Estaleiros especializados em embarcações de apoio ‘offshore’ avaliam que contratações serão ampliadas — Estaleiros especializados em embarcações de serviço avaliam como positivo o cenário atual, com perspectivas de novos investimentos na logística do pré-sal. Mas especialmente os estaleiros com foco em barcos de apoio respiram aliviados com a volta das encomendas da Petrobras. Com a previsão de expansão da exploração de petróleo no mar, as embarcações de apoio marítimo permanecem como o grande filão para o segmento. Neste ano, foi aprovada a contratação de 23 novas embarcações, na Quarta Rodada do Plano de Renovação da Frota de Embarcações de Apoio Marítimo (Prorefam), e o mercado aguarda a Quinta Rodada do programa.
As licitações anteriores do projeto ocorreram de 2008 a 2011. A Quarta Rodada sinaliza o que os estaleiros especializados já sentiam: que, após um período de estagnação no mercado, está havendo uma retomada das encomendas. A Petrobras informa que, até o momento, foram contratadas 79 embarcações através do Prorefam. A quinta, sexta e sétima rodada do programa só deverão ocorrer a partir de 2014 e serão semestrais. Se o cronograma ocorrer como o planejado, as encomendas por embarcações de serviço deverão se manter aquecidas no futuro próximo.
Em agosto, o Diário Oficial da União publicou a resolução nº 124 do Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM), informando que a relação de projetos com prioridade de financiamentos ao setor naval e offshore soma R$ 17,2 bilhões. Para o segmento de apoio marítimo, 24 navios tiveram a prioridade aprovada, somando investimentos de R$ 10,7 bilhões (cerca de 61,8% do total aprovado). Seis projetos de construção e modernização de estaleiros nos estados do Pará, Alagoas, Espírito Santo, Rio Janeiro e Rio Grande do Sul — que juntos somam R$ 4,5 bilhões — também foram contemplados. Os R$ 2 bilhões restantes foram destinados a 37 projetos de embarcações para cabotagem e navegação interior. A 23ª reunião do CDFMM será em outubro.
A carteira atual de projetos do Fundo da Marinha Mercante (FMM) inclui todas as contratações efetuadas nos anos anteriores e totaliza R$ 31 bilhões. Nesta soma não estão necessariamente incluídos os R$ 17,2 bilhões liberados pela resolução 124, já que essa verba só é incluída na conta total da carteira quando as empresas solicitantes de financiamentos conseguem fechar contratos com agentes financeiros. O Fundo informa que só em 2012 foram contratados R$ 12,2 bilhões, aumento de 90,6% em relação ao ano anterior e 45,2% sobre os R$ 8,4 bilhões registrados em 2007, maior valor registrado nos últimos seis anos.
A Petrobras só contratou 56 embarcações das 146 previstas para serem construídas entre 2008 e 2014. O programa previa a construção de 64 Anchor Handling Tug Supplies (AHTS), 64 Platform Supply Vessels (PSV) e 18 Oil Rig Supply Vessels (ORSV).
O Brasil hoje tem uma frota de 450 embarcações de apoio — sendo 211 de bandeira brasileira (46,8% do total) e 239 estrangeiras (53,1%). “Até 2020, o Brasil deverá ter pelo menos mais de 700 barcos do segmento em operação, segundo planejamento da Petrobras”, diz o diretor-executivo da Wilson, Sons UltraTug Offshore e diretor da Abeam, Gustavo Machado. A estimativa da associação é que o país gaste US$ 4,5 bilhões com afretamentos de navios em 2013. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) informa que os afretamentos de embarcações atingiram em 2012 o valor de US$ 3 bilhões, aumento de 22,8% ante 2011.
Segundo dados da Abeam, coletados em maio deste ano, os PSVs compõem a maior parte (40%) das embarcações em uso hoje no Brasil. Logo após estão os AHTS (22%), LH/SV (Line Handling/Supply Vessel, 17,1%), OSRV (8,4%), FSV (Fast Supply Vessel, 4,4%), DSV (Diving Support Vessel, 3,1%), PLSV (2,2%), MPSV (Multi Role Service Vessels, 1,7%), WSV (0,8%).
Para a diretora do departamento offshore do estaleiro Indústria Naval do Ceará (Inace, sediado em Fortaleza), Flávia Maria de Barros, 2013 está melhor do que 2012 em relação às encomendas por embarcações de serviços. “Este ano está com um ritmo melhor que o ano passado. É difícil fazer previsões, pois o mercado oscila bastante de um ano para o outro, mas é como se o setor estivesse passando por uma retomada depois de um período com baixo número de pedidos”, avalia.
Flávia diz que, apesar do desaquecimento do mercado, a empresa não ficou parada e continuou investindo em consultorias para melhorar a produtividade e se preparar para disputar os contratos da Petrobras. “Estamos sempre entrando em contato com novas consultorias para conseguir ter uma visão diferente dos nossos processos produtivos”, afirma. A atual carteira de encomendas do Inace inclui dois Diving Support Vessels (DSVs a serem entregues no segundo semestre de 2014), um OSRV (que deverá estar pronto até 2015), além de outras embarcações, como um navio de patrulha P5 (a ser entregue este ano ainda), um Navio Hidroceanográfico Fluvial (NHoFlu) para a Marinha do Brasil (que deverá receber a embarcação no começo de 2014), dentre outras.
O gerente de Produção do estaleiro TCE, Rodrigo Ferro, lembra que com a crise financeira de 2011, que abalou todas as principais economias do planeta, todo mundo ficou em compasso de espera. “Foram quase dois anos segurando investimentos. Mas hoje, o setor encara a retomada das encomendas com os mesmos gargalos de antes: falta de mão de obra qualificada, altos impostos, problemas com fornecedores e de infraestrutura, dentre outras questões”, diz Rodrigo Ferro.
A Leverfort, especializada em barcos de alumínio, sempre mantém uma equipe de técnicos qualificados e preparada para quando há uma retomada no número de encomendas de embarcações, após períodos de baixa demanda. “Como todos no setor, sentimos os efeitos do desaquecimento do mercado, principalmente pela Petrobras ter segurado os negócios. Mas sempre atualizamos os funcionários com treinamentos e qualificação”, explica o diretor da empresa, Luis Celso da Silva. Para o setor de apoio offshore, a empresa fabrica supply boats e workboats, embarcações de trabalho para resposta a emergências, que também transportam carga geral e funcionários e tracionam barreiras de contenção de óleo.
Silva não abre números de faturamento e de encomendas, mas vê ótimas perspectivas para o mercado nos próximos anos. “Estamos com vários negócios em andamento e esperamos fechar alguns novos contratos ainda em 2013.”
No ano passado, a idade média da frota de embarcações de apoio do país registrou a primeira alta após três anos de queda consecutiva: 13,8 anos, 5,3% maior que o de 2011, mas 21,6% menor que os 17,6 anos de 2009. Apesar de parecer ser um dado preocupante, a Antaq diz que a frota brasileira de apoio marítimo possui a menor idade média dentre todas as modalidades de navegação no país e é a que mais tem se renovado no Brasil, devido justamente ao Prorefam.
De olho no mercado de barcos de apoio marítimo, a Oceana Navegação foi fundada em 2012 e iniciou a construção de uma planta em Itajaí (SC) no mesmo ano. O estaleiro de mesmo nome inicia suas atividades construindo para o próprio grupo. “O nosso plano é cortar em setembro o primeiro aço da primeira embarcação que vamos construir, um PSV 4.500, que vai dar partida ao estaleiro. Vamos construir mesmo sem nenhum contrato. Com esse navio, queremos participar da 5ª rodada de licitações de encomendas da Petrobras”, explica o diretor presidente da Oceana, Divalmir (Jimmy) de Souza.
O estaleiro está dimensionado para construir uma embarcação de até 120 metros de comprimento, que cobre toda a gama possível de embarcações offshore, incluindo WSVs (Well Stimulation Vessels) e RSVs (Research and Supply Vessels). O PSV que a Oceana está construindo tem 89 metros. “Nosso plano de negócios não é operar em cabotagem, mas apenas em apoio marítimo, porque percebemos uma oportunidade muito grande no setor”, diz. Quando o estaleiro ficar pronto, terá capacidade de entregar até quatro PSVs por ano e três AHTS, transporte mais complexo de se construir e operar e com maior valor agregado.
O diretor executivo da Wilson, Sons UltraTug Offshore, Gustavo Machado, aponta que o PSV 3000 é o mais comum nas operações da Petrobras na Bacia de Campos, de Santos e no Nordeste. “Hoje é comum em outros países os PSVs 5000 e 5500, com grande capacidade de transporte de carga. Mas, por algum motivo, a companhia prefere, por enquanto, operar os PSVs 4500. Por isso, esse é o tipo de embarcação que pretendemos focar nos próximos anos”.
Ele explica que, por conta de particularidades dos portos nacionais, a estatal brasileira faz algumas exigências aos estaleiros que estão construindo os navios. “Isso ocorre principalmente com navios fluideiros, destinados a transportar fluidos de perfuração, como petróleo, por exemplo. Às vezes fazemos projetos de embarcações especificamente para a Petrobras. Outras vezes, temos que fazer apenas algumas adaptações do projeto original às determinações da companhia”.
Este ano, a Wilson, Sons UltraTug Offshore entregou, por afretamento, dois PSVs 4500 à Petrobras, um em março e outro em setembro, e deverá entregar mais três até o início de fevereiro de 2014.
O diretor executivo da Wilson, Sons Estaleiros, Adalberto Luiz Renaux, destaca que o estaleiro tem espaço para crescer, pela elevada utilização de embarcações estrangeiras hoje no país. Hoje o braço de navegação do Grupo Grupo Wilson, Sons tem 16 navios próprios atuando com apoio marítimo.
Para atuar mais fortemente no mercado interno de apoio marítimo, o grupo Wilson, Sons inaugurou em abril a segunda unidade da Wilson, Sons Estaleiros, no Guarujá (SP). Fruto de um investimento de US$ 60 milhões, o novo estaleiro — batizado Guarujá II — dobrou a
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