Prever, com até sete dias de antecedência, as condições de navegação do Estuário de Santos – como a direção e a velocidade de suas correntes, a altura das ondas e a variação do nível do mar – é o objetivo do projeto que está sendo desenvolvido por professores e aluno do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Universidade Santa Cecília, de Santos. O sistema indicando como vão estar as águas da baía e do canal do Porto já está operacional. Falta apenas adequá-lo melhor às demandas dos órgãos conveniados ao NPH, como a Praticagem de São Paulo e a Prefeitura de Santos.
A princípio, a ferramenta poderá ser acessada apenas pelas entidades conveniadas. Mas já se estuda disponibilizar o sistema na internet, permitindo que toda a comunidade possa consultá-lo, explica a coordenadora do NPH, a engenheira civil e professora universitária Alexandra Sampaio.
“Esta é uma ferramenta muito versátil, de grande importância para a sociedade. É estratégica para o Porto, devido ao tráfego marítimo ou a algum acidente ambiental. Também pode ajudar a Prefeitura, a Cetesb e até o Corpo de Bombeiros, em caso de alguma emergência”, diz Alexandra.
Segundo a pesquisadora, o sistema pode auxiliar no planejamento do tráfego do Porto, indicando, até uma semana antes, como estarão as condições de navegação no momento de atracação ou desatracação de um navio. Pode, por exemplo, indicar a altura do nível do mar quando o cargueiro estiver para zarpar, o que possibilitará saber qual deve ser seu calado máximo (a altura máxima de sua parte submersa) para deixar o complexo. A informação é importante pois, quanto mais pesada a embarcação estiver, devido a suas cargas, mais “afundada” ela estará. Se ela precisar navegar com um calado maior, terá de aguardar o período de maré alta.
Ao prever a direção e a velocidade das correntes marítimas, a altura das ondas e a variação da maré, o sistema também pode ajudar a controlar derramamentos de óleo no estuário. “Saberemos para onde aquele produto irá e, assim, será mais fácil controlá-lo”, afirma a coordenadora.
O registro desses dados ainda pode auxiliar na determinação da origem de algum vazamento. Segundo o biólogo e professor da Unisanta Renan Braga Ribeiro, pesquisador do NPH, “sabendo como estavam as correntes no momento de um derramamento, podemos fazer o backtracking, ou seja, rastrear o poluente até sua possível origem”.
De acordo com Ribeiro, o sistema ainda pode ser utilizado para ajudar o Corpo de Bombeiros no resgate de embarcações (ao se analisar as correntes marítimas, é possível estimar para onde foi um navio à deriva), a Cetesb, em relação à qualidade da água do estuário, e a Prefeitura de Santos, na gestão das comportas dos canais e na previsão de ressacas na orla.
Praticagem
Das entidades que já utilizam o sistema de previsão, a Praticagem de São Paulo foi a que desempenhou um papel estratégico no desenvolvimento do projeto, segundo a coordenadora Alexandra Sampaio.
Desde 1992, o NPH realiza estudos na zona costeira do Estado. Segundo a pesquisadora, o órgão foi o primeiro a criar um modelo numérico do estuário do Porto de Santos, recriando, a partir de programas de computador e funções matemáticas desenvolvidas pelos pesquisadores, simulações do movimento de suas correntes e a variação da maré.
“Sempre fizemos a modelagem de eventos ocorridos. Analisávamos o que havia acontecido e buscávamos criar um modelo que repetisse o evento. Com os sensores da Praticagem, que nos enviavam dados em tempo real, foi possível ver se nossas simulações e, depois, nossas projeções estavam de acordo”, explicou Alexandra.
A pesquisadora se refere aos equipamentos instalados pela Praticagem no canal e na baía de Santos, que captam as condições de navegação do estuário. Essa infraestrutura é estratégica para as atividades dos práticos, profissionais responsáveis por orientar a navegação de navios no complexo marítimo santista,
Com a utilização dos dados, o NPH começou a criar seu modelo de previsão em julho do ano passado. As informações fornecidas pelos sensores foram essenciais para calibrar os modelos matemáticos do sistema de previsão, que atualmente trabalha com uma confiabilidade de 90% a 95%.
Fonte: A Tribuna online/Leopoldo Figueiredo
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