais do que compensar um desempenho possivelmente pior em contêineres", diz Norões.
Em volume, a movimentação de Suape deve crescer mais de 30%, para 20 milhões de toneladas este ano, em relação a 2014. O crescimento das receitas deve ficar entre 30% e 40%, para até R$ 156 milhões. Deve ajudar o aumento das tarifas portuárias em cerca de 20%, após 12 anos sem reajuste, afirma Norões.
Somada à retração da economia do país, a crise na Petrobras provocou o fechamento de mais de 60 mil postos de trabalho em Pernambuco, dos quais 75% na construção civil. No auge das obras, a refinaria chegou a empregar 50 mil pessoas. Norões diz que já contava com as demissões este ano devido a finalização do primeiro trem do empreendimento. "Só que gente esperava algo mais gradual, menos dramático. Muita gente foi demitida sem receber", diz Norões.
Enfrentando dificuldades por conta da crise na Sete Brasil, o Estaleiro Atlântico Sul demitiu cerca de 2 mil pessoas. "No estaleiro, não foram apenas empregos de construção civil. Foram soldadores e engenheiros", diz.
Apesar do ambiente econômico não dar sinais de reação, Norões acredita numa retomada de geração de vagas no complexo industrial de Suape nos próximos 12 meses. Para isso, ele conta com o início da execução de investimentos previstos para a região até 2019, de no mínimo R$ 12 bilhões.
Além dos R$ 4,4 bilhões em recursos da Petrobras para a conclusão da refinaria, o grupo Bolognesi planeja investir R$ 3 bilhões na construção de uma térmica em Suape. Norões dá como certa a instalação de outra térmica no local, com investimento também próximo a R$ 3 bilhões. "Com a infraestrutura instalada da primeira [térmica], atrair a segunda fica mais fácil. Existem, no momento, três grupos interessados em um projeto de nova térmica", afirma Norões, que também ocupa o cargo de secretário de desenvolvimento econômico de Pernambuco.
Suape tem ainda cinco novos terminais (um de contêineres, um de veículos, um de trigo e dois de minérios) a serem concedidos à iniciativa privada no primeiro semestre de 2016. Juntos, os terminais somarão R$ 2 bilhões em investimentos. A concessão do maior deles, o segundo terminal de contêineres do Suape (Tecon II), deve movimentar mais de R$ 900 milhões. "Estamos esperando uma demanda alta para esse terminal. É um projeto bastante aguardado pelo mercado, assim como o terminal de veículos."
Com a ampliação do Canal do Panamá, Norões acredita que Suape pode se tornar uma espécie de hub portuário na região. "Poucos portos hoje têm as condições que nós temos para isso", afirma Norões, destacando que Suape tem profundidade para receber navios de até 330 metros ou 170 TPB (tonelada por porte bruto).
Este ano, Suape deve investir R$ 120 milhões na melhoria da sua infraestrutura viária. Interligado a mais de 160 portos no mundo, Suape tem hoje a maior movimentação de conteinêres entre os portos do Nordeste. Em volume de carga, ele está atrás de Itaqui, no Maranhão, que movimenta, principalmente, minérios e grãos.
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